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quarta-feira, 18 de abril de 2012

SELVA!

     Antes de homenagear os mais brasileiros dos brasileiros, cujo dia transcorre amanhã, quero deixar aqui meu abraço a meu irmão Marcos, que completa também amanhã um número mágico de anos - e mais um. Se você elevar dois à segunda potência, multiplicar o resultado por dois e elevar tudo de novo à segunda potência, obterá um número sagrado na representação binária, cultuado pelos adoradores  do universo digital, base dos mais modernos sistemas computacionais. Some UM - o símbolo universal da união fraternal - e saberá sua idade.


Meu irmão, meu grande amigo,
Neste número binário
Com complemento unitário,
Quero festejar contigo
Teu FELIZ ANIVERSÁRIO!


     Parabéns, mano. Feliz aniversário junto a essa tua família abençoada.
        Nota: para os preguiçosos ou avessos aos cálculos, informo que ele nasceu em 1947.
*   *   *   *   *
HOMENAGEM AO ÍNDIO BRASILEIRO
     Três atiradores comandados por um cabo formam uma esquadra. Duas esquadras sob as ordens de um sargento compõem um grupo de combate. Um pelotão é formado por três grupos de combate e mais um grupo de apoio, que se encarrega do municiamento, das armas pesadas, dos socorros médicos, da coordenação tática etc.
     Perfilados, os soldados aguardam em posição de sentido,  sob o sol inclemente do meio-dia. São homens de traços asiáticos - estatura mediana, pele bronzeada, olhos amendoados, maçãs do rosto salientes e cabelo negro e liso.
     No microfone, a palavra de ordem do capitão:
     - Soldado Souza, etnia tucano!
     Um rapaz da primeira fila dá um passo adiante, resoluto, fuzil no ombro, e profere a oração do guerreiro da selva, no idioma natal. No fim, o grito de guerra dos pelotões da fronteira: SELVA!
     O segundo a repetir o ritual é um soldado da etnia desana. Seguem-se um baniua, um curipaco, um cubeu, um ianomâmi, um tariano e um hupda - cada um recitando a oração na sua língua natal, e sempre finalizando-a com o grito "SELVA!". Depois, o pelotão inteiro canta o Hino Nacional em português, a plenos pulmões.
     Ouvir aqueles indígenas, de algumas das 22 etnias que habitam o extremo noroeste da Amazônia brasileira, cantando nosso hino no meio da floresta, trouxe-me à flor da pele sentimentos de brasilidade que eu julgava esquecidos.
     Os Pelotões Especiais de Fronteira do Exército Brasileiro recrutam seus soldados nas comunidades das redondezas. O motivo é simples: o soldado do sul pode ser mais preparado intelectualmente, mas na selva ninguém se iguala ao indígena. E é na selva que a luta contra a exploração ilegal, o narcotráfico e a guerrilha que dele se alimenta assume aspectos insuspeitados por quase todos.
     A Cabeça do Cachorro é a região que jaz no extremo noroeste da Amazônia brasileira. Recebeu esse nome devido ao desenho formado pela linha fronteiriça. Para lá chegar é preciso ir a Manaus, viajar 1.146 quilômetros Rio Negro acima, até São Gabriel da Cachoeira, a maior cidade indígena do país. De lá, até as fronteiras com a Colômbia e a Venezuela, pelos rios Uaupés, Tiquié, Içana, Cauaburi e uma infinidade de rios menores, só Deus sabe.
     A duração da viagem depende das chuvas, das corredeiras e da época do ano, porque na bacia do Rio Negro o nível das águas pode subir mais de dez metros entre a vazante e o pico da cheia.
     É um Brasil perdido no meio das florestas mais preservadas da Amazônia. Não fosse a presença militar, seria uma região entregue à própria sorte. Ou, pior, à sorte alheia.
     O Comando dos Pelotões de Fronteira está sediado em São Gabriel. De lá partem as provisões e o apoio logístico para as unidades construídas à beira dos principais rios fronteiriços: Pari-Cachoeira, Iauaretê, Querari, Tunuí-Cachoeira, São Joaquim, Maturacá e Cucuí.
     Na entrada dos quartéis, uma placa dá idéia do esforço para construí-los naquele ermo: "Da primeira tábua ao último prego, todo material empregado nessas instalações foi transportado nas asas da FAB."
     Os pelotões atraem as populações indígenas de cada rio à beira do qual foram instalados, por causa da escola para as crianças e porque em suas imediações circula o bem mais raro da região: salário.
     Para os militares e suas famílias, os indígenas conseguem vender algum artesanato, trocar farinha e frutas por gêneros de primeira necessidade, produtos de higiene e peças de vestuário.
     No quartel existe possibilidade de acesso à assistência médica, ao dentista, à internet e aos aviões da FAB, em caso de acidente ou doença grave.
     Cada pelotão é chefiado por um tenente com menos de 30 anos, que além de exercer o papel de comandante militar assume as funções de prefeito, juiz de paz, delegado, gestor de assistência médico-odontológica, administrador do programa de inclusão digital e o que mais for necessário assumir nas comunidades das imediações, esquecidas pelas autoridades federais, estaduais e municipais.
     Tais serviços, de responsabilidade de outros ministérios e de secretarias locais, são prestados pelas Forças Armadas sem qualquer dotação orçamentária suplementar.
     Os quartéis são de um despojamento espartano. As dificuldades de abastecimento, os atrasos dos vôos causados por adversidades climáticas e avarias técnicas e o orçamento minguado das Forças Armadas tornam o dia-a-dia dos que vivem em pleno isolamento um ato de resistência permanente.
     Esses militares anônimos, mal pagos, são os únicos responsáveis pela defesa dos limites de uma região conturbada pela proximidade das FARC e pelas rotas do narcotráfico. Não estivessem lá, quem estaria?
Oração do soldado da Amazônia:
"Senhor, vós que ordenastes ao guerreiro da Selva sobrepujar todos os vossos oponentes, dai-nos hoje da floresta, a sobriedade para resistir, a paciência para emboscar, a perseverança para sobreviver, a astúcia para dissimular, a fé para resistir e vencer. Dai-nos também, Senhor, a esperança e a certeza do retorno; mas se, defendendo essa brasileira Amazônia, tivermos que perecer, oh Deus, que o façamos com dignidade e mereçamos a vitória. SELVA!"


     Esse texto, em sua forma original, é de autoria de DRAUZIO VARELLA e foi-me enviado, em 13 de janeiro, por meu primo PAULO SETTE CÂMARA, que mora em Belém - o portal da Amazônia. Editei-lhe alguns trechos e enxertei-lhe outros, mas não lhe alterei a substância. O artigo original pode ser conferido em
http://clubegeo.blogspot.com/2011/07/exercito-na-amazonia-drauzio-varella.html