Para a imensa maioria dos habitantes do hemisfério sul - o lado debaixo do equador - a noite de 21 de junho é a mais longa e a mais fria do ano. Explica-se: é a noite do solstício, quando o sol atinge o limite máximo em sua jornada para o norte e para por um instante, inaugurando verões em Lisboa e Paris, antes de, hesitantemente, inverter seu curso e começar sua longa jornada de volta ao sul.
Mas para mim, por muito tempo, essa foi a noite mais curta e mais quente do ano, mesmo aqui no Brasil. Era a noite em que vinhos e queijos disputavam com carinhos e beijos a primazia nas comemorações do aniversário da Maria Helena.
Este ano, sentirei frio, e a noite do solstício demorará a passar. Mas não me queixarei. Abrirei o Porto que nossos compadres me ofertaram em fevereiro, e brindarei às boas lembranças dos solstícios passados; e também a tantos amigos da blogosfera que têm aquecido meu coração neste inverno, que para mim começou em novembro e não tem data para terminar.
E meu primeiro brinde será em homenagem à Flor de Maria Helena. Transcrevo aqui a matéria publicada há um ano, em plena Copa do Mundo:
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Fotografada pela Beatriz em 20 de Junho de 2010 |
- Schlumbergera truncata (Epiphyllum truncatum, Zygocactus truncatus).
- Nome Popular: Flor-de-maio, cacto-de-natal, cacto-da-páscoa, flor-de-seda.
- A Flor de Maio é uma cactácea originária da mata atlântica, especificamente da região norte do estado do Rio de Janeiro, e atualmente difundida pelo mundo inteiro, devido ao seu belíssimo aspecto durante a floração e à facilidade de cultivo doméstico. Floresce nos meses tardios do outono, e por isso é conhecida na Europa como Flor do Natal, ou Cacto de Natal.
- Aqui em casa, uma variedade particularmente exuberante resolveu exibir-se neste dia 20 – véspera do solstício. Nada a ver, eu acho, com a bela atuação da seleção brasileira frente à forte esquadra elefantina; aposto que é mais uma homenagem que a natureza presta à minha querida Maria Helena, na véspera de seu aniversário.
- Aliás, em anos anteriores e com outras variedades da mesma planta, tem acontecido coisa semelhante. Já faz uma década que venho apelidando a espécie de Flor de Junho... mas acho que já está na hora de chamá-la – pelo menos dentro das fronteiras dos nossos humildes domínios – de Flor de Maria Helena.
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Perda.
Foi-se a primavera. O verão se foi. Vai-se agora o outono,
Castanhas folhas mortas, caídas,
Varridas pelo vento gélido do sudoeste invernal,
Assim como apagou-se aquele amor ardente
Ao sopro frio do fado mortal.
Agonia.
Meu coração está triste. E como ele
O sol se arrasta pelo céu, baixo e cansado,
Retrato ou reflexo,
Navegando cume a cume em cabotagem,
Qual uma nau carregada de pesados nadas,
Sem forças para se afastar do horizonte recortado por serras cinzentas e nuas.
Cinzenta está minha alma. Nua. Nuvens frias,
Úmidas névoas debruçadas nos morros,
Rastejando nos vales...
Seus dedos em garra em volta de mim.
Ausência.
Ah, as lembranças dos invernos de outrora,
Quentes carícias, abraços, beijos... onde?
Não mais. Não mais agora.
Angústia.
Definha pouco a pouco a esperança
Esvai-se lentamente a luz da alma
Agarra-se a mente na lembrança
Dos momentos de êxtase e de calma.
Saudade.
Onde o murmúrio doce, carinhoso?
Onde as estrelas que moravam em teu olhar?
Onde o teu perfume nos lençóis? Onde?
Nesta luta da saudade contra a vida,
Que faz deste meu peito a liça, sem quartel,
A saudade gera hidras, se abatida...
Saudades da saudade que morreu.
Vazio.
Não mais lágrimas - estão secas.
Não mais dores - cicatrizes.
Onde estão as minhas flores?
Onde, as minhas raízes?
Amargor.
Ah! os vinhos que aqueciam nossas noites!
Hoje, o tinto sabe a sangue,
Sabe a pranto hoje o branco.
Sangue de Boi? Lachrima Christi?
Esperança.
Talvez que a Primavera
(Depois de tanta espera)
Possa trazer-me alento
Na forma de novo amor...
Na forma de esquecimento...
Dúvida.
Mas ainda
Choram as flores da noite,
E as estrelas do Cruzeiro
Choram lágrimas de luz.
Oração.
Vem, primavera! Eu te imploro!
Enquanto não vens, eu choro
Mais que as estrelas da Cruz!
(e esta noite que não passa... e esse frio...)
Inverno. Inverno. Inverno.
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Não se preocupem, meus amigos... eu precisava me libertar de alguns fantasmas, e a melhor maneira de exorcizá-los, para mim, é essa. Não deixem que a alegria e o calor fujam de seus corações. Eu estou bem, e se quiserem brindar comigo ao solstício e ao inverno... saúde!
Ah! e verifiquem se neste dia de solstício não estarão sorrindo as Flores de Maria Helena por esse Brasilzão todo! As minhas estão...
Nota: os direitos de publicação e distribuição do poema "Inverno", em sua forma impressa, foram cedidos à editora VIVARA.