Às vezes me pego pensando no simbolismo dos temas recorrentes na poesia - os preferidos por poetas e poetisas em suas metáforas. E a flor e o vento figuram aí com destaque, isoladamente ou em conjunto.
Não é de admirar. O vento age como vetor na fecundação de diversas plantas, as chamadas "anemófilas", transportando o pólen das flores masculinas até às femininas. Como a perda por dispersão é imensa, as flores masculinas, perdulárias, produzem pólen às toneladas, que se espalha na atmosfera, causando-nos as desagradáveis alergias de primavera.
Mas não é só o pólen fecundante que é levado por esse meio. Muitas plantas, após produzirem seus frutos, confiam ao vento sua progênie sob a forma de sementes voadoras, desde os grandes "pterocarpos" em forma de hélices até as delicadas penugens do dente-de-leão.
O paralelismo com a poesia é óbvio. Além das conotações puramente românticas há o simbolismo da dispersão de versos que inspirarão novos poemas - não se sabe onde nem quando.
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Sementes de Dente-de-Leão sendo levadas pelo vento. Origem: Internet |
Um poema desses de flor e de vento tocou-me especialmente. Em fins de dezembro do ano passado ela mandou-me, num comentário, esta belíssima mensagem de ano novo:
Querido amigo,
MENSAGEM PARA O VENTO
Enquanto tu fores vento,
quero ser a flor
para que despenteies minhas pétalas,
quero ser folha para dançar contigo
nas calçadas,
quero ser nuvem para construir os teus castelos,
quero ser brisa perfumada
a sonhar o teu sonho no invisível.
Carinhosamente desejando Feliz 2012, Mellíss.
28 de dezembro de 2011 15:44
Bem, essa poetisa de Santos celebraria em setembro vindouro mais um ano de Guerra. Literalmente. Pois seu nome é Fátima Guerra, e ela vinha lutando bravamente contra o enfraquecimento de sua visão, entre outras batalhas. Mas continuava espalhando seus versos por aí. E eles deram filhotes, sim...
PARA MELLÍSS
Fui-te árvore um dia
Depois vento me tornei
Para a flor que me queria
Tudo o que queiras serei.
Foste-me na poesia
Brisa, nuvem, folha e flor;
Hoje me és trilogia:
És Fé, Esperança, Amor!
Ah, Mellíss. Lembro que um outro poeta lutou contra esse mesmo inimigo seu, e embora houvesse perdido a visão não perdeu a luta. Você sabe de quem estou falando. Seu nome é Homero.
E você hoje está ao lado dele. Saudades. Saudades...
Para os amigos que não me viram, ou queiram rever-me como árvore, deixo aqui o link para a homenagem que lhe prestei um ano atrás.
Niterói, abril de 2012
(inicialmente programada para setembro, no aniversário da Mellíss)
Rodolfo Barcellos.