quarta-feira, 30 de abril de 2014

Combo de Maio

Dia do Ócio

   Neste dia primeiro de maio celebra-se em todo o mundo o dia do Trabalho - dia em que ninguém trabalha. Dia que quando cai num sábado ou domingo causa frustração dos adoradores e prosélitos de feriadões. Estes preferem que seja na segunda ou na sexta, ou melhor ainda, na terça ou quinta, o que lhes permite exercer o sacrossanto e já institucionalizado direito do enforcamento.
   Não que isso faça muita diferença nos expedientes diários de várias repartições públicas, onde a rotina começa com um obrigatório "bom dia" ao chefe; e cumprido o ritual de puxar o saco do "alfa" da vez, dá-se início à confortável rotina de coçar o seu próprio, com as indispensáveis pausas para o almoço, os cafezinhos e os bate-papos. Eventualmente, para desfastio, pega-se um documento qualquer na bandeja "Entrada", lê-se o "De", o "Para" e o "Assunto", confere-se o último despacho (importante para não devolver o mesmo documento ao órgão de origem - há que ser-se cúmplice da coçação dos colegas) e despacha-se "Solicito-vos providências" para algum setor cujo chefe esteja de férias (com certeza vai parar na mão de algum estagiário). Agora é colocá-lo na bandeja "Saída" e retornar à coçação.
   No final do expediente, puxa-se de novo o saco-mor, em despedida, e vai-se para casa com a tranquila consciência do dever cumprido.
   Neste ano o Dia Internacional de Não Fazer Nada - chamado carinhosamente pelos Adoradores do Ócio "Dia do Trabalho" - cai numa quinta. Alvíssaras! Além de não interferir nas sagradas horas do descanso divino, ainda nos proporciona o inefável prazer de praticar o esporte nacional do sexticídio, que só perde em popularidade para o segundicídio - o enforcamento do mais odiado dia da semana.


Dia da Mãe

   Se você mora do outro lado desta lagoa chamada Atlântico, e se é mãe - essa classe de gente extraterrestre que não conhece ou já esqueceu as doces benesses do ócio -  parabéns pelo Dia da Mãe. Ele chega mais cedo aí... no próximo domingo.

Dia das Mães

   Por aqui, estaremos esperando por mais uma semana, até que ele chegue - se não naufragar no meio da travessia, tanto mar, tanto mar...

Abolição

   Em homenagem ao 13 de maio, transcrevo um pequeno trecho das "Memórias" da nossa querida tia-avó Georgeta - ou, mais carinhosamente, Dodoge.
   Veja mais na página de nossa família (aos cuidados do mano Marcos) em

http://mrdb.com.br/docs/memorias_dodoge_index.html


Dodoge
IOIÓ

   Foi no dia 25 de novembro de 1927 que deixou de existir a nossa sempre lembrada Ioió. Santa velhinha, tão boa, tão dedicada! Sua lembrança jamais se apagará da memória daqueles que privaram com ela. Em sua vida deixou um exemplo de amor e dedicação extraordinário. Ioió foi escrava do proprietário da Fazenda do Engenho em Ponte Nova e foi Babá de uma de suas filhas. Dedicadíssima ao extremo, tudo fazia pela sua sinhazinha que era a minha mãe. Os anos foram correndo e a menina ficou moça e como tal foi pedida em casamento. Na véspera das bodas, vovô querendo recompensar tanta dedicação da pobre escrava, entregou a mamãe, para que ela desse a sua babá, a "carta da liberdade" no dia de seu casamento.
   Ioió foi chamada e na presença de toda a família reunida, mamãe muito emocionada lhe falou: "Ioió, você não é mais escrava. De agora em diante você é livre, pode ir para onde quiser. Está aqui a sua carta de alforria como recompensa do quanto fez por mim."
   Ioió com os olhos rasos de lágrimas, recebeu o papel e de joelhos abraçou a sua querida sinhazinha, ou antes Sanica, e disse entre soluços: "Não quero a liberdade! Serei sempre escrava de minha filha branca. Acompanhá-la-ei para onde ela for." E rasgou a carta em muitos pedaços com espanto dos que assistiram a cena.
   E viveu uma vida longa e ajudou a criar com a mesma dedicação os 10 filhos de meus pais.
   Veio o 13 de Maio tão suspirado pelos escravos. Todos ficaram livres porém Ioió continuou sob o teto acolhedor de sua filha branca.
   Morreu com quase 100 anos, 6 meses antes da morte de sua querida Sanica.

Niterói, outono de 2014
Rodolfo Barcellos

15 comentários:

  1. Precisamos colocar esse pessoal pra trabalhar um pouco, né? Essa coisa de funcionário público pendurador de paletós na cadeira já passou de acabar faz é tempo. Mande-os lá pra minha escola e daremos um jeito.
    Tiradentes eu não enforquei não senhor, mas os dias pós-feriados, aí é outro papo bom.

    Bonita carta. Sente-se afeição de verdade... A escrava, que já não mais era, preferiu ficar. Também, fora dali, seria pássaro livre sem saber voar, né? Maldita escravidão!

    Beijo, bruxo!

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  2. Nem vou comentar sobre a triste fama do funcionalismo estatal...
    Mas, achei impressionante que exista esse banco de memórias, de onde veio esta história tão tocante...
    Realmente, o fim da escravidão (pelo menos no papel) acabou pegando muita gente desprevenida...As mudanças são sempre traumáticas, mesmo quando supostamente são para melhorar a situação de alguém. Depois de uma certa idade, pode ficar muito difícil, de repente, começar de novo com outras regras!
    Abraços, amigo Barcellos!

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  3. A liberdade é estar onde se quer...
    Um relato muito tocante que eu gostei muito de ler.

    Bom fim de semana.
    Abraços

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  4. São tantos os dias de...Eu passei ontem "carregando pedras" e hoje colho as dores do trabalho doméstico. Bonita carta, recheada de emoção. Mesmo depois da abolição, quem de nós não teve uma Bá, mãe preta?! Foi preciso mais de um século para se ter uma lei que funcione. Até bem pouco, as empregadas eram verdadeiras escravas sem o "título"!
    Beijuuss Bruxo

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  5. Ahhh Rodolfo.... vc esqueceu de me colocar no comboio, Fadas tambem fazem niver....

    Beijos

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  6. Olá amigo Rodolfo.

    Obrigada pela parte que me toca, aqui celebramos amanhã o dia da mãe.

    Um beijo e feliz domingo.

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  7. Gostei desta "Agenda" tão promenorizada.. O nosso Dia da Mãe já foi...e por aí será no dia 11! Onde e quando quer que seja...a Mãe é sempre um ser...quase extraterrestre a ser festejado com carinho...
    Um abraço
    Graça

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  8. Feriados... feriados. Muitos o vivenciam no dia a dia, empurrando as atividades laborais sem qualquer responsabilidade. Mães, merecedoras de muito mais do que oferecemos. Hoje, passamos o dia com a nossa, reunindo todos os filhos, netos e bisnetos. Um presente divino e o coração apertado na despedida, vendo descerem-lhe as lágrimas pelo rosto. Escravidão, supostamente extinta. Grande beijo!

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  9. Olá Barcellos,

    Gostei de ler sobre a IOIÓ.
    Maio é um mês de comemorações importantes também no seio da minha família (meus pais e uma irmã, embora meu pai já tenha partido. Se estivesse vivo amanhã seria o dia dele).
    Nem sabia que havia postagem por aqui (sabe que não consigo fazer um blogroll?).
    Passei para dizer 'olá' e deixar meu abraço.

    Ótimos e felizes dias para você.

    Abraço.

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  10. Ganhei meu dia!!!!!! Receber sua visita é motivo de prazer. Que os seus estejam iluminados, proporcionando-lhe tranquilidade e bem estar. Bjs.

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  11. Olá Barcellos,

    Que surpresa boa vê-lo por lá.
    Adorei a visita.
    Que tudo esteja bem com você.
    Belos dias.

    Abraço.

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  12. Vim deixar um carinho e um desejo de bom fim de semana querido poeta !

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  13. Olá Barcellos,

    Passo para lhe deixar um braço e votos para uma excelente semana.
    Tudibom.

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  14. Ops! Um braço não... um abraço-rsrs.

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