terça-feira, 27 de março de 2012

O sexo dos anjos

Foto: Daniel Barcellos Brito
     Sinto-me como um limão cortado errado, ou, como prefere a Graciosa Severa, como um maracujá de gaveta. Espremo, espremo... e não sai nada. Torço a caneta, esmurro o teclado e acendo velas votivas a Calíope. Em vão.
     Já conheço os sintomas: estou em plena crise de TPM - Transtorno de Postagem Malparada. E só há um meio de contornar essa crise existencial: enchendo linguiça.
     Portanto, fui buscar nos primórdios do Sete Ramos algum assunto que pudesse interessar à maioria dos meus amigos. E achei "O sexo dos anjos".
     Lá vai. Afinal, sexo sempre dá ibope...
*   *   *   *   *
     Se quisermos discutir o sexo dos anjos, podemos começar pelo gênero gramatical das categorias dessas curiosas criaturas:
     1- Categorias masculinas: anjos, arcanjos, querubins, serafins e tronos.
     2- Categorias femininas: dominações e potestades.
     Mas é claro que gênero gramatical não é sexo biológico. Se aceitarmos que anjos são espíritos, a discussão termina aqui. Espíritos não têm sexo, e ponto final.
     A coisa muda de figura no caso do sexo dos demônios. Íncubos e Súcubos são categorias de capetas com características sexuais acentuadas: Íncubos são demônios machos, Súcubos são demônios fêmeos. O Santo Ofício se divertia nos processos de bruxaria com as travessuras desses diabos e diabas. Está aí um bom prato para meu amigo Jair. E enquanto ele cozinha essa sopa no seu caldeirão, eu mudo de assunto; o título desta matéria é meramente ilustrativo. Vamos ao que interessa. 
     Acho que foi João Ubaldo Ribeiro que, com sua verve característica, desancou em um artigo de jornal a mania que certas pessoas têm de questionar o sexo das palavras - como se as palavras tivessem sexo...
     Muita gente boa confunde sexo biológico com gênero gramatical. "Águia", por exemplo, é uma palavra do gênero feminino, que designa tanto o macho como a fêmea da espécie. Aliás, quando se usa o epiceno, deve-se dizer "a águia macha", pois o qualificativo deve concordar com o substantivo em gênero gramatical, e não em sexo biológico. Assim também "o rinoceronte fêmeo".
     Muitos animais têm nomes diferenciados em gênero para designar o sexo. O cavalo e a égua, o cão e a cadela, o leão e a leoa. Começa aí a confusão que muitos fazem entre o sexo e o gênero gramatical.
     Considere as frases: "O leão é o rei dos animais". "O leão vigia enquanto a leoa caça".
     "Leão", na primeira frase, designa a totalidade da espécie, incluindo as leoas. O gênero gramatical da palavra é totalmente independente do sexo biológico.
     Na segunda frase, o significado da mesma palavra restringe-se claramente ao macho. Aqui, o gênero gramatical parece sofrer a influência do sexo biológico. Mas isso é apenas uma falsa impressão, como veremos a seguir.
     Quando não há diferenciação na designação do gênero gramatical entre os sexos de uma espécie, é necessário usar o epiceno para se obter o mesmo resultado. Por exemplo:
"A borboleta é um lepidóptero". "A borboleta macha pouco se diferencia da fêmea".
     Ocorre aqui, com a palavra "borboleta", o mesmo efeito que observamos no exemplo anterior, com a palavra "leão", sendo que "borboleta" continua sendo uma palavra do gênero feminino, sem a menor influência do sexo.
     Nas línguas neolatinas a confusão é maior ainda, pois mesmo objetos inanimados são designados por palavras com gênero definido: a cadeira, o armário, a coisa, o objeto. E os gêneros se misturam livremente, sem problemas. O armário é uma coisa. A cadeira é um objeto.
     No trato dos assuntos que envolvem as pessoas, o circo pega fogo. Até o sexo do próprio Deus é questionado, como se um espírito tivesse sexo. As representações clássicas de Deus como um ser humano do sexo masculino podem, é claro, ser questionadas. Mas o gênero gramatical do substantivo é apenas isso - uma questão de gramática - e não merece maior atenção.
     Vejamos alguns exemplos sobre o modo de tratar as pessoas:
     - Um chefe de Estado deve ser tratado no feminino? Que tal mudarmos para "Vosso Excelêncio"?
     - Uma bela mulher pode ser tratada como "um colírio para os olhos"? Não seria melhor "uma bênção para a visão"?
     Para me guiar nesta selva, estabeleci um esquema para meu próprio uso. Os gêneros gramaticais podem ou não ter relação com o sexo biológico. São independentes do sexo os nomes de tudo que não tem vida biológica:
     1- Gênero masculino: "O gênero gramatical, o sertão, o armário, este, aquele".
     2- Gênero feminino: "A classe gramatical, a cadeira, a galáxia, esta, aquela".
     3- Gênero neutro ou indefinido: "Isto, aquilo".
     Têm relação com o sexo todos os nomes que se referem a seres vivos, diferenciando ou não os sexos:
     1- Gênero masculino: "O mineiro, o senhor embaixador, o gato".
     2- Gênero feminino: "A sereia, as náiades, a gata".
     3- Gênero comum aos dois sexos: "O artista, a artista, o ciclista, a ciclista".
     4- Gênero sobrecomum (ou unissex): "A criança, o bebê, o nascituro". Aqui, a relação com o sexo pode ser entendida como uma relação pseudo-epicênica: ninguém diz "a criança macha", mas sim "a criança do sexo masculino".
     Epiceno é um indicativo de sexo, usado quando necessário: "A baleia macha - O jacaré fêmeo".
     No meu esquema, os gêneros masculino e feminino podem ser ou não relacionados ao sexo, o que às vezes provoca confusão. Aceito sugestões para melhorá-lo.
     Para as (os) feministas mais radicais, insisto: alguns nomes designam todo um grupo biológico:
     " - O cão é o melhor amigo do homem". Cão e homem incluem cadelas e mulheres.
     " - Salvemos as baleias". É claro que os machos estão incluídos.
     No caso, "homem" significa "A HUMANIDADE", e "baleia" quer dizer "OS CETÁCEOS". Sexo não tem nada a ver.
     Há muito o que conquistar ainda, mulheres e feministas. Não percam tempo lutando contra ignorantes que não sabem a diferença entre sexo biológico e gênero gramatical.
Concordância gramatical existe, e deve ser respeitada. E a concordância entre sexos?
*   *   *   *   *
     E como o caso é encher linguiça, a imagem que abre esta matéria nada tem a ver com o assunto. É uma foto tirada pelo meu neto Daniel, às 19:30 de ontem, da conjunção da Lua com Vênus.

sábado, 24 de março de 2012

Conjunção II

     Em 26 de fevereiro, publiquei a foto de uma bela conjunção Lua-Vênus-Júpiter. Pois agora, um mês depois, a Lua já cumpriu sua órbita, passando por todas as suas fases, e como um campeão de Fórmula Indy num circuito oval, volta a passar no mesmo trecho do céu, enquanto Vênus e Júpiter, muito mais lentos, permaneceram em seus "pit stops" ou pouco avançaram em seu "passeio romântico". Em consequência, uma nova conjunção tripla poderá ser observada nos dias 25, 26 e 27, quando a Lua colocará mais uma volta de vantagem sobre os dois...
Posições da Lua nos dias 25, 26 e 27, no seu trajeto passando entre Júpiter e Vênus
     A montagem acima, feita a partir de mapas celestes obtidos em
mostra o céu sobre o horizonte noroeste (um pouco à direita do ponto onde o sol se põe), uma hora após o pôr do sol, indicando as posições da Lua nesses três dias. As conhecidas Três Marias, no cinturão de Órion, apontam para Vênus, que está na sua fase de maior brilho. Não havendo nuvens ou obstáculos nessa direção, ou excesso de iluminação artificial, será um belo espetáculo para os amantes da natureza, mesmo a vista desarmada.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dia da Poesia


No último dia 14 foi. Hoje também é. Em 20 de outubro ainda será. E mais dias virão...


Enquanto o mundo não decide o dia
Aqui no Sete Ramos se decreta
Que toda noite é noite de poesia
E todo dia é dia do poeta.


Selecionei nos meus escritos e comentários poemas sobre poetas, poetisas e poesias. E roubei alguns feitos por amigos. É a arte lírica praticando egoisticamente o louvor em boca própria...


POEMINHA TETRASSILÁBICO
(feito especialmente para hoje)
Que hajam mais dias
De poesias,
De harmonias
Celestiais;
E seja o verso
Sempre disperso
No universo;
Preso, jamais!


SONETO EM REDONDILHAS MAIORES
(também inédito)
Não sei se nasci poeta
Ou se poeta me tornei;
Mas sei que uma coisa é certa:
Como poeta morrerei.

Não pretendo ser Neruda,
Pessoa ou Quintana, não.
Minha língua fica muda
Frente a esse Panteão.

Mas quando rio e converso
Numa roda de amigos
Na mesa do botequim,

Destrambelha-se-me o verso,
Canto os novos e os antigos
Dos amores que há em mim.


TROVA IMPROMPTU
(para Carla)

Teu poema é como a vida
"Impromptu" que se improvisa
Numa infinita lida
Nos teus versos, poetisa...


TROVA
(mais uma para a ocasião)
Poeta é gente que é cega
Às realidades da vida;
Qualquer fronteira renega,
Qualquer entrada é saída.


DÉCADA UNDECASSILÁBICA
(para Cecília)
Poetisa, poetisa, não te esqueças
Que amores tão perfeitos não existem;
Mesmo as flores que os nomeiam não subsistem,
Não transformes em pedra teu coração;
Sabe que, quando assim mesmo não mereças
O Amor te chegará, sem que o impeças,
E o mereces, sim! Vive essa paixão.
E teu voo que seria metafórico
Deixará então um rastro meteórico
No céu claro deste teu novo verão!


POEMINHA MILENAR
(Arremedo - por Milene Lima)
Quisera eu ter um poema
Torto, forte e vermelho
Em rimas, versos pequenos
Cantado em frente ao espelho

Versos que sejam só meus
E de quem mais os quisesse
Paridos em becos e breus
Sentidos feito uma prece

Em gritos fortes, o amor
Beijos de morte, agonia
Olhando os olhos da dor
Vingou, valente, poesia!


ALEXANDRINOS
(para Regilene)
O teu Oásis inda vive, poetisa,
No Espaço próprio, onde o levou seu Criador;
De lá provém a inspiração, como uma brisa,
Que a ti sussurra tão belos versos de amor!


HERÓICOS
(para Marcia)
Sagrada é a loucura dos poetas
Que ofusca a luz fria da razão
E junta-se à demência dos profetas
Em resposta à voz do coração!


MAIS ALEXANDRINOS
(para Marilene)
Esta voz tua, inda que presa, é liberdade,
E este teu grito, mesmo rouco, é rebelião;
A tua boca é a fonte pura da verdade,
Teu verso humilde, porém belo, é inspiração.


VERSOS SOLTOS
(para Cecília)
Busco-te sempre, oceano, e te encontro
nas rimas e não rimas de teus poemas,
na música que exalas de teus cabelos
no aroma silencioso de tuas palavras,
longe de ti, na escuridão,
perto de ti, na ternura,
dentro de ti, na luz.


SEXTILHA EM REDONDILHAS
(para Débora)
Onde estavas Tu, menina,
Agridoce dançarina,
Quando o barco naufragou?
Presa dentro da magia,
Poetando a poesia,
Que a vida te ensinou!


QUINTETO ALEXANDRINO
(para Milla)
Ser poeta é nunca ser indiferente
Às horas de alegria, às horas de tristeza,
À chama da paixão, ao brilho da beleza,
Aos versos que nos dás em sua singeleza;
É ser, enfim, como és tu, Milla: ser gente!


DUAS QUADRINHAS EM DUAS RIMAS
(para Marilene)
Poesia é a linguagem
Do amor e da paixão;
É mais que fala - é imagem,
Não carece tradução.

E quem acha que é bobagem
E não entende a canção,
Ou é surdo à mensagem
Ou cego do coração.


LIBERDADE POÉTICA
(para Marilene)
Sim, podes ser vendaval e furacão,
Mas quero-te brisa.
Podes ser sol ardente no verão,
Mas prefiro-te poentes vermelhos.
Serás, às vezes, lua de sangue,
Mas vejo-te luar de prata entre estrelas e vagalumes.
Tu pagaste o preço do resgate às emoções,
E as submeteste à pena de tua poesia,
E tomaste-me como vassalo e carcereiro,
Mas não como verdugo ou carrasco,
Pois eu as amo - às tuas emoções.


SONETO EM REDONDILHAS
(para Cecília)
Quando tiveres chegado
Aos confins do Universo
Envia de lá um recado:
Diz se há espaço pra verso;

Pois se o oceano lá cabe
Com todos os teus lindos sonhos,
Haverá lugar, quem sabe,
Para meus versos tristonhos.

Talvez, num dia distante,
Chegue o mágico instante
Que o Destino prometeu;

E cada azul teu sonhado
Será cantado e encantado
Por um verso alegre meu.


NOVE MILENARES
(para Milene)
Amiga minha, eu te amo
Neste amor que nunca morre;
E o Quintana me socorre
Nesses versos que declamo;
E se em crônicas cantares
Este belo quintanear
Serão versos Milenares
Com sabor de Quintanares,
Em poesia milenar!


QUATRO TERCETOS EM UMA SÓ RIMA
(para Milene)
Milene, estes teus cantares
Não são, Milene, cantares:
São, Milene, milenares.

E tu, Bandeira, se ousares
E, Quintana, reclamares,
Ouçam dela os declamares...

São brisas mornas nos ares,
São ondas quietas nos mares,
São, amigos, milenares!

Se tu, Bandeira, empacares
Teimando em seus quintanares,
Eu elejo os milenares!


TROVA PARA UMA MULHER-POESIA
(para Denise)
Tu dizes não ser poeta
Mas não te fuja a alegria:
Tu és a musa completa,
Tu és a própria Poesia.



E para arrematar...
TROVA PARA CANTAR TROVAS
(comentário da Milla às trovas do Sete Ramos)
Cantas o amor plenamente
Com firmeza e doçura.
Há que se cantar, somente,
A felicidade pura!



Niterói, março de 2012
Rodolfo Barcellos

segunda-feira, 19 de março de 2012

Equinócio

     Parabéns, artesão! Parabéns, marceneiro e carpinteiro! Parabéns aos pupilos de José, o pai de família por excelência, cuja celebração acontece hoje, dia 19!
*   *   *   *   *
     Às 02:14 deste dia 20 de março, horário brasileiro, o Sol se transfere com armas e bagagens para o hemisfério norte do planeta, deixando-nos o outono e levando a primavera a Portugal e seus vizinhos.
     É o dia do equinócio - o dia em que fadas e duendes festejam com os elfos e as flores. O dia em que luzes coloridas dançam em um certo lugar escondido na floresta da Tijuca. O dia em que a luz e a escuridão se distribuem com imparcial igualdade - doze horas de cada - entre todos os povos do mundo, e nos dois polos do planeta o sol passeia em círculo por todos os pontos do horizonte.
     Felizes dias de primavera para os povos acima do equador. E doces tempos de outono para nós e nossos vizinhos... pois tudo é motivo para poesia.
Imagem: Wikipedia
Eis que acontece o instante mágico no mundo
No qual o dia pela Terra se reparte
Em iguais horas com a noite, e destarte
Às raças todas distribui cada segundo.

É o equinócio, quando o eixo do planeta
Angula reto com a linha que o une
Ao mesmo Sol que acima do equador reúne
Seus raios verticais, brilhantes como seta.

Pudessem homens e mulheres sobre a Terra
Compartilhar tão irmãmente a riqueza
Assim como hoje partilhamos noite e dia;

Pois o equinócio é o exemplo que hoje encerra
O Astro-rei, em sua bruta natureza,
Doando a todos, por igual, sua magia.

Niterói, março de 2012
Rodolfo Barcellos

sexta-feira, 16 de março de 2012

Ainda trovas


Mais trovas-comentários, pequenas bijuterias espalhadas aqui e ali, ao sabor da inspiração que brota da leitura dos textos de meus amigos da blogosfera...

Imagem: 400 amigos - Amélia Costa
30
Pensando bem, eu diria
Que é de tua natureza
Irradiar tanta beleza
Exalar tanta poesia.
29
Os sonhos são as sementes
De futuras realidades,
Ou recordações dolentes
De um passado de saudades.
28
Destilas doces lembranças
No crisol da nostalgia
E na ânfora da saudade
Guardas toda essa magia.
27
No ritmo de dois pauzinhos
Rendando a rendeira ia
E a Severa, com versinhos,
"Rendou" bela poesia...
26
Você já não é tão nova
Mas parece o contrário;
Recebe, pois, esta trova
De FELIZ ANIVERSÁRIO!
25
Nunca me lembra o dizer-te
Sempre me esquece o falar-te
O quanto eu amo querer-te
O quanto eu quero amar-te!
24
Quem compartilha poesia
Reparte a felicidade,
Multiplica a alegria,
Redobra o amor e a amizade.
23
Miragem é aquele sonho
Que se sonha acordado
E acontece num tristonho
Momento fragmentado.
22
Um olhar mudo encerra
No seu silêncio profundo
Toda a música da Terra,
Toda a poesia do mundo!
21
Isso tudo é o amor
E é sei lá mais o que;
Mas seja lá o que for
É o que sinto por você...

Niterói, março de 2012
Rodolfo Barcellos

terça-feira, 13 de março de 2012

É hoje?


Imagem gentilmente roubada da Graça Lacerda
O Dia da Poesia, ou Dia do Poeta, se comemora em:
( ) a: 14 de março, data do aniversário de Castro Alves;
( ) b: 21 de março, por decisão da UNESCO;
( ) c: 16 de agosto, em Recife;
( ) d: 4 de outubro, em diversos locais do Brasil;
( ) e: 20 de outubro, por Decreto-Lei da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro;
( ) f: 4 de dezembro, no Rio Grande do Sul;
( ) g: Todas as acima (e muitas mais).

A arte da Poesia é das mais antigas de que se tem notícia, e é universal - existe em todas as culturas. Não admira que o Dia do Poeta - ou da Poesia - tenha mais marcas nos calendários que qualquer outro...



Enquanto o mundo não decide o dia,
Aqui no Sete Ramos se decreta
Que toda noite é noite de Poesia,
E todo dia é dia do Poeta!


E obedecendo a meu próprio decreto, ofereço a poetas e poetisas de plantão a minha homenagem:

Ó tu, que já domaste as mil palavras vivas
Do grande verso nobre e da lira fugaz,
Nunca, jamais as tratarás como cativas,
Pois são aliadas tuas, na guerra e na paz;

Teus pés palmilhem o caminho da verdade,
Tuas mãos apontem o portal da retidão;
Tua voz entoe a canção da liberdade,
Teus olhos brilhem com a luz da inspiração.

A tua pena trace o torto em linha reta
Sobre o velino alvo e frágil de tua alma,
Tão rabiscada como o são palimpsestos.

É esse o destino mais nobre do poeta:
Sê porta-voz, no vendaval ou brisa calma,
De mudos gritos loucos, sobejos e restos!

Niterói, março de 2012
Rodolfo Barcellos

domingo, 11 de março de 2012

Mais trovas


Eis mais alguns comentários em forma de trovas, que me foram inspirados por postagens dos amigos.
By Rodolfo Barcellos
20
Tu és poesia de estelas,
Tu és cantar que seduz.
Tu és poeira de estrelas,
Tu és poetisa de luz.
19
Há quem leia sentimentos
Mas são seres de outros mundos
São sombras de pensamentos,
Arcontes dos céus profundos.
18
A dança do amor se dança
Ao compasso de emoções,
À música da esperança,
Ao ritmo dos corações.
17
Há o tempo de pedir.
Há o tempo de receber.
Há o de distribuir.
E há o de agradecer.
16
Arte pra dar e vender,
Saindo pelo ladrão;
Talento a mais não poder,
Vazando do coração!
15
Precisamos, cá na Terra,
De quem, como você, traz
Menos hinos para a guerra,
Mais poemas para a paz.
14
Sem verbos já fiz soneto
E agora sei o porquê:
Foram todos do alfabeto
Sequestrados por você!
13
Voei contigo nas asas
De teus versos voadores;
No céu espalhei meus sonhos,
No chão deixei minhas dores.
12
Você, seja como for,
Sem ter como nem porquê
Será sempre mais amor,
Será sempre mais você.
11
Inda que a dor te apure
Ouve o verso de quem sabe:
Não há bem que sempre dure
Nem mal que nunca se acabe.


Niterói, março de 2012
Rodolfo Barcellos

quinta-feira, 8 de março de 2012

Plenilúnio

Quando pesquisei, em fins de janeiro, datas e horários das fases da lua para esta série de sonetos, não me dei conta de que o último cairia numa data muito especial. Foi a Denise quem chamou a atenção deste velho poeta distraído para a coincidência.
Coincidência? Não acredito em coincidências (pero que las hay...). Não, estava escrito nas estrelas, desde sempre, que esta série de sonetos teria sua chave de ouro neste Dia Internacional da Mulher.
Hoje, portanto, quero dedicar os quatro sonetos da série a essas criaturas maravilhosas pelas quais nós, homens, nascemos e vivemos - e muitas vezes morremos, ao menos de amor. Parabéns às minhas Deusas amadas, às minhas queridas Musas, às Graças da minha vida e a todas as mulheres do planeta, que fazem deste mundo um lugar em que - ainda - vale a pena se viver.
Origem: Internet
A lua em plenilúnio anuncia aos ares:
És minha! À luz da Deusa e de suas donzelas,
Que no céu contam-se em miríades de estrelas,
Ser teu eu juro enquanto tu também me amares.

E não faremos conta de afagos e beijos,
Não pouparemos nunca abraços nem carinhos;
Seremos perdulários e jamais mesquinhos,
Satisfaremos nossos mútuos desejos.

Porque de amores já vividos aprendemos
Que a eles nunca poderemos traçar meta,
Regra, fronteira ou limite. Isso sabemos.

Sabemos que é mortal, mesmo sendo gigante,
Mas seguiremos o conselho do Poeta
E o faremos infinito - até o minguante!


Niterói, 8 de março de 2012
às 6:39 h (lua cheia)
Rodolfo Barcellos


Esta postagem encerra o ciclo de quatro sonetos relativos às fases lunares e seus paralelos com o amor. Cada soneto foi postado nos dias e horas correspondentes às efemérides astronômicas das fases lunares. Os outros três sonetos da série estão em:
Minguante: http://seteramos.blogspot.com/2012/02/minguante.html
Nova: http://seteramos.blogspot.com/2012/02/nova.html
Crescente: http://seteramos.blogspot.com/2012/02/crescente.html


Sou grato aos amigos que me incentivaram nessa empreitada poética. E mais uma vez, deixo minha homenagem às mulheres de todo o mundo, agradecendo a "trombetada" da Denise e transcrevendo o comentário que deixei ontem na Marcia:



Hoje canto a Mulher,
O anjo, a guerreira, a fada,
O bem-me-quer, mal-me-quer,
O beijo, a flor, a estrada!

domingo, 4 de março de 2012

Leoa ferida


A amizade e a solidariedade entre certas pessoas é mágica. Produz milagres. E aqui está um 777 para nossa querida Rê - por sugestão da Denise. Beijos às duas.


Por carolambrogini.blogspot.com

Hoje não teremos aula,
Minha Leoa querida.
Entro hoje em tua jaula
Sabendo que estás ferida;
E tua dor me corrói
Pois sei bem como te dói 
Essa ausência tão sentida.

A quantos extraviados
Tu mostraste o caminho?
E quantos desesperados
Sentiram o teu carinho?
Se hoje estás perdida
Segue minha voz, querida,
Vem em busca do teu ninho.

Deixei cadeira e chicote
Num canto do picadeiro;
E inda que te sofra o bote
Veloz, mortal e certeiro,
Te abraçarei com carinho,
Te falarei de mansinho,
Serei o teu enfermeiro.

Deita a cabeça em meu ombro,
Sente o afago de quem te ama
Com afeto e desassombro.
Ouve a voz de quem te chama;
Eu venho trazer-te a calma,
Eu venho beijar-te a alma,
Eu venho avivar-te a flama.

Sossega, Leoa inquieta,
Pra ti não há domador.
Eu sou tão só um poeta
Que te faz versos de amor;
Pois tu sabes que te amo,
E hoje sobre ti derramo
As preces de um sonhador. 

Vem, querida, adormece
Sem sobressalto ou cuidado,
E no teu repouso esquece
Este doer arraigado.
Vem, aninha-te em meus braços,
Depõe aqui teus cansaços,
E dorme em paz a meu lado.

Quando enfim adormeceres,
Enquanto não acordares
Cantarei os teus quereres,
Quererei os teus cantares.
E tua dor terá sido
Não mais que um sonho esquecido
Que se esvaiu pelos ares.

Niterói, março de 2012
Rodolfo Barcellos