- Nosso planeta solidificou-se há uns 4,5 bilhões de anos. Um bilhão de anos depois, surgiu a vida. Se por geração espontânea, milagre divino, contaminação cósmica ou intervenção alienígena, discutiremos em outra ocasião. Vamos nos limitar aqui a acompanhar a evolução dos seres vivos desde então.
- Às primeiras formas de vida, chamamos "primitivas". Mas "primitivo" significa "anterior", não "inferior". Sabemos que os peixes cartilaginosos são anteriores aos peixes ósseos; e os tubarões são um exemplo de peixe primitivo que não precisou de grande evolução para ser um sobrevivente muito bem-sucedido.
- Se você estivesse para ser abandonado numa ilha deserta e lhe fosse permitido escolher algumas armas e ferramentas, qual seria a melhor escolha? Rifle ou faca? Furadeira ou martelo? Serra elétrica ou serrote?
- A opção é clara. Objetos primitivos são a escolha óbvia para sobreviver num ambiente selvagem, sem apoio logístico.
- Durante 3,5 bilhões de anos, os organismos "primitivos", simples e microscópicos, evoluiram e se multiplicaram, diversificando-se até dar origem a incontáveis espécies - das quais 99% pereceram no meio do caminho, vítimas da Seleção Natural. Essa evolução dos seres vivos através das eras consistiu em modificações do organismo - mudanças internas, portanto.
- Mas há uma espécie em particular que parou de evoluir biologicamente já faz um bom tempo. Por motivos ainda desconhecidos, há uns 300.000 anos o bicho-homem transferiu seus passos evolutivos para o ambiente externo. E desde então, as etapas evolucionárias desse curioso bípede são conhecidas como "idade da pedra", "idade dos metais", "era atômica", em contraste com os peixes e demais seres vivos.
- Evolução significa adaptação, mas não adaptabilidade. De fato, um organismo adaptado a um novo tipo de ambiente tem grande dificuldade para reverter à condição anterior, se necessário. Focas, pinguins e ursos polares já não suportam o clima tropical onde seus ancestrais viviam, e dificilmente sofrerão qualquer adaptação evolutiva nesse sentido, por conta do aquecimento global. Caso o aquecimento continue, seu destino mais provável é a extinção.
- Só o bicho-homem, com sua evolução sui-generis, extra-corpórea, desfruta de uma adaptabilidade quase universal. Mas há um preço a pagar. A "Evolução exterior" reduziu a necessidade de adaptações biológicas (Evolução interior) e sem esta última, nosso organismo fica mais e mais dependente da parafernália tecnológica a que nos escravizamos.
- Hoje, poucas comunidades usam objetos primitivos como instrumentos preferenciais na sua luta pela sobrevivência. Algumas o fazem por imposição da natureza ou limitações próprias (esquimós, índios selvagens, aborígenes australianos etc), outras por opção cultural (os "Amish", por exemplo). São essas que garantirão, talvez, por sua adaptabilidade, a sobrevivência do Homo Sapiens, no caso de fracasso desta linha evolutiva antinatural.
Vou definir o texto em uma palavra: Brilhante.
ResponderExcluirSim, Barcellos, você colocou o dedo na ferida da nossa evolução exógena, se me permite. O Homo sapiens (com aquelas exceções que você enumerou) está condicionado ao uso de suas conquistas tecnológicas de tal modo que, se estas lhe faltarem, a vaca vai pro brejo. Quando a civilização colapsar, o que é uma possibilidade, os esquimós, os cintas-largas, os aborígines e os amish agradecerão, eles serão a vanguarda de uma nova humanidade, talvez sem estes vícios redibitórios da nossa.
Hola amigo Rodolfo,
ResponderExcluirmuy bueno tu texto... ojalá aprendamos a valorar los aborigenes que tanto tienen a enseñarnos...
Saludos,
Sergio.
Barcellos, é realmente preocupante a forma como cada vez mais estamos ficando na dependência não só de objetos, mas de toda uma infraestrutura tecnológica para tocar a vida!
ResponderExcluirEu as vezes me coloco em imaginação na situação em que ficou o personagem de Tom Hanks em "Náufrago", tendo que reaprender a viver com apenas as coisas básicas.
Como curiosidade, adquiri uma pequena lanterna que funciona com um dínamo, acionado por uma pequena manivela, e dispensa as poluentes e onerosas pilhas. Boa para levar para a tal ilha deserta, né?
- É, Leonel... até a manivela quebrar ou a lâmpada queimar. Eu daria preferência a uma pedra de sílex. Quanto mais primitivo, melhor.
ResponderExcluirBarcellos
ResponderExcluirEste é um tipo de texto que deve ser amplamente replicado na web, estamos cada vez mais dependentes das tecnologias, outro dia me propuz a comprar um volumoso dicionário, alguém perguntou: "para que eu queria um trambolho enorme, se eu tinha internet", já sei de alguém que está indo à igreja com um Ipad em lugar da bíblia. Para finalizar, ontem indo ao parque de diversões, me foi oferecido um carro, pois eu não deveria levar as crianças andando (1200 metros de casa).
Gostei deste lance do sílex.
- Grato pelo apoio e pela visita, Almirante. Não renego nossa dependência tecnológica - ela imprimiu nossos passos na Lua e vai marcá-los em Marte. Mas é sempre bom recordarmos nossas raízes e ficar com um pé atrás...
ResponderExcluirPô, Barcellos, você quebrou até a manivela da minha lanterninha!
ResponderExcluirAfinal, pergunto que nem na anedota: você é meu amigo ou amigo da onça?