terça-feira, 29 de maio de 2012

Bia, 31 de maio

     No último dia deste mês de maio, com ou sem bolo, velas ou festa, haverá mais alegria aqui em casa. Ela é mais que uma musa. É minha filha.
Bia
Quando colhes outra flor, minha querida,
E a colocas junto às outras, perfumadas,
Que já cantam os teus anos, encantadas,
 Todas filhas dos jardins de tua vida,

Quando os votos de feliz aniversário
Te apresentam os amigos e amigas,
Aplaudindo entre risos e cantigas
A conquista deste marco miliário,

Crê, querida, que estes versos que a ti faço,
Levam junto o terno beijo e o quente abraço
De quem te ama desde que eras menininha.

São palavras de alguém que te ama tanto
Que não cabe já no coração o encanto
Que cativa-me ao ver-te, filha minha!
*   *   *   *   *
     "É para teu luxo a teia que os poetas fabricam com o fio de ouro das imagens; e os pintores o que fazem é criar para tua formosura nova imortalidade.
     Para adornar-te, para vestir-te, para fazer-te mais preciosa, o mar dá as suas pérolas, a terra o seu ouro, os jardins suas flores.
     Sobre a tua mocidade o desejo do coração dos homens derramou a sua glória."
     (Rabindranat Tagore, por Malba Tahan, in "O Homem que Calculava".)


     Feliz aniversário, minha filha... minha menininha. Seja este dia o início de mais um trecho de tua caminhada, um trecho repleto de realizações e alegrias. Beijos.


Niterói, maio de 2012
Rodolfo Barcellos

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Dia do Ceramista

Cibele Nakamura
     Neste dia 28 de maio celebra-se o Dia do Ceramista. Uma das mais antigas técnicas artesanais conhecidas, por tijolos, telhas e vasilhas (há restos para os quais a datação acusa incríveis 24500 anos de idade), rompe hoje fronteiras tecnológicas e produz desde revestimentos térmicos para naves espaciais até supercondutores não-criogênicos. Mas é nas faianças do antigo Egito, na porcelana oriental e na cerâmica artística em geral que a arte alcançou o prestígio universal que ostenta hoje.
     Entre tantos artistas, escolhi alguns mais presentes no nosso círculo da blogosfera para ilustrar esta homenagem, além de algumas obras representativas da evolução da arte. Faltaram aqui muitos mestres, incursionistas ocasionais como Vino Morais, principiantes como Ana Letícia e tantos outros... a todos, minha profunda admiração. Criar arte a partir do barro é coisa para deuses.

Deuses do Barro
Dôra Barcellos
Água e terra, fogo e ar
Ao toque de tua mão
Nova forma irão ganhar
Nascida em teu coração.
Acácia Azevedo
Ao barro infundes vida
A exemplo do Criador
Dando à tua obra querida
O sopro do teu amor.
Ma Ferreira
Tua arte é escultura
É sinfonia, é pintura
De poesia repleta.
Arte Marajoara
No Dia do Ceramista
Recebe, oleiro-artista
O preito deste poeta.
Escrita cuneiforme em cerâmica
Niterói, maio de 2012
Rodolfo Barcellos


A poderosa Mandala Tricolor, criação da Ma Ferreira, entre
 os muitos presentes recebidos de amigos "blogueiros".
     PS: Ma, aquela mandala tricolor é poderosa... meu Fluminense tem se dado bem desde que você me presenteou com ela. Mas parece que algum torcedor do Boca Juniors teve a mesma ideia...
     Não faz mal... ela permanecerá em seu lugar de destaque entre os presentes recebidos. E bola pra frente, que tem mais troféus pra gente!

terça-feira, 22 de maio de 2012

Sete sete-setes, I

     A generosidade com que os amigos vêm recebendo minhas trovinhas me encorajou a compilar também minhas setilhas em redondilhas maiores, que eu gosto de chamar de sete-setes. Algumas foram adaptadas a partir de estrofes menores e outras  encontraram lugar num 777 mais elaborado. A maioria, como sempre, nasceu em comentários a postagens inspiradoras dos amigos. E resolvi enfeixá-las em ramalhetes de sete setilhas, embora não tenham a unidade temática de um 777. Espero que gostem.
"O chá" - Óleo sobre tela - Maria Helena
I.7- Carla, 14/11/11
Se não me falha o bestunto,
Em um texto bem cuidado
"Separado" é tudo junto,
"Tudo junto" é separado.
E pra fechar o assunto:
Lindas fotos, no conjunto!
Um beijo, Amor Acordado...


I.6- Marcia, 12/11/11
Se quiseres, bela rosa,
Serei o teu jardineiro;
Não haverá mais formosa
Que te dispute o canteiro.
Serás sempre a preciosa,
Perfumada e perfumosa,
Florirás o ano inteiro.


I.5- Andréya, 11/11/11
Teu "estar" é o "ser" da hora,
Pois depois outro será;
Teu "haver" é o "ter" de agora,
Amanhã - que haverá?
Sejas pedra, estejas água,
Tenhas risos, hajas mágoa,
Alguém sempre te amará!


I.4- Carla, 02/11/11
Há um ditado que manda:
Diga com quem você anda
Que eu digo quem você é;
Se é com Carla Fernanda
Você é gente de fé.
E a gente aplaude de pé
Quem faz parte dessa banda!


I.3- Cecília, 31/10/11
Sonho azul, que à clausura
Entregaste o coração,
Deixa tua alma pura
Em silêncio e solidão
Na sua cela segura
Até que ela alcance a cura,
E liberta-a, então.


I.2- Sandra, 30/10/11
Se só com som e image
Já basta pra viciar,
Magina tu na postage
Cheiro, tato, paladar!
Vai ter tanta sacanage,
Hômi vai fazer bobage,
Muié vai engravidar...


I.1- Carla, 30/10/11
Conheço duas estrelas
Que luzem mais que Antares;
Até de dia são belas,
Brilham como luminares,
Luzem como aquarelas;
Porém tu só irás vê-las
Quando ao espelho te olhares.


Niterói, maio de 2012
Rodolfo Barcellos

PS: Para maiores detalhes sobre a forma sete-sete-sete, clique em http://seteramos.blogspot.com.br/2011/11/777.html
ou digite "777" na janelinha de pesquisa no cabeçalho deste Blog. Outra forma, que dá acesso a diversas postagens sobre o tema, é clicar no marcador "777", logo aí em baixo.

sábado, 19 de maio de 2012

Trovas de verão

     Trovas feitas no início de março de 2012, em comentários às postagens dos amigos.
Imagem gentilmente roubada da Milene
70- Milene, 5/3
Esse lindo amor feinho
Entre um lápis e uma folha
É como garrafa de vinho;
Só lhe falta o saca-rolha...

69- Milene, 5/3
Logo o vinho irá jorrar
Em vermelhos borbotões
Voltando a embriagar
Os sedentos corações.

68- Sandra, 5/3
Quem nas nuvens sabe ver
Sonhos, mais que gotas d'água,
Muitos momentos vai ter
Mais de risos que de mágoa.

67- Isa, 5/3
Pra quebrar monotonia
Tudo o que se precisa
No domingo - ou qualquer dia -
É ler os versos da Isa...

66- Marilene, 4/3
Teu coração namorado
Ouviu o segredo do vento
E a partir desse MOMENTO
Tornou-se FRAGMENTADO...

65- Marilene, 4/3
Os teus versos, poetisa
Sempre inspiram os meus;
Dizer mais? Não, não precisa...
Eu amo os poemas teus!

64- Denise, 3/3
E se eu imaginar
Que te quero ver feliz
Com certeza vais ficar
Se é verdade o que se diz.

63- Carla, 2/3
Queria saber Esperanto
Pra poder te comentar;
Mas como não espero tanto
A Esperança vai esperar...

62- Marilene, 2/3
Não basta a retidão
Pra desentortar o torto;
Por melhor que seja o grão,
Não vinga em solo morto.

61- Mari Guedes, 2/3
Quando a chuva suave canta
Na vidraça da janela
Você, Mari, nos encanta
Nesta poesia bela...


Niterói, maio de 2012
Rodolfo Barcellos


PS: Parabéns, Brandina. Parabéns, Carla. Felizes aniversários neste dia 20. Aliás, roubei da Carla uns belos versinhos e encaixei-os num 77. Um plágio desavergonhado, que ofereço às aniversariantes como o namorado cara-de-pau oferece a rosa roubada do jardim da própria amada:
É bom para trás olhar
E ver quanto caminhamos,
É como experimentar
Um sabor do qual lembramos
O gostinho do infinito
Ou o mais perto do dito
Que a gente pode chegar...

E feliz aniversário também para o Mar de Pensamentos, da Marcinha - um aninho dia 22!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Isabel do Brasil

     Há gente que confunde monarquia com absolutismo, ditadura, tirania ou despotismo, considerando-a a antítese da democracia. Mas as monarquias constitucionais podem ser mais democráticas do que muitas repúblicas que nasceram tortas. O episódio que marcou, em nosso país, a mudança de um regime para o outro é um exemplo.
     A grande maioria das repúblicas nas Américas emergiu da revolta ao regime colonialista imposto por seus "donos" europeus. Mas o Brasil já tinha superado definitivamente esse patamar desde 1822. A motivação para o golpe militar foi bem outra.
*   *   *   *   *
Imagem: Wikipedia
     Dona Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon nasceu no Rio de Janeiro, em 29 de julho de 1846. Primeira na linha sucessória, recebeu desde a infância uma educação rigorosa, visando prepará-la para as responsabilidades futuras. Sua irmã Leopoldina, segunda na linha de sucessão, recebeu o mesmo tratamento. As instruções de D. Pedro II eram claras:
     "O caráter de qualquer das princesas deve ser formado tal como convém a senhoras que poderão ter que dirigir o governo constitucional de um Império como o Brasil. A instrução não deve diferir da que se dá aos homens, combinada com a do outro sexo: mas de modo que não sofra a primeira. Convirá conformar-se aos regulamentos da instrução pública primária e secundária. Poderão sofrer castigos, e quando forem leves, sem meu conhecimento prévio." 
     Os companheiros de folguedos infantis das princesas incluíam crianças negras. Esse clima liberal certamente influenciou seu futuro apoio ao movimento abolicionista.
*   *   *   *   *
Isabel e Gastão de Orléans:
Troca de noivos.
     Numa época em que interesses dinásticos e alianças políticas eram decisivos nos matrimônios de príncipes e princesas, as negociações levaram à escolha de Luís Augusto, duque de Saxe-Coburgo-Gota, para casar-se com Isabel e de Gastão de Orléans, conde d'Eu, para Leopoldina. Eram sobrinhos-netos do rei Leopoldo I da Bélgica e sobrinhos de D. Fernando II de Portugal, além de primos da rainha Vitória da Inglaterra.
     Mas aconteceu o imprevisível: quando os dois jovens vieram ao Brasil, cada um se encantou com a prometida do outro, o mesmo acontecendo com as princesas. Estas pediram aos pais que a troca fosse realizada, obtendo o consentimento imediato. Em 18 de setembro de 1864 o príncipe Gastão de Orléans pediu a mão da Princesa Imperial do Brasil.
*   *   *   *   *
     Isabel dava grande importância à educação pública. Na Fala do Trono de 1º de fevereiro de 1877, quando Regente, disse:
     "A instrução pública continua a merecer do governo a maior solicitude. Foram criadas no município da corte escolas de segundo grau, e as normais, destinadas a preparar professores para o ensino primário de ambos os sexos, terão de ser brevemente inauguradas. Nas províncias este ramo de serviço apresenta sensível progresso, limitado, porém pela falta de meios de que podem dispor. Se os melhoramentos materiais por elas empreendidas têm recebido vosso auxílio, justificada será qualquer despesa que autorizeis para coadjuvar esse grande elemento de civilização."
     Desde o início, a princesa uniu-se aos partidários da abolição da escravatura, mesmo quando simpatizantes do movimento republicano. Financiava com meios próprios a alforria de escravos e apoiava a comunidade abolicionista conhecida como Quilombo do Leblon, em cuja chácara se cultivavam camélias brancas, símbolo do abolicionismo. Também costumava asilar fugitivos em sua residência em Petrópolis. Nas anotações de André Rebouças, tesoureiro do movimento abolicionista, consta que no dia 4 de maio de 1888, “almoçaram no Palácio Imperial 14 africanos fugidos das Fazendas circunvizinhas de Petrópolis”. Às vésperas da abolição os fugitivos acolhidos pela princesa já ultrapassavam o milhar.
*   *   *   *   *
     Quando Isabel assumiu a regência pela terceira vez, em 1887, o clima era tenso. Os poderosos fazendeiros escravocratas manipulavam na imprensa a opinião pública, lançando dúvidas sobre a capacidade de uma mulher para governar o país e alegando que a abolição seria a bancarrota do império, pois as fazendas de café e açúcar dependiam do braço escravo. Citando a Wikipedia: O negro era contado, medido e pesado e os juristas dos escravocratas criaram a tese jurídica de que o escravo era "propriedade" do senhor de engenho e, portanto, estavam sob amparo da Constituição, que garantia o "direito de propriedade".
      Na Fala do Trono de 1888, Isabel dissera: "Não hesitarei em apagar do direito pátrio a única exceção que nele figura."  O Gabinete Conservador, com o Barão de Cotegipe, defendia a manutenção da escravidão. Isabel aproveitou a brecha provocada por um incidente envolvendo partidários de ambos os lados e demitiu o ministério, nomeando o conselheiro abolicionista João Alfredo para o cargo de Chefe do Conselho de Ministros (cargo equivalente a primeiro-ministro).
     Em 13 de maio de 1888, um domingo, foi posto em votação um projeto de abolição plena (sim, pasmem! Naquela época o Congresso se reunia aos sábados e domingos quando o assunto era relevante). Isabel, confiante na aprovação, desceu de Petrópolis pronta para assinar a Lei Áurea. Seu marido advertiu: "Não assine, Isabel, pode ser o fim da Monarquia." Ela respondeu, decidida: "É agora ou nunca!" 
     Testemunha Joaquim Nabuco: "No dia em que a Princesa Imperial se decidiu ao seu grande golpe de humanidade, sabia tudo o que arriscava. A raça que ia libertar não tinha para lhe dar senão o seu sangue, e ela não o queria nunca para cimentar o trono de seu filho. A classe proprietária ameaçava passar-se toda para a República, seu pai parecia estar moribundo em Milão, era provável a mudança de reino durante a crise, e ela não hesitou..."
     A elite cafeeira não aceitaria a abolição passivamente. Cotegipe, ao cumprimentar a princesa, vaticinou sarcástico: "Vossa Alteza libertou uma raça, mas perdeu o trono". Ela retrucou altivamente: "Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar os escravos do Brasil".
     Em 28 de setembro, pouco antes do golpe republicano, Isabel recebeu do Papa Leão XIII a comenda da Rosa de Ouro, em  reconhecimento pela Abolição da Escravatura.
*   *   *   *   *
     Um ano e meio depois de testemunhar o júbilo popular com a abolição da escravatura, Isabel veria a monarquia no Brasil ser extinta. Insuflados pelos radicais positivistas, pela maçonaria e apoiados pelos fazendeiros, os militares depuseram o gabinete do Visconde de Ouro Preto e instauraram uma ditadura republicana. Ressentimentos pessoais do líder Benjamin Constant contra o monarca foram fator decisivo para deflagrar a quartelada que ensejou a proclamação da República. Os chamados "ideais republicanos", na verdade, foram meros pretextos para justificar a insurreição que mudou a forma de Governo em 1889. Não faltaram as conspirações tenebrosas: sabe-se que o major Frederico Solón espalhou o boato de que Dom Pedro II decretara a prisão de Deodoro e Benjamin Constant, notícia caluniosa que precipitou o golpe.
     Isabel, com 43 anos de idade, seguiu com sua família para o exílio, na madrugada de 17 de novembro de 1889, depois de ter sido expedida, na véspera, uma intimação pelo mesmo Frederico Solón.
     O  embarque para o exílio aconteceu numa madrugada chuvosa e de mar agitado. Dom Pedro II, doente, embarcou amparado por seu médico particular, o Dr. Mota Maia, que com ele seguiu viagem. Depois de quase meio século chegava o fim dramático de um governo próspero e pacífico. 
     Isabel chorava. O almirante Tamandaré quis opor resistência, mas Dom Pedro II proibiu qualquer reação. E o Brasil inaugurou a República fechando o Congresso, censurando a imprensa, perseguindo e banindo jornalistas e praticando outros atos de autoritarismo. Os bens da família imperial foram sumariamente confiscados. A inflação disparou e a economia entrou em crise.
*   *   *   *   *
     Dois anos depois, D. Pedro II morria em Paris e Isabel assumiu o título de Imperatriz de jure do Brasil - D. Isabel I. Citando novamente a Wikipedia:
     "Apesar da dor do exílio Dona Isabel teve uma velhice tranquila, instalada no castelo da família em Eu, na Normandia, propriedade de Gastão de Orléans (Castelo d'Eu). Rodeada pelos filhos e netos fez de sua casa uma embaixada informal do Brasil. Recebia brasileiros de passagem, ajudou o jovem Alberto Santos-Dumont quando desenvolvia suas invenções. Passou os últimos anos da vida com dificuldades de locomoção. Em 1920 teve a felicidade de saber que a lei que bania a Família Imperial do Brasil havia sido revogada pelo Presidente Epitácio Pessoa.
     Exilada, espoliada, com a saúde frágil, extremamente abalada pela morte de dois de seus filhos (Antônio, em 1918, e Luís, em 1920), a princesa Isabel faleceu em 14 de novembro de 1921, em Eu, França. Foi sepultada no cemitério local, de onde seria trasladada em 6 de julho de 1953 para um jazigo no Mausoléu Imperial da Catedral de Petrópolis."
*   *   *   *   *
     Três meses antes do advento da República, Isabel escreveu esta carta (que se encontra no Memorial Visconde de Mauá) ao Visconde de Santa Vitória:
      "11 de agosto de 1889 – Paço Isabel Corte
     Caro Snr. Visconde de Santa Victória
     Fui informada por papai que me collocou a par da intenção e do envio dos fundos de seo Banco em forma de doação como indenização aos ex-escravos libertos em 13 de Maio do anno passado, e o sigilo que o Snr. pidio ao prezidente do gabinete para não provocar maior reacção violenta dos escravocratas. Deus nos proteja si os escravocratas e os militares saibam deste nosso negócio pois seria o fim do actual governo e mesmo do Império e da caza de Bragança no Brazil. Nosso amigo Nabuco, além dos Snres. Rebouças, Patrocínio e Dantas, poderão dar auxílio a partir do dia 20 de Novembro quando as Camaras se reunirem para a posse da nova Legislatura. Com o apoio dos novos deputados e os amigos fiéis de papai no Senado será possível realizar as mudanças que sonho para o Brazil!
     Com os fundos doados pelo Snr. teremos oportunidade de collocar estes ex-escravos, agora livres, em terras suas proprias trabalhando na agricultura e na pecuária e dellas tirando seos proprios proventos. 
     Fiquei mais sentida ao saber por papai que esta doação significou mais de 2/3 da venda dos seos bens, o que demonstra o amor devotado do Snr. pelo Brazil. Deus proteja o Snr. e todo a sua família para sempre!
     Foi comovente a queda do Banco Mauá em 1878 e a forma honrada e proba porém infeliz, que o Snr. e seo estimado sócio, o grande Visconde de Mauá aceitaram a derrocada, segundo papai tecida pelos ingleses de forma desonesta e corrupta. A queda do Snr. Mauá significou huma grande derrota para o nosso Brazil!
     Mas não fiquemos mais no passado, pois o futuro nos será promissor, se os republicanos e escravocratas nos permitirem sonhar mais hum pouco. Pois as mudanças que tenho em mente como o senhor já sabe, vão além da liberação dos captivos. Quero agora dedicar-me a libertar as mulheres dos grilhões do captiveiro domestico, e isto será possível através do Sufrágio Feminino! Si a mulher pode reinar também pode votar!
     Agradeço vossa ajuda de todo meo coração e que Deos o abençoe!
     Mando minhas saudações a Madame la Vicomtesse de Santa Vitória e toda a família.
     Muito d. coração
     ISABEL"
*   *   *   *   *
     Em outubro de 2011 foi oficialmente aberto o processo de beatificação da princesa, entregue ao cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, D. Orani João Tempesta a pedido de monarquistas brasileiros. A justificativa para o pedido foi a de Isabel ter demonstrado durante toda sua vida uma profunda fé católica, além de ter sido a responsável pela libertação dos escravos no Brasil. O cardeal D. Orani prometeu levar o caso à arquidiocese de Paris, uma vez que a princesa viveu seus últimos anos na França. A Igreja investigará os testemunhos de várias pessoas que dizem ter sido curadas por orações feitas à princesa.
*   *   *   *   *
     Não julguem meus amigos e leitores que eu seja monarquista ou anti-republicano. Acho mesmo que a restauração da monarquia no Brasil seria um retrocesso político. Vamos ter que desentortar e remendar o que nasceu torto e esfarrapado. Mas não posso me furtar a fazer as seguintes indagações:
     1- Numa monarquia constitucional bem estruturada os futuros governantes são educados desde o berço para exercer seus misteres com probidade e justiça. E na República?
     2- Se a monarquia houvesse subsistido, qual seria hoje o "status" do negro brasileiro e seus descendentes?
     Gostaria, sim, que houvesse sido reservado um cantinho do Brasil onde Isabel e a Casa de Bragança pudessem transformar seus ideais em realidade. Quem sabe um Principado dos Palmares, nas atuais terras de Alagoas, em homenagem a Zumbi... e teríamos  talvez a oportunidade de ler as apimentadas "Crônicas da Marquesa de Arapiraca", comparando a situação próspera dos afrodescendentes do principado com a dos negros e "pardos" da grande república vizinha, atrelados a um confuso sistema de cotas. Que massa!


     Minha principal referência para esta postagem foi
     http://pt.wikipedia.org/wiki/Isabel_do_Brasil
*   *   *   *   *

     Um ano atrás, inspirado por um texto particularmente forte de uma querida amiga, escrevi:
ABOLIÇÃO


Não seja um quantum de status ou de dinheiro
O guarda ou o porteiro
Que te negue admissão.

Não seja um rito de respeito a um Ser mais alto
Que te leve ao assalto 
De outra religião.

Não seja a cor da tua pele impedimento
Para viver um momento
De amor ou de afeição.

Não seja a cor dos olhos teus, ou dos cabelos,
Empecilho aos teus anelos,
Algemas do coração.

Não seja nunca uma benesse ofertada
Como pílula dourada
Motivo de rendição.

Batalha a boa luta, sempre a boa lida!
Estuda! Cresce na vida!
Usa a força da razão!

Liberta-te! Vive tua vida plena!
Com alma alegre e serena
Abre as portas da prisão!

Canta bem forte teu futuro luminoso,
Teu destino glorioso,
Faz a tua abolição!

Em 16/04/2011
às seis da manhã
por Rodolfo Barcellos
à vista de um texto de
Simone Fernandes.
*   *   *   *   *
     Para finalizar, parabéns a todas as mães - as imperatrizes, rainhas e princesas, verdadeiras regentes dos lares do Brasil e do mundo.


Niterói, maio de 2012
Rodolfo Barcellos

terça-feira, 8 de maio de 2012

Mais trovas

     Mais uma leva de trovas-comentários, quase todas em homenagem aos amigos que as inspiraram. Essas nasceram em fins de fevereiro (exceto a de n° 53).
Foto: Beatriz Barcellos
60 - Sandra, 29/2
O binóculo da amizade
Tem dois lados pra se olhar;
Um diminui a ruindade
O outro aumenta o que é de amar...

59 - Otilia, 29/2
E nesse mundo moderno
Onde se ganha no grito
Seja esse momento eterno
Seja esse hoje infinito.

58 - Carla, 29/2
O orvalho é o teu pranto
Tua face é a flor;
Os teus versos são teu canto,
Teu poema é o amor.

57 - Isa, 28/2
Pra consertar a paixão
Que está rasgada e ferida,
CTRL, C (de Coração)
Depois CTRL, V (de Vida)...

56 - Carla, 28/2
O teu amor não carece
Para achar seu caminho
De mapa nem GPS,
Só de ternura e carinho.

55 - Severa, 28/2
Na canoa ou no caiaque
Ou na jangada, oxente,
Severa Cabral é craque
No remar contra a corrente.

54 - Marcia, 28/2
Essa beleza e magia
Vêm de outras fontes mais.
Vêm também da poesia
Na voz da Marcia Morais.

53 - Versejando, nov 2011
A última tônica prima
Por levar do verso o cetro:
É onde começa a rima,
É onde termina o metro.

52 - Denise (no Facebook), 28/2
Linda como você só,
Em mosaico sorridente
Você nem parece avó;
Tá mais pra adolescente...

51 - Lu Nogfer, 27/2
Ondas quebrando na areia
Beijos de amor, na verdade;
É o mar que abraça a sereia
Em total cumplicidade.

Niterói, maio de 2012
Rodolfo Barcellos


PS: Parabéns, Blog do Macaco. Parabéns, Xipan. Dia 10 serão dois anos trazendo-nos seu humor e alegria...

sábado, 5 de maio de 2012

Os dias delas

Daniel e Bia
     Com o Dia das Mães ocorre o mesmo que acontece com o Dia da Poesia: ao redor do mundo, ele é celebrado em datas diversas. Eis algumas:
     2º domingo de maio – Estados Unidos, Brasil, Dinamarca, Finlândia, Japão, Turquia, Itália, Austrália e Bélgica;
     2º domingo de fevereiro – Noruega;
     2º domingo de outubro – Argentina;
     2º dia da primavera – Líbano;
     1º domingo de maio  Portugal, Espanha, África lusófona;
     10 de maio – México;
     Último domingo de maio – Suécia;
     4º domingo da Quaresma – Inglaterra.
     Há outras, mas mesmo assim é pouco. Na minha opinião, deveriam ser, no mínimo, 365 datas em cada ano.
     Aqui no Brasil não é raro que esse dia aconteça em 13 de maio. E aí, temos três motivos para festejar:
     1 - Nossa Senhora de Fátima - Portugal, mundo católico em geral;
     2 - Abolição da escravatura - Brasil e África;
     3 - Dia das Mães - Brasil e metade do mundo.
  Estou preparando uma matéria para o 13 de maio, sobre uma mulher chamada Isabel que fez de milhões de seres humanos seus próprios filhos. Por hoje, permitam-me todos os filhos e filhas deste planetinha (acho que ainda não clonaram ninguém) que eu una às suas a minha voz, em datas e idiomas diversos, na homenagem a todas as mães do mundo.
     A elas, um conhecido acróstico em inglês (alguém sabe o nome do autor?), que está estampado no meu "édredon":
     Mothers are the place that we call home.
     On them we rest our heads and close our eyes.
     There's no one else who grants the same soft peace,
     Happiness, contentment, sweet release,
     Erasing nighttime tears with lullabies,
     Restoring the bright sun that makes us bloom.
Nessas noites frias, a poesia também me aquece...
     Tentei "traduzi-lo", mantendo o esquema de rimas ABCCBA e procurando respeitar-lhe a alma:
     Mães são o lar da ternura e harmonia
     Onde nos entregamos a um doce encanto
     Tranquilos, seguros, confiantes, serenos,
     Haurindo a paz e os sonhos amenos,
     Esquecendo os medos num suave acalanto,
     Revivendo a luz que nos traz a alegria.

     A elas, também, a minha Canção da Vida:

Mãe! Tu és o solo fecundo
No qual germina a semente
Em corpo, alma e mente
Dos filhos todos do mundo.

Tu és o amor mais profundo
A beleza inconsciente
A Deusa que toda gente
Venera a cada segundo.

Em teu seio hoje deponho
Um poema, um canto, um sonho,
Em louvor a ti, ó Mãe;

Dou-te um abraço e um beijo
E brindo-te neste ensejo
Numa taça de champanhe.

     Nota: a rima de "mãe" com "champanhe", foneticamente perfeita nos falares brasileiros, é, se não me engano, sugestão do nosso saudoso Chico Anísio.


Niterói, maio de 2012
Rodolfo Barcellos


PS: Parabéns ao Arte em Cerâmica, da Ma Ferreira, que neste dia 7 completa 2 aninhos de pura arte.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Divisões

     No próximo dia 6 comemora-se, no Brasil, o Dia do Matemático. Mas para que homenagear esse vilão detestado - o professor de Matemática - que inventa armadilhas malignas nas questões das provas e parece ter um prazer sádico em ver seus alunos desesperados? Bem, a resposta talvez se resuma a um nome árabe: Malba Tahan, autor de um livro chamado O Homem que Calculava.
     O livro conta a história de Beremiz Samir, um matemático persa, que viaja de sua aldeia natal até Bagdá. No decorrer da jornada, usa seus conhecimentos para resolver diversos problemas do dia-a-dia, e acaba conquistando um cargo de confiança de um vizir e o amor da filha de um poeta da corte do Califa Al-Motacém. O autor é Ali Iezid Izz-Edin Ibn Salim Hank Malba Tahan, ou simplesmente Malba Tahan, natural de Muzalit, na atual Arábia Saudita.
     Na verdade, esse autor árabe nunca existiu, exceto como heterônimo do professor Júlio César de Mello e Souza, genial matemático brasileiro, que detestava os métodos de ensino vigentes na época. Ele deu vida a Malba Tahan para poder publicar incógnito diversos contos onde os problemas matemáticos, lógicos, filosóficos e até religiosos eram apresentados sob um aspecto lúdico, atrativo e compreensível. Deu verossimilhança ao pseudo-autor árabe através de seu profundo conhecimento da cultura árabe – berço da matemática moderna – e da criação de um segundo personagem fictício: Breno de Alencar Bianco, o suposto tradutor das obras de Malba Tahan.
     Malba Tahan publicou ao todo 56 livros. O mais famoso é justamente O Homem que Calculava, traduzido para diversos idiomas. Sob seu verdadeiro nome, Mello e Souza publicou cerca de 50 outros livros.
     Nasceu no Rio de Janeiro, em 6 de maio de 1895. Lecionou Matemática no Colégio Pedro II, onde alcançou fama por seus métodos pouco ortodoxos. Costumava dizer que os professores de matemática eram sádicos, que se compraziam em inventar dificuldades para os alunos. Seus discípulos o adoravam e seus colegas o olhavam com reservas. Morreu em Recife, no dia 18 de junho de 1974, sem nunca ter posto os pés na Arábia. O dia de seu nascimento é celebrado no Brasil como o Dia do Matemático.
     Transcrevo a seguir uma versão simplificada do Capítulo IV de O Homem que Calculava, onde se pode apreciar não só o domínio da Matemática e o talento literário do autor, mas também sua postura ética e o valor didático do seu texto.
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Pena que estas não sejam de ouro...
     No nosso trajeto para Bagdá encontramos, caído na estrada, um viajante ferido. Contou-nos que sua caravana, ao regressar de Bássora, fora atacada e saqueada por bandidos nômades do deserto. Ele, o chefe, só se salvara por se ter fingido de morto entre os cadáveres dos seus escravos. E exortou-nos:
     - Dai-me algo para comer! Estou morrendo de fome!
     - Tenho de resto três pães - eu disse.
     - Trago ainda cinco! - afirmou meu amigo Beremiz.
     - Pois, meus amigos, se quiserem dividir comigo esses oito pães, prometo-vos pagá-los com oito moedas de ouro!
     Não carecíamos de pagamento, mas o rico cheique insistiu. E assim prosseguimos viagem, acomodando-nos como possível nos lombos de nossos dois únicos camelos.
     Alcançamos Bagdá na tarde do dia seguinte, encontrando logo um rico cortejo chefiado pelo poderoso vizir Ibrahim Maluf. Ao avistar-nos, o vizir exclamou:
     - Salém Nasair, meu amigo! Que te aconteceu? Por que estás assim maltrapilho, em companhia de dois desconhecidos?
     O cheique narrou em minúcias o acontecido, fazendo-nos os maiores elogios.
     O vizir sacou oito moedas de ouro de sua bolsa, e disse:
     - Paga sem demora tua dívida, meu amigo. Tenho pressa de levar-te ao palácio do Califa, para relatar-lhe esta nova afronta que os bandidos praticaram dentro de nossas fronteiras.
     O rico Salém Nasair disse-nos, então:
     - Vou deixar-vos, meus amigos. Antes, porém, desejo agradecer-vos, cumprindo minha palavra. Tu, Beremiz, que partilhaste cinco pães, receberás cinco moedas; e teu amigo, que contribuiu com três pães, ficará com as três moedas restantes.
     - Perdão, senhor - retorquiu Beremiz. - Essa divisão é muito simples mas não é matematicamente correta. Se eu dei cinco pães, devo receber sete moedas; e meu companheiro, que repartiu três pães, deve receber apenas uma!
     O vizir interveio, intrigado:
     - Por Maomé! ó, estrangeiro! Como justificar essa forma disparatada de se pagar oito pães com oito moedas? Por que queres receber sete moedas por teus cinco pães? E por que caberá a teu companheiro, que deu três pães, uma única moeda?
     - Explico-me, senhor vizir. Quando tínhamos fome, durante a jornada, repartíamos um pão em três pedaços, cabendo um pedaço a cada um de nós. Se eu dei cinco pães, dei quinze pedaços, e meu companheiro, com seus três pães, contribuiu com nove pedaços. Dos quinze pedaços que dei, comi oito; dei portanto sete; e meu companheiro também comeu oito dos seus nove pedaços, tendo dado apenas um. Os sete que eu dei, mais um que foi dado pelo meu amigo, formaram os oito pedaços que alimentaram o ilustre cheique. É justo, portanto, que eu receba sete moedas e meu companheiro apenas uma.
     Não havia o que discutir. Era lógica, perfeita e irrespondível a demonstração apresentada pelo matemático. E o vizir ordenou que lhe fossem entregues sete moedas, pois eu só teria direito a uma.
     Mas Beremiz, tomando delicadamente as oito moedas, declarou:
     - Esta divisão de sete moedas para mim e uma para meu amigo é, conforme provei, matematicamente exata, mas não é perfeita aos olhos de Deus.
     E dividiu as moedas em duas partes iguais, dando-me quatro moedas e guardando as outras quatro para si.
     O vizir exclamou:
     - Mac Allah! Esse jovem, além de parecer-me um sábio e habilíssimo nos cálculos e na Aritmética, é bom para o amigo e generoso para o companheiro. Tomo-o, hoje mesmo, para meu secretário!
     Beremiz inclinou-se e respondeu:
     - Poderoso vizir, vejo que acabais de fazer com 32 vocábulos, com um total de 143 letras, o maior elogio que ouvi em minha vida, e eu, para agradecer-vos, sou forçado a empregar 64 palavras, nas quais figuram nada menos de 286 letras. O dobro, precisamente! Que Allah vos abençoe e vos proteja!
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     Outro famoso conto de Malba Tahan foi publicado aqui, há um ano, em Os 35 camelos (basta clicar no link, se quiser lê-lo).
     Aproveito a oportunidade para antecipar às mães de Portugal, da África lusófona e de onde mais seja celebrado no próximo domingo meus desejos de um feliz Dia das Mães. Para chegar aqui no Brasil, demorará mais uma semana...


Niterói, maio de 2012
Rodolfo Barcellos