quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Stardust (repostagem)


PRÓLOGO
   Fui chamá-la em sua alcova, num cantinho do meu HD:
   - Vamos dar uma saidinha? Quero te apresentar a uns amigos novos...
   Ela abriu um sorriso encantador:
   - Vamos! Só preciso me arrumar!
   - Você está linda! Exatamente como na última vez em que saímos.
   - Por isso mesmo. Não vou aparecer usando um modelito que todo mundo já conhece.
   Essas postagens... que lógica há em mudar a aparência para conhecer novas pessoas?
   Ela pareceu adivinhar meus pensamentos:
   - Além disso, podemos encontrar quem já me conhece... olhe, enquanto eu tomo banho, chame o cabeleireiro, a manicure e a maquiadora. E vá escolhendo um vestido decente pra mim.
   Banhada e perfumada, cabelos belamente penteados, as unhas delicadamente pintadas, maquiagem suave e sedutora, vestido escolhido e ajustado, meias de seda pura, sapatos de salto agulha, brincos, colar, pulseira, anéis...
   Ela se visualizou no grande espelho da tela do monitor e pediu-me para ajeitar infinitos detalhezinhos. Finalmente, perguntei:
   - Podemos ir?
   - Vamos! E pegou a minúscula carteira preta, recamada de inúmeros brilhantes pequeninos.
   Conduzi-a à garagem. Foi quando ela viu o presente do Tatto.
   - Carro novo? - ela perguntou, feliz e surpresa.
   - Novinho. Só pra você - menti. E abri-lhe galantemente a porta.
   Ela me deteve em meio ao gesto:
   - Preciso de um novo nome! Não gostei daquele apelido sem graça da última vez!
   Discutimos. Depois de algumas sugestões, ela aceitou "Stardust". E finalmente cliquei a tecla "Publicar postagem".
*   *   *   *   *
STARDUST
   Cada célula de nosso corpo tem seu ciclo de vida determinado. Os tecidos mais expostos aos agentes externos - pele e mucosas - se renovam em trinta dias ou menos. Já as células nervosas não se multiplicam - não sofrem mitose.
   Mas todas, sem exceção, absorvem nutrientes e expelem os rejeitos metabólicos resultantes de sua atividade biológica. Portanto, seja a nível celular, molecular ou mesmo atômico, nosso corpo está sempre trocando com o meio ambiente material orgânico - via respiração, alimentos e bebidas, urina, suor e fezes. E a Natureza se encarrega de reciclar tudo isso - mas sem alterar os átomos, com raríssimas exceções.
   E quase toda essa reciclagem é realizada dentro dos limites da biosfera. As moléculas e átomos que seu organismo expele hoje serão absorvidos por outros organismos amanhã. E vice-versa...
   Isso quer dizer que você não é exatamente a mesma pessoa que começou a ler este texto. Milhões de mudanças ocorreram em seu organismo nesse meio tempo. Não quero nem pensar nas mudanças que aconteceram no meu, desde que comecei a escrevê-lo...
   É talvez perturbador pensar que neste momento existem em nosso corpo átomos e moléculas que outrora fizeram parte de Hitler, Ghandi, Cleópatra, Shakespeare, Marylin Monroe, Átila, Jesus Cristo, Elizabeth da Áustria, Einstein... a lista não tem fim. Vai ver, é por isso que nós somos gente boa hoje, intolerantes amanhã, inteligentes agora e burros no minuto seguinte...
   Mas nós fazemos parte de um clube maior e temos também átomos que já foram de dinossauros extintos, protozoários microscópicos e plantas exóticas. E finalmente não podemos esquecer que tudo isso formou-se a partir de uma nebulosa planetária - de modo que somos também poeira de estrelas, como disse Carl Sagan...
   Afinal, quem somos nós hoje? Quem seremos amanhã? Parte da resposta está - talvez - em:

http://www.youtube.com/watch?v=aEwmX8yerWQ

   E não vamos nos esquecer - principalmente hoje - dos átomos da Princesa Isabel e dos escravos africanos. Eles também fazem parte de nós.
*   *   *   *   *
   NOTA: A postagem original foi publicada no "Sete Ramos de Oliveira",  na quinta-feira, 13 de maio de 2010 - daí a frase que a fecha. Seu título era "Somos pó". E a trabalheira que me deu reformatar a danadinha me levou a escrever aquele "prólogo" inicial. A alusão a um "carro novo" refere-se ao belo "Banner" com que o amigo Tatto havia presenteado o "Sete Ramos", algum tempo antes, e que continua sendo a minha bandeira...
Presente recebido... Obrigado, minha amiga.

   Aproveito a oportunidade para agradecer, de coração, à amiga Cecília (Oceano Azul. Sonhos). Ela me presenteou com seu último livro de poemas - O eco do silêncio - o qual está alimentando minha alma com as moléculas de seus lindos versos. Obrigado, Cecília.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Sou profunda gratidão!


Vou fazer uso das "chaves" que tenho - licença, Mago? - e ocupar, honrada e emocionada, um cantinho deste espaço cheio de magia. Não consegui pensar em uma forma de melhor agradecer meu presente precioso!

A entrega foi emocionante - pra quem entregou, pra quem recebeu e para quem acompanhou...

O presente veio embrulhado com a expectativa de um menino, ansioso pra conhecer o meu agrado - como se fosse possível acontecer qualquer coisa em contrário!!
Tinha ao redor da embalagem carinhosa, uma fita invisível - ela enfeita lindamente o conteúdo, e no seu laço ela encerra o sentimento mais bonito, mais inexplicável, mas versejado com tanto amor, que em cada suspirar de quem ler, vai brotar a compreensão mais íntima - do que seja a pureza de uma amizade, daquilo que possa traduzir o olhar de um Poeta, tornando o imperfeito em perfeição, e se houvessem palavras que me socorressem, faria uso pra lhes contar minha emoção...

Se chorei? Não! Até as lágrimas se intimidaram diante de tamanha beleza, e por escolha inconsciente, preferi lhe brindar com meu melhor sorriso e um abraço tão terno, que pudesse lhe retribuir tamanha dedicação! Já reli tantas vezes, me vendo morar dentro de tantas lindas expressões...me pego pensando como ele me conhece, como decifra o que ninguém vê...e voei, feliz, feito borboleta, por entre os versos que amei! Me encantei diante deles todos, feitos com amor para a mulher Poesia, como ele insiste em me chamar - um batismo de coração de Poeta, bem sei, não sei é como agradecer!

A recepção calorosa e encantadora de seu irmão Sérgio abriu espaço para que, na sala, se acomodasse a amizade, sorvendo geladas (e goles destilados...rs), matando saudade, revelando enredos da vida, contando casos, soltando a emoção. E a cantoria tão gostosa foi a deliciosa maneira de passar algumas horas em companhia deste meu amado Rodolfo, conhecendo sua filha Bia, apresentando-lhes a "minha" Bia, amiga de todas as horas - estreitando ainda mais os laços deste afeto, que nem preciso lhes dizer,  é o maior de todos os presentes que eu poderia ter!

Obrigada Sérgio e Sandra, pela acolhida em sua casa, obrigada aos amigos que estiveram por aqui, dividindo comigo a emoção que sinto ter sido provocada em cada um de vocês, também.

Fica esta imagem que foi bem capturada, que fala mais do que eu tentei lhes dizer.




                      OBRIGADA, Rodolfo, OBRIGADA, OBRIGADA, OBRIGADA!!!

* Acho que agora, fui eu que "te peguei"...rsrsrs

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Para Denise

     Lembro-me dela exatamente como uma poesia. Ou uma borboleta. Ou uma mulher. Ou uma amiga. Ou seja, lembro-me dela exatamente como ela é.

Íris da Praia
FANTASIA
A lagarta, num momento de silêncio,
Descobriu-se borboleta.
Desdobrou maravilhada suas asas,
Secou-as ao sol quente da inspiração
E voou pelos jardins da poesia.
Estrofes por canteiros, versos por flores,
Rimas por néctar, métrica por pólen,
Inebriantes metáforas os odores,
Trovas, sonetos, indrisos, haikais,
Rosas, violetas, orquídeas, jasmins...
Pequenas flores silvestres, sem nome,
Versos soltos, estranhos perfumes.

Por vento os sentimentos mais profundos
Às vezes brisa leve, às vezes furacão,
Amor, desejo, ternura, paixão...
Por chuva as palavras indiscretas
Dizendo coisas secretas
Ou qualquer coisinha à-toa,
Buscando dar voz à mágoa,
Granizo, chuvisco, garoa,
Sereno, orvalho, pé d'água...

Por adubo os sonhos mortos
Ou amores já passados
E tantos caminhos tortos,
Projetos mal enterrados,
Tornando o solo fecundo,
Trazendo vida da morte
Conforme é a lei do mundo
E o livre arbítrio da sorte.

E enquanto houver luz do dia,
Voa! Voa, borboleta!
Voa, porque és poesia
Que só estará completa
Quando achares um poeta,
Seja ele crente ou ateu,
Mas que te ame, borboleta,
Que te ame... assim como eu.
*   *   *   *   *

POBRE CANTO MEU
Quisera eu cantar-te, minha amada,
Com a grandiloquência que merece
O fundo sentimento que me cresce
E jorra de minh'alma arrebatada.

Mas minha voz se cala e emudece
Só no pensar em teu vulto de fada,
Pois és a Poesia adorada
Que em rimas de amor em mim floresce.

Ah! como é pobre a lira deste errante
No extrair d'alma a tradução vibrante
Deste sentir que aumenta a cada dia!

Ó Musas! Dai-me o verbo altissonante!
Fazei do humilde verso um gigante
No qual eu cante a própria Poesia!
*   *   *   *   *

BARGANHA
Dou-te um milhão pelos teus pensamentos
E cedo por dez réis de mel coado
Este versejamento mal cuidado
Só por ficar contigo alguns momentos.

Por um olhar maroto e dourado
Dou-te cem beijos... não, dou-te duzentos;
E teus suspiros, que se vão aos ventos
Eu arremato num só lance ousado.

Dou-te mil versos por um só sorriso
Daqueles que te brotam sem aviso
Dos lábios orvalhados de luar;

E por um beijo teu eu ofereço
Aquilo a que ninguém pode por preço:
O mar do meu amor, o mor do meu amar.

     Feliz aniversário, Denise!

Niterói, outubro de 2012
Rodolfo Barcellos

PS: O dia da festa é 28 (mais um dia da Poesia); mas resolvi antecipar esta postagem para ter a chance de entregar-lhe o presente pessoalmente.

sábado, 20 de outubro de 2012

Mais um dia...


     Em março o Sete Ramos publicou em "É hoje?" algumas datas adotadas para celebrar a poesia e os poetas:


Imagem roubada de Graça...
a: 14 de março, data do aniversário de Castro Alves;
b: 21 de março, por decisão da UNESCO;
c: 16 de agosto, em Recife;
d: 4 de outubro, em diversos locais do Brasil;
e: 20 de outubro, por Decreto-Lei da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro;
f: 4 de dezembro, no Rio Grande do Sul.
     A arte da Poesia é das mais antigas de que se tem notícia, e é universal - existe em todas as culturas. Não admira que o Dia do Poeta - ou da Poesia - tenha mais marcas nos calendários que qualquer outro...


Enquanto o mundo não decide o dia,
Aqui no Sete Ramos se decreta
Que toda noite é noite de Poesia,
E todo dia é dia do Poeta!

     Portanto, obedecendo a meu próprio decreto, ofereço a poetas e poetisas a minha homenagem pelo dia de hoje (alternativa e) - pois embora as celebrações sejam regionais, a poesia é universal.


De poeta e de louco

Um poeta é aquele ente,
Não sei se são ou doente,
Capaz de ouvir estrelas.
É um fingidor competente:
Finge até a dor que sente
Se acaso não pode vê-las.

Assim Bilac e Pessoa,
Em rimas fáceis, à-toa,
Enquadraram todos nós;
Sinta-se pois numa boa
O poeta da garoa
Ou o que canta arrebóis.

Um poeta é meio louco,
De cada um tem um pouco,
Isso é verdade concreta.
E o inverso é verdadeiro:
Seja pouco ou por inteiro
Todo maluco é poeta.

Um poeta de verdade
Tem saudade da saudade
De quem nunca conheceu;
E compõe bela poesia
Pra cantar a nostalgia
De alguém que já esqueceu.

Acorda de madrugada
Quando a rima procurada
Aparece no seu sonho,
E escreve a frase buscada
Sobre o corpo nu da amada
E volta a dormir, risonho.

Um poeta é tudo isso
Pois seu maior compromisso
É com algo transcendente;
É por isso, meu amigo,
Que não digo nem desdigo
Se sou são ou sou doente.

*   *   *   *   *
Bolsa de Poesias
ou
Você Escolhe o Final

Um poeta vende sonhos,
Mercadeja ilusões;
Falseia pesos, tamanhos,
Trafica com emoções.

Barganha com sentimentos,
Finge por nada e por tudo,
E aos fregueses desatentos
Rouba no troco miúdo.

Faz operação casada
Vendendo gato por lebre.
E à clientela enciumada
Diz que poema cura febre.

Vende esperanças vencidas
Por dez réis de mel coado;
Promete juntar as vidas
De quem vive separado.

Diz que crédito merecem
Assuntos do coração
E embute juros que crescem
Nas parcelas do cartão.

Insiste em que você prove
Um verso que vende - fala -
Por um e noventa e nove
Dando por troco uma bala.

Diz-se agente de Cupido
E doutor de corações;
Que um soneto bem medido
Vale dez mil orações.

Contrabandeia Nerudas
Sem passar pela Aduana;
Sonega somas polpudas
E fica com toda a grana.

Mas um dia o delinquente,
Distraído pelo tédio,
Se apaixona loucamente
E prova o próprio remédio.

E tenta comprar fiado
O que ele vendeu à vista:
O soneto mal rimado,
A trovinha equilibrista.

É aí que ele descobre,
"Marrai filidô sô rei",
Que o que vendia por cobre
É fino ouro de lei.

E derrama coplas loucas
Na conquista da amada:
Rimas ricas como poucas,
Métrica cheia e contada.

Acontece que a musa
Nada entende do riscado;
Na rima fica confusa
Na métrica conta errado.



Final 1:

E o poeta abandonado
Desiste de amar um dia,
De sonhar sonho sonhado
E volta à sua poesia...

Final 1 (variante):

E o menestrel chicaneiro,
Com a alma em agonia,
Engole o batráquio inteiro
E volta a vender poesia...





Final 2:

Mas o poeta, matreiro,
Conquista logo a amada
Com verso solto, certeiro,
Sem metro ou rima, sem nada.

E o malandro, finalmente,
Encontra sua alegria
E passa os dias contente
Vivendo a própria poesia.



Niterói, outubro de 2012
Rodolfo Barcellos

PS: Parabéns, Lois! Feliz aniversário!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

O clube (repostagem)

Imagem: Josephine Wall

5- HMHMHMHMHMHMHMHM HMHMHMHMHMHMHMHM
4-  H M H M H M H M H M H M H M H M
3-   H   M   H   M   H   M   H   M
2-     H       M       H       M
1-         H               M
                 VOCÊ 

     Esta é sua árvore genealógica nas últimas cinco gerações, desde os seus tetravós, a não ser que você tenha brotado de uma couve ou seja uma ovelha chamada Dolly.
     São uns 150 anos, contando sua idade. Seus ancestrais somam, nessas gerações:

     1+2+4+8+16= 31 Homens e 31 Mulheres.

     Note que, se qualquer uma dessas 62 pessoas não tivesse tido filhos, você não existiria. Mas qual é a probabilidade de você existir?
     Vamos raciocinar: se seu pai e sua mãe tivessem, cada um, 50% de probabilidade de gerar um filho durante toda a vida, você teria 25% de chance de existir. Das quatro combinações possíveis, somente uma nos brindaria com sua presença neste mundo:

Mãe apta?    Pai apto?    Filho nasce?
   Não          Não            Não
   Não          Sim            Não
   Sim          Não            Não
   Sim          Sim            Sim

     Fica claro que a probabilidade do filho é igual à probabilidade do pai vezes a probabilidade da mãe. Em outras palavras, 50% x 50% , que dá 0,5 x 0,5 = 0,25, ou 25%, ou 0,5 à segunda potência. Resumindo: 1/4. 
     No seu caso, vamos considerar que a aptidão dos seus ancestrais para gerar vários filhos tenha sido de 100%. Êita família bem dotada! Só que para exercer esse dom, cada um deles teve que sobreviver em um mundo onde grassavam guerras e epidemias, e a mortalidade infantil era absurdamente alta. Muitas pessoas não chegavam à idade de procriar, e mesmo entre os que lá chegavam havia quem não quisesse ou não pudesse gerar filhos.
     Mas sejamos generosos e digamos que 99% atingissem essa idade e efetivamente deixassem herdeiros. Então, qual é a chance de que 62 pessoas chegassem a ter pelo menos um filho cada uma? 
     O cálculo é fácil: 0,99 elevado à 62ª. potência... o que dá 0,54, ou 54%. Parece que você escapou por pouco...
     Se retrocedermos só mais uma geração, suas chances diminuem para 28%. Depois, 7,8%, 0,50% - e assim vai. Melhor parar por aqui...
     É claro que esse cálculo aproximado serve para todos nós. Somos todos sobreviventes, escolhidos, ganhadores.

     Bem-vindo ao clube dos premiados. 

     (Por Rodolfo Barcellos - baseado numa passagem do livro "O Mundo de Sofia", de Jostein Gaard).
*   *   *   *   *
     Este texto é uma transcrição revisada do original, de mesmo título, publicado em março de 2010 no "Sete Ramos de Oliveira" e republicado no "Quiosque do Pastel" em dezembro do mesmo ano. Nessa ocasião, o amigo João Esteves comentou:
Oi, Rodolfo. 
Você tece considerações muito interessantes aqui no seu post de estreia. 
Fiquei foi meio 'pulgatrasdorelha' com os números aqui apresentados. É tudo sério? Achei-os meio esquisitos, sei lá, mas acho que isso pode tranquilamente correr por conta da minha sesquipedal ignorância matemática.
A propósito, sempre me intrigou muito uma questão paralela.
Seguinte: eu venho de um casal, e meu pai mais minha mãe também, cada um. Meus quatro avós, meus oito bisavós, meus dezesseis trisavós, meus trinta e dois tetravós, meus sessenta e quatro pentavós, e por aí vai, todos também, cada um veio de um casal, invariavelmente. No entanto, se quanto mais recuo no tempo, mais pessoas encontro que acabaram me produzindo, como é que simultaneamente, quanto mais pro passado eu for, menor população mundial haverá?
Já ouvi algumas explicações 'numéricas' que nunca entendi. Minha matemática é aquela coisa só pro gasto, que não uso pra muita coisa além de contar dinheiro. E meu dinheiro nunca exigiu muita matemática.
Bem vindo ao quiosque.
29 de dezembro de 2010 17:22

     A Lu emendou:
kkkkkkk Oi João, meu amigo como vai?
Como sempre suas considerações (coments) são sempre muito inteligentes, somadas às aquelas sutilezas hilárias tão peculiares em ti.
Bem vindo de volta e vambora que o Quiosque tá a todo vapor e com sangue novo.
Abraços da Lu
29 de dezembro de 2010 19:14

     A Milene disse:
Olha se não é El Brujo que por aqui se encontra também? 
Recebi o convite da Lu, lisonjeadíssima aceitei e bora ver no que dá.
Saiba que muito disso é culpa sua, Senhor Barcellos, que fica a propagar por aí a minha veia de cronista, a qual nem sei se é real.
Nem vou comentar nadinha da postagem, pois fugi às aulas de Biologia. Fugi a um tantão de aulas, a bem da verdade.
Beijos e afagos.
30 de dezembro de 2010 00:37

     Confesso que fiquei embatucado com a questão posta pelo João e, meio na dúvida, alinhavei mal e mal uma "explicação" para respondê-la:
- Lu e João, obrigado pela acolhida generosa a este pasteleiro neófito.
- João, não sou matemático, mas sempre fui fascinado pelos números e seus malabarismos. Malba Tahan, com "O Homem que Calculava", foi meu guru na minha agora longínqua adolescência, e você pode confiar nos cálculos que apresentei na matéria.
- Acontece que, quanto mais recuamos no tempo, mais nos deparamos com casamentos consanguíneos, muitas vezes propositais (os dinásticos, por exemplo), mas geralmente por desconhecimento das pessoas do povo, que não tinham registros genealógicos.
- Isso reduz substancialmente o número de ancestrais mas não afeta o cálculo probabilístico, que se baseia no número de casais.
- Milene, que bom que temos mais um lugar para bobagear... e se me surpreendi ao vê-la desembarcar aqui, é porque não tinha visto você no trem. E não bote a culpa em mim; agora você sabe que o "Certificado de Excelência" do "Sete Ramos" é coisa séria. E a julgar pelos pastéis do "Quiosque", o pasteleiro do "Sete Ramos" vai ter que preparar em breve uma nova fornada do cobiçado diploma...
- E que bons ventos levem a nau "Quiosque" e sua tripulação na travessia do ano que está ali na esquina...
30 de dezembro de 2010 09:14 

     Leonel comentou:
Pô, cara, se com todas essas "peneiras", somos os "privilegiados" 6 bilhões que se acotovelam neste grãozinho de poeira espacial, acho que tem que mudar a subrotina!
Mas, o asteróide vai dar um jeitinho nisto, já-já! O Jair tá torcendo!
30 de dezembro de 2010 20:18

     Passados os efeitos etílicos das festas de fim de ano, o óbvio me atingiu e eu fiz novo comentário à questão posta pelo João:
- Voltei lá de 2011 para esclarecer: os nossos 62 tetravós têm mais do que um só tetraneto. No geral, têm centenas, e às vezes milhares... é por isso que no nosso mundinho tá saindo gente pelo ladrão.
- Deixa eu voltar pro futuro. Esse negócio de viajar no tempo às vezes confunde a gente.
4 de janeiro de 2011 09:17 

sábado, 13 de outubro de 2012

Sete sete-setes, X

     Essas sete sete-setes são do início de julho; mesmo a X.3, que era originalmente uma sextilha feita há mais de um ano como boas vindas à Marcia - minha centésima seguidora - só recebeu a forma atual de setilha através do "enxerto" de um verso extranumerário; por isso mantive sua data original.
Foto: Beatriz Barcellos

X.7- Marilene, 6/7/12
O que era inexpressivo
Ganhou força de expressão
Neste teu poema vivo,
Nesta sublime canção;
E em tua alma sensível
Exprimiu-se o inexprimível
Na voz de teu coração!

X.6- Denise, 5/7/12
Uma Fênix renascida
Um novo ninho requer
Como abrigo e guarida
Para uma nova mulher.
As cinzas, levou o vento;
Na brisa foi-se o lamento
De quem bem sabe o que quer.

X.5- Ma, 5/7/12
O mundo sorri à chuva
Que fecunda o rude chão
Fazendo brotar a uva
E o trigo - o vinho e o pão;
E mistura-se à terra
Formando o barro que encerra
A arte que te sai da mão.

X.4- Marcia, 5/7/12
É no silêncio e no frio
Do inverno que, enterrada,
Brota a semente plantada
Que dará flores no estio.
Assim também a poesia
Germina n'alma vadia,
No silêncio... no vazio.

X.3- Marcia, 10/6/11
Querida amiga Marcinha
Que pousaste nos meus Ramos
Como uma alegre rolinha,
Seguindo-nos já estamos;
Sê bem-vinda, amiga minha,
Hoje tu és a rainha:
Contigo aos cem nós chegamos!

X.2- Graça, 2/7/12
Um sete-sete discreto
Inspirado em tua arte
Recebe valor concreto
Emoldurado destarte;
Honra a tua atitude
Celebrando a negritude;
Meu apoio quero dar-te!

X.1- Milene, 1/7/12
Coisas que são como são,
Imutáveis, rijas, mortas.
Coisas que são como estão,
Ora retas, depois tortas,
São vivas e palpitantes,
São mutáveis, inquietantes,
São você... ora, se são!

Niterói, outubro de 2012
Rodolfo Barcellos

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A última flor


Ao apagar das luzes de 2009 o recém-nascido "Sete Ramos" ensaiava seus primeiros voos - ainda sem rumo certo. E valeu-se de um artigo engavetado há alguns anos nos arcanos empoeirados de um HD que já exalou seu último suspiro.
*   *   *    *    *
Pesquisar na Internet é um "hobby" para mim. O "Google" é meu "site" favorito. De uma dessas pesquisas, em maio de 2006, nasceu o artigo seguinte:

RAMALHETE LATINO

"Última flor do Lácio, inculta e bela" (Olavo Bilac, poeta brasileiro)

O primeiro verso do soneto de Bilac refere-se à própria língua portuguesa. O poeta queixa-se das vicissitudes que enfrenta para dominar as peculiaridades da língua e toma o próprio Camões - no terceto final - como testemunha das dificuldades do idioma. Ele não sabia que as coisas iriam se complicar muito mais...
A última flor do Lácio não é mais a última. Foi polinizada por borboletas que voavam de flor em flor, e produziu frutos e sementes que se espalharam pelo mundo, gerando novas variedades sempre que encontravam solo fértil. Um destes foi a própria terra de Bilac - o Brasil. Aqui, os dialetos dos índios e dos africanos mesclaram-se com o doce acento lusitano e os falares dos imigrantes de todo o mundo para gerar uma nova variedade da flor - que está sendo chamada, nos meandros da Internet, sem a menor cerimônia, de Pt-BR!
Bem, saibam todos quantos isto lerem que o Pt-BR é uma língua viva, assim como as nossas irmãs d' África e doutras paragens. Sendo viva, tem sua identidade própria, que lhe é conferida em grau maior por quem a lê e fala; em grau menor, por quem a escreve (como eu, aqui); e em último grau por quem acha que nela manda ou quer nela por mordaças.
Aqui, no Brasil, temos uma Academia que cuida desses assuntos. Justiça lhe seja feita: a ABL tenta evitar o autoritarismo didático, e procura acompanhar, com cautela e prudência, as modificações populares no falar cotidiano. Tirante tal ou qual tiro torto, os alvos principais de seus ataques são as expressões "da moda", que são como fogo de palha: espalham-se rapidamente, mas não têm conteúdo capaz de garantir-lhes a sobrevivência a longo prazo.
Passeando pela Internet (ou melhor, navegando(*)), notei no "forum" da Wikipedia um interesse inusitado a respeito de siglas e abreviaturas estrangeiras e da maneira correta de traduzi-las (ou representá-las) em português. Alguns exageros - aceitáveis no clima de liberdade indispensável à finalidade do "site" - me causaram espanto. Não me pude conter, e resolvi "botar lenha na fogueira". Aí vão algumas sugestões para abreviaturas "traduzidas":

RADAR: DDDOR - Detecção de Direção e Distância por Ondas de Rádio
LASER: ALEER - Amplificação de Luz por Emissão Estimulada de Radiação
RAM: MAA - Memória de Acesso Aleatório

Para facilitar a pronúncia, poderíamos usar variantes fonéticas como DeDiDOR, ALEmER e MAceA.
Parece ridículo, não? Bem, é mesmo. Mas, saindo do campo minado das siglas e abreviaturas, não estamos livres de sustos no terreno dos termos de origem estrangeira.
Algumas "traduções" são simplesmente adaptações fonéticas. Para aproveitar o embalo, vejamos algumas dessas que poderiam ser "melhor" traduzidas por "acadêmicos" empedernidos (acredite, eles bem que tentaram):

Football: Balípodo ou Ludopédio
Chauffeur: Cinesíforo
Basketball: Cestobola

Mais ridículo ainda? Aqui, no Brasil, sim. Mas "futebol", "chofer" e "basquetebol" já passaram da fase de "adaptação fonética" ou de "estrangeirismo" e se incorporaram ao nosso vocabulário, simplesmente por trazerem um conteúdo rico em significado para o nosso povo, que adotou esses termos rapidamente. Deixo ao critério do leitor que teve a paciência de me acompanhar até aqui a "tradução" dos seguintes termos e expressões:

Windsurf - Rollerball - Skate - Bungee Jump - Off Shore - Bodyboard - Quark -...

Note que os termos que se referem a atividades esportivas são maioria nas listas anteriores. São, na verdade, grãos de pólen trazidos de outras flores por abelhas e borboletas operosas e que poderão (ou não) provocar mutações genéticas em nosso idioma.
Alguns acreditarão que esse processo pode provocar defeitos congênitos ou adquiridos ao nosso querido Pt-BR. Ledo engano! Nosso falar é forte e saudável, e saberá se defender com seus próprios anticorpos, preservando as mudanças que lhe trazem riqueza e rejeitando todas as demais. Mas esse processo demora um pouco, e expressões novas e estranhas sempre estarão circulando na mídia(**) e na boca do povo, enquanto são lentamente modificadas e absorvidas ou agonizam e perecem por falta de exercício. Já vimos como pululam neologismos esportivos em nossa terra.
Caros companheiros de fala e de idioma, descendentes e herdeiros da Flor do Lácio: deixem que o fruto gerado por essa flor espalhe suas sementes e se multiplique em dialetos e acentos que retratem fielmente o modo de ser e de falar das gentes que os usam. Cuidem para que cada modo novo de falar e escrever seja uma pequena joia acrescentada ao seu patrimônio cultural. E assim, a Flor do Lácio nunca será a última, mas sim a mãe de muitas outras flores.

NOTAS
(*) Navegando: gosto da expressão "navegar pela Internet". Ela transfere para uma atividade moderna e absorvente todo o significado que lhe foi conferido pelos grandes navegantes portugueses. Também o neologismo "surfar na Internet" carrega uma expressividade toda sua, em que o verbo e sua regência despertam a ideia de uma atividade mais leve, esportiva e voltada para o lazer.
(**) Mídia: pessoalmente, detesto esse termo, mas parece - ao menos por agora - que esse grão de pólen vai vingar. De fato, a língua se enriquece, pois não temos outra palavra que, com a mesma concisão, contenha todo o significado dessa.


REFORMA ORTOGRÁFICA
Gosto e não gosto. Valeu a queda do trema, pelo menos. Aqueles dois pontinhos não serviam pra nada, mesmo.
Mas pretendo continuar grafando minhas idéias e medéias como sempre. Quanto ao resto, vamos dar tempo ao tempo...
*   *   *   *   *
Nota: quanto às medéias e idéias, mudei de ideia de lá pra cá... não quero comprar briga com os doutos acadêmicos. Mas ainda acho que em certos casos poder-se-ia admitir uma grafia alternativa, ressalvada a preferência pela forma "oficial".

"ENTRE MIM E TI, MEDEIA, MEDEIA, PELO QUE VEJO, UMA GRANDE DISTÂNCIA".

Mas na questão do hífen, ainda não engoli sua ausência (por exceção) no paraquedas (por analogia com paraquedismo) e no malmequer (e como fica a analogia com o bem-me-quer?)
Xapralá... como não sou profissional da área, já sei que vou ser massacrado por alguns, mesmo...

sábado, 6 de outubro de 2012

Trovas 161-170

     Mais trovas-comentários. A 163 é, na verdade, uma quadrinha em metro múltiplo - 9:10:11:10 - cujo fluxo é sustentado pelo ritmo da leitura. Estas são de maio. E até o blog do Xipan me inspirou uns "versejamentos"...
Imagem: Blog da Mellíss
170- Sissym, 14/5/12
Esta trova de improviso
Me brotou do coração;
Não nasceu do meu juízo,
Mas da minha intuição.

169- Xipan, 12/5/12
Pelos dois anin de brogue
Ocê merece essa trova;
Mas na breja que ocê prova
Óia lá... Num si afogue!

168- Ma, 12/5/12
Rosas que enfeitam um jarro
Pelas mãos da jardineira
Rosas que brotam do barro
Ao toque de Ma Ferreira!

167- Carla, 10/5/12
Cada instante é um passo
E a vida é uma dança
Que se dança no compasso
E no espaço da esperança.

166- Zilani, 10/5/12 (Dia das Mães)
Mães não se vão, na verdade;
Elas transformam-se, um dia,
De presença em saudade,
De ternura em poesia...

165- Isa, 10/5/12
Esse doce de pitanga
Já em seu poema avisa:
Não cabe tristeza ou zanga
Nas quintas-feiras da Isa...

164- Marcia, 10/5/12
Outono. Destino ou sorte,
Completa seu ciclo a flor;
Fruto ou vaso, vida ou morte,
Sempre é símbolo do amor.

163- Cecília, 7/5/12
Quem- és- tu,- que- tais- pa-la-vras- ou(sas),
Pro-fun-das,- con-tun-den-tes,- men-sa-gei(ras)?
És- poe-ti-sa.- E- em- ri-mas- sor-ra-tei(ras)
Tu-a- lou-cu-ra- na- ra-zão- re-pou(sas).

162- Isa, 7/5/12
Romantismo no trovão,
Se a poetisa encontrar,
Isso é mais uma razão
Para ela poetizar...

161- Carla, 7/5/12
Tuas asas te levaram
Por serem asas de gentes
Por céus muito diferentes
Dos que asas de anjo buscaram.

Niterói, outubro de 2012
Rodolfo Barcellos