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Casal apaixonado - Desenho de Tatiane Salles, no
seu blog "Só Para Dizer". Obrigado, Tati. |
Republico hoje alguns poemas requentados, alusivos ao Dia dos Namorados, lembrando que na maioria dos países do Ocidente - Portugal inclusive - o Dia dos Namorados é celebrado em 14 de Fevereiro, em homenagem a S. Valentim.
No Brasil, comemora-se em 12 de junho; é véspera de Santo Antônio, o santo casamenteiro, esperança de muita gente encalhada. A imagem virada de costas, fitando a parede, ou em precário equilíbrio, de ponta-cabeça, é a tradução dos anseios das moças casadoiras. As mais desesperadas ou voluntariosas - dizem - chegam a mergulhar o santo em um copo ou jarro cheio d'água, de cabeça para baixo...
Bem, nada melhor que algumas rimas para alegrar os corações esperançosos.
Ah, por falar em rimas, neste dia 10 Portugal e os poetas do mundo inteiro - em particular os de língua portuguesa - estão em festa... é o Dia de Camões. Pois em homenagem ao mestre do verso heroico, sirvamos como "couvert" um acróstico nesse famoso metro decassílabo.
Junho de 2010 - Dia dos Namorados (acróstico em heroicos)
Duas só almas, gêmeas, se encontram,
Intímidas, amigas, companheiras,
A trocar entre si vidas inteiras.
Duas vozes irmãs em coro cantam
O hino do amor, em tons suaves,
Soltando os versos, como belas aves.
Na espera de mil beijos prometidos
Ao sopro de mil juras mal contidas,
Mil horas num minuto são vividas.
O Sol se esconde entre fulvos ares,
Romântica neblina resplendente,
Ardendo nos vermelhos do poente.
De súbito, centelham os olhares;
Os lábios unem-se em fulgente prece;
Só deles é o milagre que acontece.
Os amigos que gostam de cometer seus acrósticos devem ter notado o uso de fonte não-proporcional (Courier), para manter o alinhamento vertical e a largura igual das primeiras letras de cada verso. E atenção, patrulheiros do idioma e guardiões da última flor do Lácio: não procurem em dicionários o termo "intímido". Isso foi invenção minha, há dois anos já, buscando transmitir ao leitor a idéia de "íntimo e sem timidez" - um neologismo sob a égide da jurisprudência que rege a licença poética. E os Aurélios e Houaisses até hoje estão comendo mosca.
Também há dois anos saíram-me do teclado as redondilhas de um sonetinho razoável - forma de poema que eu gosto de chamar de "sonetilha". É um prato leve, próprio para a entrada:
Junho de 2010 - Dia dos Namorados (soneto em redondilhas)
Se você está sozinho,
Carente, abandonado,
Sem amor e sem carinho,
Não fique desesperado:
Reze muito a Santo Antônio
No seu dia consagrado;
Protetor do matrimônio,
Do namoro e do noivado.
Presto aqui meu testemunho
De excelentes resultados
Em versos de próprio punho.
Sejam todos bem-amados!
E viva doze de junho,
O Dia dos Namorados!
Um ano depois, em 2011, nasceu um soneto mais elaborado, já em decassílabos, inspirado nos famosos bonequinhos da Kim Casali, que vale como prato principal:
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Imagem: Internet |
Junho de 2011 - Amar é... (soneto)
Amar é ter paixão e ousadia,
É ter ciúme de coisas, de gente,
Sabendo usar tal condimento ardente
Na dose certa - mais quente que fria;
É partilhar a tristeza e a alegria,
É ser igual, e sempre diferente,
E, mesmo sem motivo aparente,
Reconquistar o amor a cada dia.
Amar é traçar rumos lado a lado,
Ligando o futuro ao passado
Por um presente construído a dois;
Fazer de um só olhar uma poesia,
Trazer um toque que acaricia,
Sempre antes... e durante... e depois!
E para não ficar só nas "velhidades" de um poeta preguiçoso e acomodado, vamos tentar uma novidade para o segundo prato:
Junho de 2012 - Ama! (indriso)
Ama! O amar não é trocar favores,
Não é medir prazeres, pesar dores,
Não é contar carinhos ou ciúmes.
Ama! Nunca contabilizes risos,
Trovas, setilhas, sonetos, indrisos,
Flores, pipocas, bombons ou perfumes.
Ama sempre! Que o resto é passageiro!
Ama muito! E dá-te por inteiro!
De sobremesa, um haikai à moda tupiniquim:
Um coração leve
Leve o peso da paixão
Leve um coração
E que tal um sete-sete bem quente e preto para fechar?
Às amigas e aos amigos,
Musas e seus companheiros,
Sejam ricaços, mendigos,
Sejam casados, solteiros...
No Dia dos Namorados
Fiquem bem acompanhados
As damas e os cavalheiros.
Niterói, junho de 2012
Rodolfo Barcellos
PS: Agradeço mais uma vez à Lu Cavichioli, que me apresentou aos indrisos, e à Graça Lacerda, que botou na fôrma meus primeiros haikais.