domingo, 29 de abril de 2012

Segundicídio


Imagem: Internet
     Ano passado, o Sete Ramos publicou, em homenagem ao 1° de maio, um artigo onde se lia:

     "Neste dia primeiro de maio celebra-se em todo o mundo o dia do Trabalho - em que ninguém trabalha, mesmo quando não cai num domingo, como acontece neste ano, para frustração dos adoradores e prosélitos de feriadões. Estes prefeririam que fosse na segunda, ou melhor ainda, na terça, o que lhes permitiria exercer o sacrossanto e já institucionalizado direito do enforcamento".
     Bem, este ano, ao contrário do anterior, o Dia Internacional de Não Fazer Nada - chamado carinhosamente pelos Adoradores do Ócio "Dia do Trabalho" - cai numa terça. Alvíssaras! Além de não interferir nas sagradas horas do descanso divino, ainda nos proporciona o inefável prazer de praticar o mais popular esporte nacional, o segundicídio, via enforcamento do mais odiado dia da semana. Doce vingança...

     E vou parando por aqui. Já trabalhei demais neste feriadão.
     Bom ócio, amigos. Fui...

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Poema do tempo reencontrado

     Um bate-papo no MSN pode render um bom poema, dependendo da fonte de inspiração. Desta vez - ou mais uma vez - foi a Denise, com sua alegria e entusiasmo pelo sentimento de novas e iminentes realizações. Isso deve ser contagioso...
Perséfone (Internet)
Há mundos, poetisa minha,
Que existem intocados
Mas só por nós visitados.
Neblinas.

Mundos que estão escondidos,
Feitos de espaços perdidos,
Pó de tempos esquecidos.
Sombras.

São lembranças esmaecidas,
Memórias mal revividas,
Fotos amarelecidas.
Saudades.

São céus verdes como mares,
Nuvens azuis pelos ares,
Frutos brancos nos pomares.
Loucuras.

Lá onde o tempo se finda
O espaço nasce ainda
Na espera de tua vinda.
Poesias.

Lá eu me deito em teu colo,
Lá eu me planto em teu solo,
Lá eu bebo tua paz.
Sonhos.

Existem lá mil verdades,
Enganos, versos tristonhos,
Neblinas, sombras, saudades,
Loucuras, poesias, sonhos.

E nesse tempo imanente,
Perdido e reencontrado,
Tu viverás teu presente,
Teu futuro e teu passado.

Niterói, abril de 2012
Rodolfo Barcellos

domingo, 22 de abril de 2012

Crônica do tempo esquecido

     Durante alguns anos de minha meninice minha família residiu em Barbacena - MG, onde meu tio José prestava ocasionalmente seus serviços de clínico geral ao Manicômio que lá existia. Algumas recordações da época me assaltam de vez em quando; e uma delas é a agressão que sofri por parte de uma louca, supostamente inofensiva, quando voltava a pé da escola.
     O episódio rendeu-me algumas contusões, um corte no lábio e uma cicatriz na alma. E quase sessenta anos depois rendeu também esta pequena crônica.
Imagem: monteolimpoblog.blogspot.com
     O tempo que nunca existiu não deixou saudades. Os sonhos nasceram mortos e foram enterrados no sopé da colina azul. O vento aqui não sopra. Nuvens imóveis escondem um sol negro, e os segundos estão esculpidos na face cinzenta e fria da eternidade.
     O crepúsculo não chegará. Não há flores ou frutos. Não há ódio, pois não há amor. Não há tristeza, pois não há alegria. Não há morte... não há vida. E nos mares sombrios desse tempo inexistente vagueia sem rumo a nau do esquecimento, sobrecarregada de pesados nadas. Naufrágio eterno de um espectro que se perdeu de si mesmo.
     Os olhos cegos do timoneiro desmemoriado estão abertos e fixos num horizonte vazio. Em sua boca mora o sussurro rouco de uma canção sem palavras, que ecoa surdamente no cavername dos porões inundados.
     A bússola gira loucamente, em busca de um Norte que não existe. Pendem das vergas farrapos cansados, retalhos imóveis sob o peso do silêncio. E o tempo está congelado em ondas perpétuas de escuridão.
     Loucura.


Abril de 2012
Rodolfo Barcellos

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Novas trovas

     Parabéns aos meus caros sobrinhos Rafaello e Enrico, separados nos anos e no jeito de ser, mas gêmeos no dia e na amizade mútua, que celebram neste 21 de abril, Dia de Tiradentes, mais dois anos de vida - um para cada. E por falar em Tiradentes...
*   *   *   *   *

     Não pretendo alimentar a polêmica entre criacionistas e evolucionistas. Ambos os lados apresentam argumentos incapazes de convencer o outro lado, porque baseados em premissas opostas e incompatíveis. E acho que discutir pelo simples prazer de discutir pode ser um exercício intelectual ou espiritual estimulante, mas também inócuo. A não ser pela impressão causada em espíritos e intelectos jovens, em formação, cujas reações são impossíveis de prever.
     O fato é que nenhum de nós se considera fazendo parte de um grupo cujos valores pretende transcender. Tiradentes e seus inconfidentes eram, legalmente, súditos da coroa portuguesa. Você acha que eles se consideravam assim?
     Somos todos seres humanos. Nossa origem é uma só. Essa é a verdade que importa. Se o barro de que somos feitos foi moldado por um ente superior ou pelas forças cegas das leis naturais é assunto que não cabe aqui. Mas há entre nós os que se satisfazem em ser barro e aqueles que buscam transcender essa condição. Mahathma Gandhi. Tereza de Calcutá. E tantos outros que se recusaram a escravizar-se aos instintos que herdamos do barro que nos formou.
     Sim, sou barro. Mas as mãos que me moldaram conferiram-me a consciência de ser barro, e a vontade de ser algo mais. Sou um ser humano. Chimpanzés não se preocupam com o destino das baleias; eu, sim.

*   *   *   *   *
     Amigos, com estas completo meia centena de trovas - quase todas inspiradas por vocês, quase todas escritas como comentários a suas postagens de março. A todos, minha homenagem.
Rodolfo Barcellos
50
São perfumes de Flor bela
Navegando a todo pano
Num sonho de caravela
No azul do oceano.
49
A mim, palavras! Urgente!
De vós hoje hei carência
Para cantar, reverente,
Toda a tua eloquência!
48
Nesta vida de achismo
Eu sempre me darei bem
Mas de vez em quando eu cismo
Que isso é achismo também...
47
Nesta poesia nova
Tu me tocaste tão bem
Que me inspiraste esta trova
Para tocar-te também.
46
Esperarei ansioso
E enquanto o tempo não passa
Este ambiente gostoso
Fica um pouco sem Graça...
45
Quando o passado e o futuro
Se mesclam completamente
É esse o amor mais puro,
É esse o amor presente!
44
Quando estrelas são pavios
Os corações sentem mais
Emoções em arrepios
Nos teus versos musicais...
43
Mas te amo de amor feinho
Neste teu jeito de ser
E deixo-te este carinho
Pra você não me esquecer...
42
Dos anjos que me esperam
Há um que, mesmo cansado,
Não dorme; seus olhos velam.
Seu nome: Amor Acordado.
41
Entre risos e folias
Quase sofri um infarto;
E o fogo que ardeu três dias
Só deixou cinzas no quarto...


Niterói, abril de 2012
Rodolfo Barcellos

quarta-feira, 18 de abril de 2012

SELVA!

     Antes de homenagear os mais brasileiros dos brasileiros, cujo dia transcorre amanhã, quero deixar aqui meu abraço a meu irmão Marcos, que completa também amanhã um número mágico de anos - e mais um. Se você elevar dois à segunda potência, multiplicar o resultado por dois e elevar tudo de novo à segunda potência, obterá um número sagrado na representação binária, cultuado pelos adoradores  do universo digital, base dos mais modernos sistemas computacionais. Some UM - o símbolo universal da união fraternal - e saberá sua idade.


Meu irmão, meu grande amigo,
Neste número binário
Com complemento unitário,
Quero festejar contigo
Teu FELIZ ANIVERSÁRIO!


     Parabéns, mano. Feliz aniversário junto a essa tua família abençoada.
        Nota: para os preguiçosos ou avessos aos cálculos, informo que ele nasceu em 1947.
*   *   *   *   *
HOMENAGEM AO ÍNDIO BRASILEIRO
     Três atiradores comandados por um cabo formam uma esquadra. Duas esquadras sob as ordens de um sargento compõem um grupo de combate. Um pelotão é formado por três grupos de combate e mais um grupo de apoio, que se encarrega do municiamento, das armas pesadas, dos socorros médicos, da coordenação tática etc.
     Perfilados, os soldados aguardam em posição de sentido,  sob o sol inclemente do meio-dia. São homens de traços asiáticos - estatura mediana, pele bronzeada, olhos amendoados, maçãs do rosto salientes e cabelo negro e liso.
     No microfone, a palavra de ordem do capitão:
     - Soldado Souza, etnia tucano!
     Um rapaz da primeira fila dá um passo adiante, resoluto, fuzil no ombro, e profere a oração do guerreiro da selva, no idioma natal. No fim, o grito de guerra dos pelotões da fronteira: SELVA!
     O segundo a repetir o ritual é um soldado da etnia desana. Seguem-se um baniua, um curipaco, um cubeu, um ianomâmi, um tariano e um hupda - cada um recitando a oração na sua língua natal, e sempre finalizando-a com o grito "SELVA!". Depois, o pelotão inteiro canta o Hino Nacional em português, a plenos pulmões.
     Ouvir aqueles indígenas, de algumas das 22 etnias que habitam o extremo noroeste da Amazônia brasileira, cantando nosso hino no meio da floresta, trouxe-me à flor da pele sentimentos de brasilidade que eu julgava esquecidos.
     Os Pelotões Especiais de Fronteira do Exército Brasileiro recrutam seus soldados nas comunidades das redondezas. O motivo é simples: o soldado do sul pode ser mais preparado intelectualmente, mas na selva ninguém se iguala ao indígena. E é na selva que a luta contra a exploração ilegal, o narcotráfico e a guerrilha que dele se alimenta assume aspectos insuspeitados por quase todos.
     A Cabeça do Cachorro é a região que jaz no extremo noroeste da Amazônia brasileira. Recebeu esse nome devido ao desenho formado pela linha fronteiriça. Para lá chegar é preciso ir a Manaus, viajar 1.146 quilômetros Rio Negro acima, até São Gabriel da Cachoeira, a maior cidade indígena do país. De lá, até as fronteiras com a Colômbia e a Venezuela, pelos rios Uaupés, Tiquié, Içana, Cauaburi e uma infinidade de rios menores, só Deus sabe.
     A duração da viagem depende das chuvas, das corredeiras e da época do ano, porque na bacia do Rio Negro o nível das águas pode subir mais de dez metros entre a vazante e o pico da cheia.
     É um Brasil perdido no meio das florestas mais preservadas da Amazônia. Não fosse a presença militar, seria uma região entregue à própria sorte. Ou, pior, à sorte alheia.
     O Comando dos Pelotões de Fronteira está sediado em São Gabriel. De lá partem as provisões e o apoio logístico para as unidades construídas à beira dos principais rios fronteiriços: Pari-Cachoeira, Iauaretê, Querari, Tunuí-Cachoeira, São Joaquim, Maturacá e Cucuí.
     Na entrada dos quartéis, uma placa dá idéia do esforço para construí-los naquele ermo: "Da primeira tábua ao último prego, todo material empregado nessas instalações foi transportado nas asas da FAB."
     Os pelotões atraem as populações indígenas de cada rio à beira do qual foram instalados, por causa da escola para as crianças e porque em suas imediações circula o bem mais raro da região: salário.
     Para os militares e suas famílias, os indígenas conseguem vender algum artesanato, trocar farinha e frutas por gêneros de primeira necessidade, produtos de higiene e peças de vestuário.
     No quartel existe possibilidade de acesso à assistência médica, ao dentista, à internet e aos aviões da FAB, em caso de acidente ou doença grave.
     Cada pelotão é chefiado por um tenente com menos de 30 anos, que além de exercer o papel de comandante militar assume as funções de prefeito, juiz de paz, delegado, gestor de assistência médico-odontológica, administrador do programa de inclusão digital e o que mais for necessário assumir nas comunidades das imediações, esquecidas pelas autoridades federais, estaduais e municipais.
     Tais serviços, de responsabilidade de outros ministérios e de secretarias locais, são prestados pelas Forças Armadas sem qualquer dotação orçamentária suplementar.
     Os quartéis são de um despojamento espartano. As dificuldades de abastecimento, os atrasos dos vôos causados por adversidades climáticas e avarias técnicas e o orçamento minguado das Forças Armadas tornam o dia-a-dia dos que vivem em pleno isolamento um ato de resistência permanente.
     Esses militares anônimos, mal pagos, são os únicos responsáveis pela defesa dos limites de uma região conturbada pela proximidade das FARC e pelas rotas do narcotráfico. Não estivessem lá, quem estaria?
Oração do soldado da Amazônia:
"Senhor, vós que ordenastes ao guerreiro da Selva sobrepujar todos os vossos oponentes, dai-nos hoje da floresta, a sobriedade para resistir, a paciência para emboscar, a perseverança para sobreviver, a astúcia para dissimular, a fé para resistir e vencer. Dai-nos também, Senhor, a esperança e a certeza do retorno; mas se, defendendo essa brasileira Amazônia, tivermos que perecer, oh Deus, que o façamos com dignidade e mereçamos a vitória. SELVA!"


     Esse texto, em sua forma original, é de autoria de DRAUZIO VARELLA e foi-me enviado, em 13 de janeiro, por meu primo PAULO SETTE CÂMARA, que mora em Belém - o portal da Amazônia. Editei-lhe alguns trechos e enxertei-lhe outros, mas não lhe alterei a substância. O artigo original pode ser conferido em
http://clubegeo.blogspot.com/2011/07/exercito-na-amazonia-drauzio-varella.html

sábado, 14 de abril de 2012

Liríadas

     Todos os anos, de 15 a 30 de abril, acontecem as "Liríadas". Não, não é um conclave de poesia. É uma bela chuva de meteoros, ou estrelas cadentes, que se irradia pelo céu a partir da constelação da Lira.
     A Terra, no seu caminho ao redor do Sol, cruza muitas vezes as órbitas de antigos cometas esfacelados, cujos restos despedaçados continuam teimosamente a seguir a órbita primitiva como um rastro de milhões de fragmentos. E quando esses fragmentos penetram na atmosfera terrestre, desintegram-se num risco luminoso - a popular "estrela cadente".
     O máximo de atividade das Liríadas está previsto para as 01:54 da madrugada (hora de Brasília) de 21 para 22 de abril, mas haverá ocorrências durante todo o período indicado. O fenômeno é facilmente observável a olho nu. Os melhores pontos de observação, no Brasil, ficam nas regiões Norte e Nordeste, onde o horizonte a nordeste (45 graus à esquerda do ponto onde o sol nasce) esteja desobstruído. A melhor referência é a estrela Vega - a mais brilhante da Lira e dessa região do céu. E a melhor hora de observação é entre meia-noite e quatro da madrugada - período em que Lira está mais alta no céu.
Mapa celeste, em Arapiraca - AL, às duas da madrugada de 21 para 22, na direção nordeste.
No círculo, a constelação da Lira - centro de irradiação da chuva de meteoros.
     Vega é uma palavra de origem árabe e significa "águia mergulhando". Deneb, no Cisne, e Altair, na Águia, nas proximidades, são menos brilhantes.
     A chuva não influenciará eventos de importância transcendental, como prognósticos eleitorais, IBOPE do Luan, indicadores macroeconômicos, resultados do futebol ou da mega-sena, ou o paredão do BBB, mas quem gosta desses malabarismos da natureza poderá preferir olhar para o céu a ficar assistindo às mesmices das telas de TV - se as nuvens não atrapalharem.
     Em outros locais do Brasil a chuva acontecerá mais próxima do horizonte a nordeste. Como não teremos a lua no céu, talvez se possa acompanhar bem o espetáculo. Formulem seus desejos.
     Outra chuva importante terá seu pico em maio, irradiando-se da estrela Eta do Aquário; mas ocorrerá principalmente durante o dia, o que inviabiliza sua observação sem instrumentos especiais.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A flor e o vento

     Às vezes me pego pensando no simbolismo dos temas recorrentes na poesia - os preferidos por poetas e poetisas em suas metáforas. E a flor e o vento figuram aí com destaque, isoladamente ou em conjunto.
     Não é de admirar. O vento age como vetor na fecundação de diversas plantas, as chamadas "anemófilas", transportando o pólen das flores masculinas até às femininas.  Como a perda por dispersão é imensa, as flores masculinas, perdulárias, produzem pólen às toneladas, que se espalha na atmosfera, causando-nos as desagradáveis alergias de primavera.
     Mas não é só o pólen fecundante que é levado por esse meio. Muitas plantas, após produzirem seus frutos, confiam ao vento sua progênie sob a forma de sementes voadoras, desde os grandes "pterocarpos" em forma de hélices até as delicadas penugens do dente-de-leão.
     O paralelismo com a poesia é óbvio. Além das conotações puramente românticas há o simbolismo da dispersão de versos que inspirarão novos poemas - não se sabe onde nem quando.
Sementes de Dente-de-Leão sendo levadas pelo vento. Origem: Internet
     Um poema desses de flor e de vento tocou-me especialmente. Em fins de dezembro do ano passado ela mandou-me, num comentário, esta belíssima mensagem de ano novo:

Querido amigo,

MENSAGEM PARA O VENTO

Enquanto tu fores vento,
quero ser a flor
para que despenteies minhas pétalas,
quero ser folha para dançar contigo
nas calçadas,
quero ser nuvem para construir os teus castelos,
quero ser brisa perfumada
a sonhar o teu sonho no invisível.

Carinhosamente desejando Feliz 2012, Mellíss.
28 de dezembro de 2011 15:44  

     Bem, essa poetisa de Santos celebraria em setembro vindouro mais um ano de Guerra. Literalmente. Pois seu nome é Fátima Guerra, e ela vinha lutando bravamente contra o enfraquecimento de sua visão, entre outras batalhas. Mas continuava espalhando seus versos por aí. E eles deram filhotes, sim...

PARA MELLÍSS

Fui-te árvore um dia
Depois vento me tornei
Para a flor que me queria
Tudo o que queiras serei.

Foste-me na poesia
Brisa, nuvem, folha e flor;
Hoje me és trilogia:
És Fé, Esperança, Amor!

     Ah, Mellíss. Lembro que um outro poeta lutou contra esse mesmo inimigo seu, e embora houvesse perdido a visão não perdeu a luta. Você sabe de quem estou falando. Seu nome é Homero.
     E você hoje está ao lado dele. Saudades. Saudades...
*   *   *   *   *
     Para os amigos que não me viram, ou queiram rever-me como árvore, deixo aqui o link para a homenagem que lhe prestei um ano atrás.
Niterói, abril de 2012
(inicialmente programada para setembro, no aniversário da Mellíss)
Rodolfo Barcellos.

domingo, 8 de abril de 2012

Outras trovas

     Pretendo continuar postando esses comentários em forma de trovas, a cada dois domingos ou à medida em que forem formando pequenos grupos de 10 ou 12. Optei por numerá-las, para futuras referências. E nunca é demais ressaltar que a inspiração para compô-las me veio exclusivamente dos textos dos amigos.


40
Se tu vais de Colombina
Cresce uma dúvida em mim:
Saio de Pierrô, menina,
Ou me visto de Arlequim?
39
Vejo-te numa redoma
E meu coração já pensa:
Se a saudade é teu sintoma,
Quero ser tua doença...
38
Não sei quem roubou de quem
O azul - o céu ou o mar?
Mas tem por certo, meu bem:
Os dois te querem amar...
37
Em cada canto que passo
Neste mundo virtual
Encontro mais um pedaço
De uma amizade real.
36
Quando as palavras me somem
Já sei que estão por aqui;
Porque todas elas comem
Nas mãos inquietas da Mi...
35
Achei um dia bastante
Crer num Deus assado e assim;
Hoje me é mais importante
Que Ele acredite em mim.
34
Para um teste de som
Vamos fazer uma prova:
Junto ao meu ouvido bom
Leia em sussurro esta trova...
33
O amor é uma arte,
É mais que simples miragem.
Como eu poderia amar-te
Se tu fosses minha imagem?
32
Em todo e qualquer instante,
Nessa gruta consagrada,
Somente a um celebrante
Será franqueada a entrada.
31
Em busca dos teus apelos
Meus dedos se embrenharão
Na selva dos teu cabelos
E eles lá se perderão.

Niterói, abril de 2012
Rodolfo Barcellos

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Glória

Irene Alves disse...
A nossa querida Glorinha de Lion partiu. Estou profundamente triste. Não sei se já sabia.
Paz à sua alma.
Bj.
Irene
5 de abril de 2012 17:41  


Não, Irene, eu não sabia. Obrigado por avisar. Eu a conheci através da Regina Rozembaum, e posteriormente compareci ao lançamento do seu livro, aqui em Niterói, mas depois perdemos o contato. Sabia de sua luta e respeitei seu pedido de privacidade.
Transcrevo a seguir duas matérias que publiquei aqui, logo após conhecê-la pessoalmente: 
*   *   *   *   *
     Ontem, tive o prazer imenso de conhecer de abraço abraçado, de beijo beijado, de olho no olho, de papo falado, a Glorinha - que já me conquistara nos amplexos, ósculos, vislumbres e colóquios internéticos. E ela vendeu a mim, por trinta dinheiros, um pedacinho de sua alma.
     Nunca fiz melhor negócio... e nem precisei barganhar! E, tendo folheado o "Na esquina da vida" e lido sofregamente os primeiros capítulos (o velho Morfeu fez valer ontem seus direitos), aconteceu o inevitável: os versos vieram dançar nos meus sonhos... e só há um jeito de acalmá-los (não é, Glorinha?): escrevê-los.


No auto-retrato de uma alma nua
Na esquina da vida, sorrindo pra mim,
Vinte e oito mulheres desfilam na rua.
Haverá outras mais? Por certo que sim.

Poetisa da vida, pastora de sonhos,
Já nunca o espelho irá te mentir;
Jamais os enganos te serão tamanhos
Venham do passado ou mostrem o porvir.

Glória! Glória à mulher que se completa
E vaza em letras o estro feminil,
Resplandecendo viva em tua vitória;

Recebe agora o preito do poeta:
Quisera já que esses versos fossem mil,
Em cantos meus a ti, Glória! Glória! Glória!


     Para conhecer melhor a Glorinha (e seu livro) acesse o link Café com Bolo e Glorinha.
     PS: Rê e Si, vocês são agora proprietárias de pedacinhos da alma da Glorinha, que estão sob minha custódia, devidamente autografados. Serão entregues / remetidos o mais breve possível. Abraços.
*   *   *   *   *
- Segunda-feira, seis de junho, onze e dez da manhã de um belo dia de outono. Acabo, minha já muito querida amiga, de caminhar o último dos 160 passos que me levaram, conduzido pela tua mão, a dobrar uma esquina - a mesma que eu dobrei já lá vão quinze anos, meio atabalhoadamente, sem perceber quão relevante é a arquitetura de seus prédios para os olhos femininos (se bem que minha saudosa Maria Helena já havia me mostrado algumas das belezas dela).
- Sim, sou hoje um homem mais sábio do que aquele de três dias atrás, no que se refere ao fascinante universo feminino. Mas reconheço, humildemente, que nunca o compreenderei completamente (e nem sei se quero - acho que o fascínio se apagaria).
- Por algum motivo, meu marcador de livro se recusou a sair da página 139, onde Nereida coloca os poetas no memo balaio ocupado por hippies loucos e destrambelhados e cultores do Tarô. Não que este poeta menor se ressinta de tão criativa companhia, pelo contrário... mas senti a falta de outros artistas - escultores, pintores, músicos arquitetos e - porque não dizer? - escritores e escritoras.
- Você me pergunta sobre minha disponibilidade para contatos telefônicos. Sinta-se à vontade para ligar quando quiser. Se possível, evite horários além das 21 horas, e às segundas a partir das 17h.
- Grande amplexo internético, e até o próximo abraço abraçado.
- Ah, e beijos, claro!
*   *   *   *   *
Fique, Glória, na Glória Dele.