Crônicas natalinas - A data
Eventos como o Natal deveriam ser celebrados diariamente,
não importando o que diga a folhinha – se não com luzes, presentes e ceias,
pelo menos com o coração.
Dito o importante, vamos ao interessante.
Setembro, Outubro,
Novembro, Dezembro: sete, oito, nove, dez.
Não parece estranho que os meses de nove a doze tenham nomes
de sete a dez?
Essa confusão tem mais de dois mil anos de idade. O
calendário romano daquela época compunha-se de dez meses – quatro nomeados em
honra a deuses e os demais simplesmente chamados pelos seus números: Martius,
Abrilis, Maius, Junius. Quintilis, Sextilis, Septembris, Octobris, Novembris e
Decembris.
Ano sim, ano não, um mês extra – Mercedonius – era incluído.
O resultado era uma sequência irregular de anos com 355, 377 ou 378 dias cada
um.
Em 46 AC Júlio César resolveu acabar com a bagunça e, com a
assessoria do astrônomo Sosígenes, instituiu o calendário hoje conhecido como
Juliano. Ele acrescentou mais dois meses – Unodecembris e Duodecembris – e
eliminou o mês intercalar (Mercedonius), substituindo-o por um único dia que
seria acrescentado a cada três anos ao último mês – Duodecembris, o famoso ante die bis sextum kalendas martias.
Mas havia erros acumulados a ajustar, e por conta deles
aquele ano acabou durando 445 dias. Com a confusão reinante, os romanos
passaram a considerar Unodecembris e Duodecembris não como os últimos, mas como
os primeiros do ano seguinte, dando-lhes nomes em honra de Janus – Januarius – e
Febo – Februarius.
Em 44 a. C., o senado
homenageou Júlio César, trocando o nome do mês Quintilis para Julius. E
sessenta anos depois César Augusto mudou o intervalo dos bissextos de três para
quatro anos e recebeu a mesma homenagem, quando o mês Sextilis passou a se
chamar Augustus – roubando um dia de Februarius para ficar com os mesmos 31 do
ilustre antecessor... ô vaidade!
Mas o que isso tem a ver com o Natal?
Bem, naquela época ainda era grande a confusão no calendário.
E os judeus seguiam um calendário próprio (que usam até hoje), sem relação com
o calendário romano. E no meio da confusão, a data real do nascimento de Jesus
perdeu-se – parece que definitivamente.
A data de 25 de dezembro foi adotada pela Igreja, já no
século IV, para contrapor-se às festas pagãs do solstício de inverno, entre as
quais a Saturnália romana e o festival do Sol Invictus..
Mas existem alguns indícios que permitem uma pesquisa sobre
a data aproximada do evento. As fontes históricas mais confiáveis são os
evangelhos canônicos de Lucas e Mateus, alguns textos dos apócrifos, os
registros do Templo de Jerusalém e os escritos de Tácito, Plínio, o moço,
Suetônio e Josefo.
E o que nos dizem essas fontes?
Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, o Grande – o
rei-fantoche designado pelos romanos, que ordenou a tristemente famosa
"matança dos inocentes". Ora, Herodes morreu no ano 4 a.C., de modo
que Jesus deve ter nascido uns dois ou três anos antes. E sabemos que José foi
com Maria a Belém para cumprir a ordem da autoridade romana que exigia, para o
censo, que o registro fosse feito na cidade de origem do chefe da família.
Em Belém, o censo ocorreu no mês Sextilis (posteriormente
agosto) do ano 7 a. C.
Mais uma pista: a apresentação dos recém-nascidos no templo
e a purificação de suas mães tinha um prazo máximo de 21 dias após o parto,
pelas normas judaicas. Jesus foi apresentado no templo de Zacarias, segundo os
registros locais, no mês de Setembro, num sábado. Ora, o mês de Setembro do ano
7 a.C. teve quatro sábados: 4, 11, 18 e 25. Como os censos em Belém ocorreram
entre 10 e 24 de Agosto, o sábado de apresentação seria o de 11. E assim, Jesus
teria nascido entre 21 e 30 de Agosto do ano 7 a.C.
Bem, espero vocês tenham apreciado, que o Leonel não tenha
tido dores de cabeça e que o Jair não tenha ficado matutando demais em frente à
folhinha – pois dito o interessante, voltemos agora ao importante: