quinta-feira, 29 de julho de 2010

Fé e dúvida

- Os amigos que vêm me acompanhando nos Sete Ramos já notaram que eu gosto de ficar em cima do muro, em questões polêmicas. Não é por receio de comprometer-me ética ou moralmente com um ou outro lado: quando o assunto envolve desrespeito a direitos humanos, eu me engajo definitivamente na defesa dos mesmos, esteja certo ou errado.
- Mas se a questão for puramente filosófica ou acadêmica, ficar em cima do muro me permite observar os dois lados com isenção e imparcialidade; ajuda-me na análise dos argumentos conflitantes e evita que eu me sinta inclinado emocionalmente a defender um ou outro lado.
- Infelizmente, não existem questões puramente filosóficas ou acadêmicas; fanáticos e fundamentalistas se encarregam de levar essas perguntas para o terreno das respostas cristalizadas e definitivas, mesmo quando conflitantes.
- Mas não é a esses que eu falo. Dirijo-me àqueles que - como a abadessa do filme A Noviça Rebelde - procuram manter sua fé em suas dúvidas. Como eu...
- Portanto, vamos direto à pergunta maior: Deus existe?
- Não busque respostas na ciência. Se Ele existe, está acima do tempo, do espaço e de outras dimensões aceitas ou reconhecidas pela ciência.
- Não busque respostas nas religiões. Elas nos trazem mensagens fragmentárias e conflitantes do incognoscível. Não há linguagem humana capaz de traduzir a transcendência de um ser infinitamente superior.
- A única resposta aceitável está no coração e na alma de cada um de nós - respostas diferentes umas das outras, às vezes mutáveis e conflitantes... porque não são nem "científicas" nem "dogmáticas".
- Na minha alma e no meu coração, guardo a minha resposta. Você, com certeza, guarda a sua.
- Mas, por favor, não jogue pedras em quem fica em cima do muro... às vezes, dói.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Programa NEO

Cratera de meteorito no Arizona - cfq-blog
- Esta matéria, por direito, deveria ser reservada ao meu amigo Leonel, expert no ramo. Mas o assunto é vasto, e ele não se importará se eu tirar uma casquinha.
- O filme Impacto Profundo é verossímil. Tirando a inevitável personificação dos EUA como salvador do mundo, o enredo é envolvente, o elenco é dos bons (Morgan Freeman está impecável) e os efeitos especiais nada deixam a desejar. E quanto ao embasamento científico?
- A NASA tem um programa de monitoramento de objetos espaciais cujas órbitas os trazem periodicamente às proximidades da Terra. O NEO (Near Earth Objects) acompanha cerca de 4000 objetos - asteróides, lixo espacial (satélites desativados, estágios de foguetes lançadores etc.), restos de cometas esboroados e outros. O objetivo principal é a previsão tempestiva de possíveis impactos contra nosso planeta.
- Objetos pequenos não são perigosos. Diariamente, a Terra é bombardeada por centenas de pedrinhas e milhares de grãos de areia cósmicos, que se desfazem na alta atmosfera, como estrelas cadentes. Uma ou duas vezes por semana, uma pedra maior - com o tamanho de uma bola de basquete - consegue atingir a superfície, antes de ser totalmente desintegrada. Há registro de pelo menos uma morte causada por um desses meteoritos.
- De tempos em tempos, uma pedra ainda maior, do tamanho de um carro ou de um ônibus, causa seus estragos. O meteorito Bendegó, exposto no Museu Nacional, no Rio, é um exemplo. Há outros, menores e maiores, espalhados pelos museus do mundo. Se um desses cair em uma área densamente povoada, a tragédia será grande. Por sorte, a grande maioria atinge os oceanos ou locais ermos.
Meteorito Bendegó
- Mas que dizer de uma pedrona, do tamanho de um campo de futebol, ou ainda maior?
- Bem, isso já aconteceu. Nosso planeta tem cicatrizes de impactos fortíssimos. A mais conhecida é a Cratera do Meteorito, no Arizona (200 metros de profundidade e 1250 de diâmetro). Existem indícios maiores, no Yucatán e na África, que são geralmente relacionados aos eventos de extinção em massa da vida na Terra (como a extinção dos dinossauros). Outra evidência é o chamado "evento de Tunguska", em 1908, quando uma explosão nunca vista destruiu milhares de hectares de floresta na Sibéria. Testemunhas afirmaram ter visto uma "bola de fogo" no céu, e análises da área estimaram em uns 15 megatons a potência da explosão. Mas não há indícios de impacto direto, como uma cratera. Uma expedição, em 1927, tirou essa foto da região devastada:
Tunguska, 19 anos após o impacto
- Esses megaimpactos acontecem em intervalos de milhões de anos. E agora, a bola da vez é o asteróide Apophis - com 45 milhões de toneladas e 350 metros de diâmetro, cadastrado no programa NEO desde sua descoberta em 2004.
- Todos os anos, em meados de abril, a Terra cruza em seu caminho a órbita do Apophis. Geralmente, ele está noutro ponto de sua órbita... mas vez ou outra, eles se aproximam perigosamente.
- A próxima aproximação máxima está calculada para 13 de Abril de 2036. A NASA já comunicou publicamente que a probabilidade de o asteróide atingir nosso planeta nessa data é muito reduzida. Mas, pelo sim, pelo não, cientistas russos anunciam que vão estudar uma maneira de salvar a Terra.
- Uma das hipóteses, aventada pela agência espacial russa, é construir uma nave não-tripulada, com a missão de ir ao encontro do asteróide e destruí-lo ou desviá-lo. Isso dá outro filme...
- E para quem ainda aposta no fim do mundo em 2012, Don Yeomans (coordenador do programa NEO) tem um recado em

http://eternosaprendizes.com/2009/11/12/2012-don-yeomans-cientista-da-nasa-e-coordenador-do-programa-neo-explica-o-que-nao-vai-acontecer/comment-page-2/

sábado, 24 de julho de 2010

Evolução estranha

- Nosso planeta solidificou-se há uns 4,5 bilhões de anos. Um bilhão de anos depois, surgiu a vida. Se por geração espontânea, milagre divino, contaminação cósmica ou intervenção alienígena, discutiremos em outra ocasião. Vamos nos limitar aqui a acompanhar a evolução dos seres vivos desde então.
- Às primeiras formas de vida, chamamos "primitivas". Mas "primitivo" significa "anterior", não "inferior". Sabemos que os peixes cartilaginosos são anteriores aos peixes ósseos; e os tubarões são um exemplo de peixe primitivo que não precisou de grande evolução para ser um sobrevivente muito bem-sucedido.
- Se você estivesse para ser abandonado numa ilha deserta e lhe fosse permitido escolher algumas armas e ferramentas, qual seria a melhor escolha? Rifle ou faca? Furadeira ou martelo? Serra elétrica ou serrote?
- A opção é clara. Objetos primitivos são a escolha óbvia para sobreviver num ambiente selvagem, sem apoio logístico.
- Durante 3,5 bilhões de anos, os organismos "primitivos", simples e microscópicos, evoluiram e se multiplicaram, diversificando-se até dar origem a incontáveis espécies - das quais 99% pereceram no meio do caminho, vítimas da Seleção Natural. Essa evolução dos seres vivos através das eras consistiu em modificações do organismo - mudanças internas, portanto.
- Mas há uma espécie em particular que parou de evoluir biologicamente já faz um bom tempo. Por motivos ainda desconhecidos, há uns 300.000 anos o bicho-homem transferiu seus passos evolutivos para o ambiente externo. E desde então, as etapas evolucionárias desse curioso bípede são conhecidas como "idade da pedra", "idade dos metais", "era atômica", em contraste com os peixes e demais seres vivos.
- Evolução significa adaptação, mas não adaptabilidade. De fato, um organismo adaptado a um novo tipo de ambiente tem grande dificuldade para reverter à condição anterior, se necessário. Focas, pinguins e ursos polares já não suportam o clima tropical onde seus ancestrais viviam, e dificilmente sofrerão qualquer adaptação evolutiva nesse sentido, por conta do aquecimento global. Caso o aquecimento continue, seu destino mais provável é a extinção.
- Só o bicho-homem, com sua evolução sui-generis, extra-corpórea, desfruta de uma adaptabilidade quase universal. Mas há um preço a pagar. A "Evolução exterior" reduziu a necessidade de adaptações biológicas (Evolução interior) e sem esta última, nosso organismo fica mais e mais dependente da parafernália tecnológica a que nos escravizamos.
- Hoje, poucas comunidades usam objetos primitivos como instrumentos preferenciais na sua luta pela sobrevivência. Algumas o fazem por imposição da natureza ou limitações próprias (esquimós, índios selvagens, aborígenes australianos etc), outras por opção cultural (os "Amish", por exemplo). São essas que garantirão, talvez, por sua adaptabilidade, a sobrevivência do Homo Sapiens, no caso de fracasso desta linha evolutiva antinatural.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ricas Estrelas

- Nos meus anos de infância e adolescência, morando em cidades do interior (Cantagalo-RJ, Barbacena-MG, Rio Verde-GO), acostumei-me a contemplar o céu noturno longe das luzes das metrópoles. As estrelas cativavam-me especialmente.

- E, já na juventude, começando a versejar, resolvi homenageá-las com rimas ricas - formadas com palavras de diferentes classes gramaticais. Bem ou mal, alguma coisa saiu:

Como serão as estrelas?
Imagino aqui a vê-las,
Deitado, a filosofar.
Serão como as andorinhas,
Ou como as aves marinhas
Que adejam sobre o mar?

Como serão as estrelas?
Dizem os sábios que elas
São astros celestiais.
São esferas de gás quente,
Brilhante, incandescente,
Que não fenecem jamais.

Como serão as estrelas?
São tão distantes, tão belas
Nas profundezas dos céus...
Devem ser teus devaneios,
Teus sonhos e teus anseios,
Brincando à sombra de Deus!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Esqueci do Paul!

- Ontem levantei-me bem cedinho, para assistir à estréia das meninas brasileiras no mundial sub-20 de futebol, na Alemanha, contra a poderosa Coréia do Norte - atual vice-campeã do mundo na categoria. Perdemos por 1 x 0, resultado normal; a CBF tem muito trabalho a fazer nas categorias de base, incluindo os marmanjos.
- O destaque do time é a lateral Leah Lynn Gabriela Fortune. A paulistana é filha de pais norte-americanos e mora em Chicago. Ela costuma cobrar o lateral virando uma cambalhota. A princípio, pensei que era apenas mais um exibicionismo, comum na categoria; mas logo verifiquei que a acrobacia realmente funciona como uma espécie de catapulta; ela consegue colocar a bola na pequena área, e por duas vezes levou perigo à goleira adversária. Boa sorte para as nossas meninas.
- Depois do jogo, repassei minhas Crônicas Africanas e verifiquei que havia me esquecido de um personagem importante: o polvo Paul.
- O simpático molusco, da espécie Octopus Propheticus, acertou todos os prognósticos e consta que seu empresário está em negociações com diversos grupos de "bolões" esportivos para prestar serviços de consultoria. No Brasil, os bicheiros já avisaram que são contra a novidade.
- Dizem mesmo que ultimamente o prato do dia em diversos restaurantes holandeses tem sido polvo gratinado. E enquanto isso, corre pela Espanha um novo dito popular: A voz do polvo é a voz de Deus.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Ciclo de Vida

- Li A Ditadura dos Cartéis, de Kurt Rudolf Mirow, numa edição de 1978. O autor discorre sobre os esforços que certos segmentos industriais empreendiam, na época, para reduzir o tempo de vida útil de seus produtos, com o objetivo de forçar o aquecimento do consumo e assim maximizar os lucros.
- Dava como exemplo, entre outros, o caso das lâmpadas incandescentes, mostrando que os modelos mais antigos duravam dez vezes mais que os mais recentes e denunciava a existência de linhas de pesquisa destinadas a definir métodos de fabricação capazes de assegurar que o produto não sobrevivesse por muito tempo ao prazo de garantia.
- Bem, ele estava certíssimo. Atualmente, o conceito de ciclo de vida é aplicado extensivamente ao projeto de qualquer produto - até mesmo no ramo de serviços!
- Argumentam os empresários que essa abordagem garante os níveis de emprego e de modernização do setor. É verdade... mas garante mais ainda o faturamento das empresas e o aumento do lixo produzido pela comunidade...
- Há setores onde o ciclo de vida é justificável: são geralmente indústrias de alto nível tecnológico, como a aviação e a astronáutica, a informática e alguns aspectos da medicina. Mas mesmos nessas áreas há exceções: o velho DC-3 Dakota ainda tem exemplares voando na aviação civil (pelo que diz a Wikipedia), enquanto na militar o vovô B-52 Stratofortress ainda assiste impávido seus sucessores serem recolhidos aos museus. A Abreugrafia, invenção tupiniquim, continua salvando vidas pelo diagnóstico precoce de moléstias pulmonares e cardíacas.
- Se você rebuscar pela sua casa, com certeza vai encontrar aparelhos antigos que ainda funcionam: relógios, caixinhas de música, algum brinquedo... geralmente aparelhos mecânicos que independem de uma fonte de energia - é preciso dar corda neles. Termômetros e higrômetros também costumam resistir à passagem do tempo.
- O conceito de ciclo de vida veio para ficar; até o Magiclick (quem se lembra?) dava garantia de 104 anos apenas para o mecanismo interno que gerava a faísca. O estojo externo, após alguns meses de uso, deteriorava-se rapidamente (tenho um desses, todo remendado, que ainda funciona).
- Mas está faltando um detalhe no ciclo de vida para que esse conceito seja realmente válido: uma lei que defina claramente a responsabilidade pela destinação dos restos mortais dos nossos servos mecânicos. A legislação atual é esparsa, tímida, incompleta e muitas vezes ignorada. Iniciativas como a da empresa privada de reciclagem OXIL (lixo, ao contrário), deveriam ser incentivadas a expandir suas atividades por todas as metrópoles do Brasil (e do mundo). E é preciso que a responsabilidade do fabricante se traduza em ações diretas de reciclagem do seu produto.
- Atualmente, os cadáveres da indústria são, em sua maioria, abandonados sem qualquer cerimônia nos lixões; mesmo onde há coleta seletiva, os resultados são pífios. Os fabricantes deviam ser obrigados, pelo menos, a explicitar, no ciclo de vida de cada produto - todos eles - instruções detalhadas para o funeral dos mesmos, não apenas com vistas à defesa das comunidades, mas também da natureza. Afinal é ela que se encarregará de reciclar quase tudo, e ninguém quer que ela tenha uma indigestão...
- Mas que saudade do tempo em que as coisas eram feitas para durar!

domingo, 11 de julho de 2010

Crônicas Africanas

- A Celeste Olímpica veio de uma repescagem e conseguiu ser melhor que platinos e canarinhos. Um terceiro lugar não lhe seria de mau tamanho, não fosse a infelicidade de seu excelente goleiro contra o eficiente ataque alemão.
- E fez bonito a Fúria. Desmontou a cenoura mecânica - que aquilo não é cor de laranja nem na Bahia nem na China - e transformou-se no mais recente monocampeão mundial de futebol. Benvindos ao clube os modernos Quixotes, que derrotaram os moinhos de vento holandeses.
- Mas que arbitragem ruim! Só faltou o juiz expulsar o bandeirinha por dormir em serviço...
- E que bela festa de encerramento! Que sirva de exemplo para os próximos organizadores. Pena que não tenhamos um Nelson Mandela para participar da nossa festa...
- Aliás, para mim, Mandela e Ghandi não são simplesmente humanos. Há qualquer coisa neles que transcende a própria natureza humana. E não me perguntem o que é. Bem que eu gostaria de saber...
- Trivicecampeão do mundo... procura-se uma utilidade para isso. A embaixada holandesa agradece sugestões.

domingo, 4 de julho de 2010

Crônicas Africanas

- Holanda 2 x 1 Brasil - A laranjada que a gente ia beber azedou... as laranjas se recusaram a ser espremidas. Mas não faz mal. A próxima festa é aqui em casa.

- Uruguai 1,4 x 1,2 Gana - E a Gana africana teve que enfrentar a gana uruguaia, e se deu mal... um guerreiro uruguaio - Suárez - comete o pênalti no último segundo de uma partida empatada, é expulso e se converte num herói nacional. São coisas do futebol. No frigir dos ovos, deu Uruguai.

- Alemanha 4 x 0 Argentina - Os germânicos, nos últimos anos, limitaram fortemente o ingresso de jogadores estrangeiros em seus clubes, com a finalidade de reaprenderem o bom futebol nativo. Parece que deu certo.
- O Bandolión de Piazola desafinou, quando la mano de Dios ameaçou tirar a luva.

- Paraguai 0 x 1 Espanha - Guarânias e boleros também inventaram uma disputa de pênaltis sui generis, em pleno andamento da partida. Ali deu zero a zero. Ô gente ruim de pênaltis!

- Minha opinião, independentemente dos próximos resultados:
- Melhor jogador da copa: Forlán.
- Pior jogador: aquele elefante que quebrou o Elano. Não quero nem lembrar o nome.
- Melhor seleção: Alemanha.
- Pior seleção: França.
- Melhor torcida: África do Sul.
- Pior torcida: Não há.
- Melhor arbitragem:  O trio brasileiro, capitaneado por Simon.
- Pior arbitragem: Aquele trio de Brasil x Costa do Marfim. Também faço questão de não saber os nomes.
- Melhor técnico: Não há.
- Pior técnico: Sr. Domenech (França). Educadíssimo.