sábado, 29 de dezembro de 2012

Trovas 211-220

     E mais um ano para passar a régua... que o balanço tenha sido proveitoso para todos. Hora de abrir uma nova contabilidade... mas as trovas de 2012 ainda não acabaram, e vão invadir as postagens do ano de 2013.
     Das trovinhas da Lu Cavichioli (215-216) a primeira me saiu sem verbos e provocou a segunda...
Ela pousou na parte de baixo do meu guarda-sol e fez pose...

220- Regina, 29/6/12
Não, não te vejo chorona,
Serás, talvez, bailarina.
No corpo não és matrona,
Na alma és sempre menina!

219- Marilene, 28/6/12
Teu pungente solilóquio
Em forma de exortação
É na verdade um colóquio
Entre alma e coração...

218- Cecília, 26/6/12
No teu silêncio murmuram
Brancas pétalas de rosas
Que a teu amado juram
Soltas juras olorosas.

217- Marilene, 26/6/12
Tu te lembras de esquecer
Ou te esqueces de lembrar
Que o amor, para morrer,
É preciso se matar!

215-216- Lu, 26/6/12
Cerejas, maçãs, groselhas,
Poeminis, corações,
Sangue de frutas vermelhas,
Coquetéis de emoções!


Bem de longe tu sentiste
Meus sentimentos acerbos,
Pois não é que me extraíste
Uma trovinha sem verbos?

214- Graça, 26/6/12
Escuta o Livro que fala
Em todas línguas do mundo
A Verdade que não cala
Mas que cala lá no fundo!

213- Mery, 25/6/12
E dançando no São João
Acendeu-se uma fogueira
Neste lindo coração
Desta doce feiticeira...

212- Sissym, 23/6/12
O belo traço do artista
É mais fiel que o espelho,
Que do seu ponto de vista
Inverte o novo e o velho...

211- Marcia, 22/6/12
Não há seleção que eu faça
Na qual não haja você.
É a flor cheia de graça
Que perfuma meu buquê!


Niterói, dezembro de 2012
Rodolfo Barcellos

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Foto da Es-Sotamer

     Quem leu a postagem anterior - Um conto de Natal - sabe que a nave espacial Es-Sotamer desistiu de aniquilar a vida na Terra. Só por isso o mundo não acabou. E uma falha nos escudos de camuflagem, quando a nave passava nas proximidades da Lua, por volta das 20:30 deste dia de Natal, fez com que ela aparecesse nitidamente na foto tirada do meu quintal...
Que pontinho luminoso é aquele à direita da Lua?
     Andam dizendo por aí que essa imagem é a foto de uma conjunção / ocultação de Júpiter e da Lua... o que é que você acha?
     Feliz Natal!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Um conto de Natal

ou Porque o mundo não acabou

     No exato momento em que esta postagem estiver sendo publicada, às 09:11 de 21/12/12, hora de verão de Brasília, o eixo do planeta e a linha que une o centro da Terra ao centro do Sol estarão em um plano que forma um ângulo reto com o plano da órbita - a eclítica. É o momento do solstício e neste alinhamento mágico o mundo acaba. Mas... por que o mundo não acabou?
     Bem, já que o mundo não acabou, vamos nos preparar para acabar bem este ano e começar melhor o próximo. E nesta época de retrospectivas nada melhor que relembrar bons momentos de anos anteriores.
     Este conto foi escrito em dezembro de 2011, a pedido da amiga Lu Cavichioli, para a reabertura de seu "blog" Empório do Café Literário (esse parece que acabou mesmo). Quis com ele homenagear amigos da blogosfera e transmitir uma mensagem de otimismo, com sabor universal. Como é de costume entre meus contos (e entre algumas pessoas), ele engordou além do figurino inicialmente recortado; e por isso, foi dividido em duas partes.
     Revisei pequenos detalhes para essa reedição. A Es-Sotamer recebeu novos tripulantes e agora conta com mais de duzentos em seu efetivo. En-Desi foi promovida a cosmobióloga, no posto de capitão. Mas o núcleo da oficialidade não mudou.

PRIMEIRA PARTE

     A grande nave aproximava-se silenciosamente do terceiro planeta. Os escudos de camuflagem, ajustados para invisibilidade total, absorviam todas as radiações eletromagnéticas, inclusive a luz, e as reemitiam no ponto oposto do escudo, de modo que nem mesmo o seu bloqueio desse a algum observador mais atento qualquer indício da presença da nave-espiã. Apenas uma quantidade mínima era desviada para sensores e antenas supersensíveis - os olhos e ouvidos da nave.
     Na ponte de comando, dois oficiais trocavam idéias:
     - Só se passaram trezentos anos - disse An-Sard, a oficial de segurança. - Acho essas medidas um pouco exageradas para um planeta que mal saiu da idade do bronze.
     - A escala de tempo deles é bem mais acelerada que a nossa - retrucou El-Noel, o comandante. - Lá já se passaram mais de dois mil anos. Todo cuidado é pouco.
     Os dados dos sensores deram razão a El-Noel. O terceiro planeta emitia sinais de rádio com material acústico e visual em profusão, a maioria em códigos digitais. Redes de satélites foram detetadas e em poucos momentos os filtros seletivos haviam classificado montanhas de informações.
     - Hora de divulgar as ordens secretas - decidiu o comandante.
     An-Sard era a única, além de El-Noel, que conhecia a real missão da Es-Sotamer, mas seguiu o protocolo exigido: convocou as testemunhas - Ar-Ji, o navegador, Ot-Att, o engenheiro, El-Meni, a oficial de comunicações, Er-Nagi, a segunda-oficial. No lugar da piloto Es-Moni, que estava ausente em missão de observação remota, foi requisitada a presença da doutora Am-Cira.
     Os demais integrantes do Estado-maior permaneceram em seus postos: Il-Lam, Em-yr, El-Menair, oficiais táticos; Ar-Çag, Chefe da Logística, Ar-Guemseid, Al-Car e as irmãs Es-Rave e En-Ravi, operadores setoriais. An-Aihn, a jovem alferes, Am-Arrefrei, Ul-Ichivoilca, Ul-Fegorn, Éyn-Adar, Al-Ioit, El-Regien e En-Ocao (que os amigos mais chegados chamavam de Cecília dos Sonhos Azuis) repousavam em seus alojamentos. Is-Myss, Am-Riaz, Éor-Dab, A-Is, Alm-éia, Am-Groh, Es-Svete (também conhecido como João), Yé-Mae, Al-Neihn, At-Iatne, Ah-Toica, Er-Sogi, El-Zian, Yn-Hat, Ah-Ainib, Il-Dam-Morseg, An-Yn e En-Zaus aproveitavam seu turno de folga na cantina ou no ginásio. A cosmobióloga En-Desi, em seu laboratório, preparava o banco de dados que receberia as informações sobre a fauna e a flora local, com o auxílio das grumetes homônimas da oficial de segurança - An-Sard Fupf e An-Sard Lubsit - e do segundo navegador És-Siom, o "Poeta". Al-Neuma, Al-Revúcia, At-Ir e Ic-Cha cumpriam seu turno de plantão na Engenharia. Nos hangares, As-Toboisac, Ar-Asorbanc e Il-Arlajonil cuidavam da manutenção das naves auxiliares. Com mais de 200 tripulantes e alguns estagiários, a Es-Sotamer ainda se ressentia da falta de alguns integrantes que haviam pedido baixa.
     O envelope branco, lacrado com cera vermelha conforme a milenar tradição do protocolo da frota, foi aberto com os rituais de praxe. El-Noel sacou dele duas folhas com o timbre do Almirantado. Deu uma delas a Er-Nagi e inseriu a outra na leitora; logo a grande tela exibia o texto:

Do Comando Geral da Frota
Ao Comandante da "Es-Sotamer"
Ordem 41-X-003
Destino: Sistema da estrela Sol, quadrante de Centauro.

Histórico: Missões não tripuladas anteriores indicam que o evento cósmico conhecido universalmente como "Luz Nova" provocou no terceiro planeta do sistema efeitos anômalos.

Instruções: Investigar e agir conforme Procedimento Padrão de Emergência, seção 15.

Assinado: Comodoro El-Lobsarc, R. R.
Por Ordem do Almirantado.

     - Que evento é esse? - perguntou Er-Nagi, enquanto conferia a cópia.
     - É aquele conhecido, no seu planeta, como "Luz Nascente" - explicou Ot-Att.
     Er-Nagi rubricou a folha que tinha em mãos e passou-a a Ar-Ji, lembrando-se das festividades que marcavam, em Delta Crucis 4, o advento da Luz. E do espanto que experimentara ao saber que o mesmo acontecimento era celebrado, em épocas e sob formas diferentes, em todos os mundos habitados do Universo conhecido.
     Nas três estrelas de Alfa do Centauro, chamava-se "A Mãe-Luz", e celebrava o nascimento de uma mulher milagrosa, que unira pela simples força de seus ensinamentos os três impérios estelares. Em Rigel - terra de Ar-Çag - fora um homem humilde do povo, nascido em uma família numerosa, que estabelecera a paz entre as forças conflitantes. Em cada sistema habitado os detalhes diferiam, mas sempre os maiores benefícios eram no crescimento moral, espiritual e intelectual das pessoas de todas as classes. A lista de mundos afetados não tinha fim.
     Todas as tradições mencionavam o aparecimento de um astro particularmente luminoso. Por isso, os cientistas acreditavam que tratavam-se de eventos interligados, tendo em comum a eclosão de uma Supernova do tipo I, em algum lugar ainda desconhecido da Galáxia. E assim, com base na velocidade da luz e nos relatos antigos, rastreavam os eventos e suas épocas, na esperança de determinar o foco primitivo.
     Havia os que não aceitavam essas explicações.
     - Isso não tem lógica! - insistia Ar-Ji, enquanto autenticava a cópia.
     - Suas orelhas pontudas também não têm lógica! - retrucava El-Meni.
     Ul-Ichivoilca, já em seu posto de pilotagem, interrompeu a discussão, anunciando:
     - Nave estabilizada em órbita polar, senhor!
     - Obrigado, Ul. Er-Nagi e Ot-Att, coordenem a análise dos dados. Prioridade um.
* * * * *
     El-Meni nunca havia participado de uma reunião secreta de nível máximo. E ao tomar conhecimento da lista de convocados sua apreensão cresceu.
     "Engenharia, Armamento, Segurança, Logística, Comunicações e mais a doutora... isso está cheirando a combate!"
     El-Noel abriu a reunião:
     - As análises estão concluídas. O evento cósmico, aqui conhecido como "Natal", é festejado a cada órbita completa do planeta, entre um dos solstícios e o periélio - daqui a três dias-padrão. Mas embora uma parcela do povo mantenha-se fiel aos influxos originais do evento - na figura de um Salvador - tudo indica que a Luz da Estrela, como é chamada no meu planeta, foi obliterada ou distorcida desde o começo.
     - Mas como?
     - Não sabemos. Mas os registros de guerras e morticínios, perseguições e injustiças, ambição desmedida e violências contra os fracos são incontestáveis.
     - Mas... e esse Salvador?
     - Eles o mataram. Três ou quatro décadas depois de seu nascimento, eles o torturaram e mataram.
     Murmúrios de incredulidade. Depois, silêncio. Todos sabiam o significado daquela declaração.
     - Teremos que aniquilar a vida neste planeta - a voz de El-Noel estava tensa. - Não podemos arriscar que toda a Galáxia seja contaminada por um único fruto podre. El-Menair, elabore o plano tático da operação.
     - Sim, comandante.
     Havia tristeza na voz dela. A reunião foi encerrada num silêncio soturno.
* * * * *
SEGUNDA PARTE

     As quatro tripulantes cercaram El-Noel na ponte de comando:
     - Comandante, nós descobrimos um jeito...
     - Achamos que há um meio de evitar...
     - Podemos salvar o planeta!
     El-Meni, Ar-Çag e Al-Car falavam excitadas ao mesmo tempo, em tom de urgência. An-Aihn, logo atrás, acenava enfaticamente.
     - Infelizmente não dá. Gostaria que houvesse alguma maneira.
     - Mas a exceção prevista no último parágrafo da Seção 15...
     - Já tentei... mas ela só se aplica quando o povo do planeta em questão apresenta uma reação consistente às condições de desumanização vigentes. E os dados mostram que aqui essas reações são esporádicas, desorganizadas e totalmente inócuas.
     - Ah, mas o Regulamento não proíbe que nós provoquemos a reação necessária!
     Os olhos do comandante brilharam, num misto de esperança e dúvida. Ele notou o súbito silêncio que havia caído sobre a ponte de comando. Olhando ao redor, percebeu os olhares furtivos dos tripulantes em seus postos e o clima de ansiosa expectativa que dominava o ambiente. Um sorriso fugaz iluminou suas feições severas.
     - Isso está me parecendo um motim bem tramado. Qual é a ideia de vocês?
     Após ouvir os detalhes e esclarecer algumas dúvidas, o comandante autorizou a execução do plano.
     - Isso vai exigir um planejamento cuidadoso. O sincronismo das ações será crítico. Já que a ideia é de vocês, arranjem um nome para a operação e coordenem com os demais oficiais.
     - Já temos um nome - disse Ar-Çag. - El-Meni andou estudando as lendas locais...
     - E qual seria?
     - Operação "Papai Noel"! - disparou An-Aihn.
     E as quatro bateram rapidamente em retirada, entre risadinhas, fugindo aos protestos de El-Noel.
* * * * *
     Havaí, madrugada do dia 24 de dezembro. Alguns noticiários locais veicularam informações desencontradas dando conta de que em Kiritimati, na pequena ilha de Kiribati, situada no meio do Pacífico, a oeste da linha internacional de mudança de data e quase em cima do Equador, no fuso de +12 horas, haviam ocorrido fenômenos curiosos à meia noite de 24 para 25, quando o próprio Havaí estava na noite de 23 para 24. Poucas pessoas tomaram conhecimento, e essas não deram muita atenção ao fato.
     Algum tempo depois, com a mudança da data nos próximos fusos horários, começaram a chegar notícias semelhantes da Nova Zelândia, da Sibéria Oriental e de Port Moresby. Depois foi a vez da Austrália Oriental - Brisbane, Melbourne, Sydney, Adelaide. Os relatos eram, na essência, sempre os mesmos.
     Em todos os lugares, à meia-noite, hora local, um grande clarão havia iluminado o céu noturno. As pessoas que estavam nas ruas soltavam gritos de espanto, atraindo os que estavam dentro dos edifícios. Metade da população vira aquela estrela esplendorosa brilhar no céu por quinze minutos. Todos os canais de TV, inclusive os de TV a cabo, exibiam a mesma imagem - uma estrela explodindo em luz ofuscante, ao som de uma música desconhecida, mas suave e hipnotizante. Todas as estações de rádio transmitiam a mesma música. Todos os telefones tocaram à meia-noite, e quem atendia ouvia a mesma mensagem de voz, que também era enviada, em forma de texto, a todos os e-mails e faxes - sempre no idioma local:
     "Paz seja no vosso planeta, assim como é em todo o Universo. Feliz Natal, terranos!"
     Darwin, depois Tóquio... o estranho fenômeno se deslocava ao redor do planeta, pulando de um fuso horário para o seguinte, sincronizado com os relógios de todo o mundo. Mesmo cidades situadas próximas entre si, mas com horários diferentes, eram afetadas apenas nos quinze minutos após a meia-noite local.
     Os comandos militares de todo o mundo entraram em alerta máximo.
* * * * *
     Todos os postos da Es-Sotamer estavam com guarnição dobrada. A ponte de comando fervilhava. Ordens eram expedidas a todo momento e seu cumprimento era acusado quase imediatamente.
     - Próximos alvos: Gama Uno até Cinco. Comando tático, reportar!
     - Alvos adquiridos e enquadrados! Sistema tático travado!
     - Contagem: Três... dois... um... zero!
     - Alvos sob fogo... atingidos! Contagem de 15 minutos em andamento!
     E Pequim, Shangai, Hong-Kong, Manila e Perth eram "bombardeados".
     A passagem pela Europa exigiu o máximo de desempenho da tripulação e dos equipamentos. As pequenas naves-robôs táticas não foram suficientes. Dezenas de naves auxiliares, com três tripulantes cada uma, foram designadas para alvos específicos. Seriam recolhidas durante a breve travessia do Atlântico e novamente lançadas ao chegar a vez das Américas.
* * * * *
     "Bombardeadas" as três Américas, a Es-Sotamer dirigiu seu poder de fogo para os últimos alvos. A noite de Natal estava chegando ao fim.
     Após o "bombardeio" do Havaí e de alguns alvos secundários na região do Pacífico, a operação "Papai Noel" foi encerrada. A nave havia completado o périplo do planeta em 24 horas, sempre na linha da meia-noite. Agora era o dia de Natal em todo o planeta - um Natal diferente, em que as pessoas olhavam para o céu com um misto de receio, fascinação e esperança. As forças de defesa continuavam em alerta, perplexas, sem qualquer alvo ou inimigo visível.
     - Teremos que voltar para monitorar a evolução dos resultados - advertiu El-Noel. - Além dos conflitos políticos, existe ainda a divisão religiosa. Eles terão dificuldades para manter seus diferentes modos de ver a Luz e ao mesmo tempo reconhecer que a Luz é uma só, mesmo quando venha de fontes diferentes.
     - Eles vão conseguir. Tantos planetas diferentes conseguiram! Se for preciso, repetiremos o "tratamento" - retrucou a doutora Am-Cira, confiante.
     As últimas naves auxiliares já haviam sido recolhidas aos hangares. El-Noel ordenou que a Es-Sotamer abandonasse o sistema e se preparasse para a viagem de regresso.
* * * * *
     A tripulação estava eufórica. O clima no grande salão de recreação era de festa. El-Menair ornamentara um canto do pequeno palco com uma imitação de arbusto luminoso, conforme as imagens captadas pelos sensores. Ar-Çag organizara uma apresentação tridimensional dos chamados "presépios". El-Meni havia programado suas pernas biônicas com os dados dos ritmos mais animados do planeta e agora saracoteava no meio do salão, tentando ensinar ao sempre sisudo Ar-Ji os passos de uma dança que ela chamava de "baião", ao som da música gravada nos bancos de dados. En-Zaus improvisava ao microfone, em sua bela voz de contralto, versões em dialeto rigeliano das canções locais, enquanto At-Iatne fixava, em grandes imagens holográficas, os traços que mais marcavam sua sensível alma de artista. En-Desi mostrava a Ul-Ichivoilca e a Er-Nagi belíssimas imagens de flores e de insetos voadores de grandes asas coloridas, que chamava de "borboletas", explicando entusiasmada a interdependência entre o animal e o vegetal.
     Ao cruzarem a órbita do quarto planeta, El-Noel interrompeu a elaboração do minucioso documentário no qual registrava os acontecimentos no diário de bordo e ordenou que os escudos fossem desligados. An-Sard disse, preocupada:
     - Comandante, não estamos longe o bastante. Eles com certeza nos detetarão...
     - Que detetem. Que escutem. Que saibam quem esteve aqui. Que se preocupem com coisas mais importantes que suas disputas mesquinhas por dinheiro e poder. Que pensem. E que aqueles dentre eles que ainda conservam um pouco de luz interior possam desfrutar de um... - ele elevou a voz: - Como é mesmo que eles dizem, El-Meni?
     - Feliz Natal, comandante! - gritou ela, sem interromper a dança.
     - Isso! Feliz Natal!
     E deixando um rastro de centelhas azuis, ao som de "White Christmas", "Noite Feliz", baiões e rock'n roll, intercalados com músicas clássicas, risadas alegres e saudações em todas as línguas da Galáxia, a Es-Sotamer acelerou em direção ao universo estrelado.
     Foi por isso que o mundo não acabou...

- FIM (do conto) -

Rodolfo Barcellos - dezembro de 2011


Licença Creative Commons O texto "Um conto de Natal" está licenciado sob uma licença Creative Commons Atribuição-SemDerivados 3.0 Brasil. É livre a cópia e a distribuição, mesmo em publicações de caráter comercial, respeitados os créditos e a forma original do texto. A imagem não está incluída nessa licença.

Uma versão do mapa tático utilizado na Operação Papai Noel pode ser visualizada em
http://24timezones.com/hora_certa.php

Tripulantes da Es-Sotamer - por ordem de aparecimento:
An-Sard Sandra
El-Noel Leonel
Ar-Ji Jair
Ot-Att Tatto
El-Meni           Milene
Er-Nagi Regina
Es-Moni Simone
Am-Cira          Marcia
Il-Lam          Milla
Em-yr           Mery
El-Menair Marilene
Ar-Çag          Graça
Ar-Guemseid       Mariguedes
Al-Car Carla
Es-Rave Severa
En-Ravi          Evanir
An-Aihn Aninha
Am-Arrefrei       Ma Ferreira
Ul-Ichivoilca Lu Cavichioli
Ul-Fegorn Lu Nogfer
Éyn-Adar Andréya
Al-Ioit Otilia
El-Regien        Regilene
En-Ocao           Oceano (Cecília)
Is-Myss          Sissym
Am-Riaz          Mariza
Éor-Dab          Débora
A-Is Isa
Alm-éia Amélia
Am-Groh Margoh
Es-Svete Esteves (João)
Yé-Mae Aymée
Al-Neihn Leninha
At-Iatne         Tatiane
Ah-Toica Catiaho
Er-Sogi         Sergio
El-Zian Zilane
Yn-Hat          Nathy
Ah-Ainib         Bia Hain
Il-Dam-Morseg Dilmar Gomes
An-Yn Nany
En-Zaus          Suzane
En-Desi Denise
An-Sard Fupf Sandra Puff
An-Sard Lubsit    Sandra Subtil
Es-Siom Moisés (Poeta)
Al-Neuma          Manuela
Al-Revúcia        Vera Lúcia
At-Ir             Rita
Ic-Cha            Chica
As-Toboisac       Catia Bosso
Ar-Asorbanc       Rosa Branca
Il-Arlajonil      Lili Laranjo

(Há mais de 200 nomes na lista de chamada. Estes são os que mais aparecem na ponte de comando, mas todos são importantes.)

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Os joões dela


     Ela mostra toda a sua personalidade nos lugares mais inusitados e transforma um simples instrumento de referência em um auto-retrato de sua alma de escritora. A gloriosa alvinegra nutre pelos seus marcadores o mesmo respeito que o saudoso Mané Garrincha tinha por seus joões - quando não os ignora, faz deles brinquedinhos para sua própria diversão e deleite dos espectadores-leitores. No rodapé do Inquietude, entre outras tags, acham-se as seguintes preciosidades:


amores inventados 
ano novo de novo
assalto fofo 
autoajudice 
besteirices
besteirol 
borocoxô 
brincadeirinha 
buaaaaaaa 
busca pelo oposto perfeito 
cantares 
cara de pau 
coisa nenhuma 
coisas
coisinhas
datas de novo? não me cobra isso
descomemoração
desimportâncias e afins 
fofurice
frivolidades
kimbanda
marcadores ainda são chatos
mico
mundão maluco 
muvuca 
nada
nada importante
nada não
nem tem 
obviedades
outra vez a saudade
pestinha 
poxa
preguiça
qualquer coisa
quase nada
rabugice
segredinhos
sem novidades
sem noção
semi-dia derradeiro
sobre ser e estar
sobre sorrir e acenar
tenho preguiça desses marcadores
tolice pra dedéu
tolices 
trapalhada
tudo junto 
tudo velho de novo 
viagem etílica
várias tags

     Não é à-toa que a Simone chama a moça de "lagarta listrada". Ela tenta se camuflar, mas o talento se impõe. É ou não é a cara da Milene?
     Ah, mas eu estou aprendendo... já viram os marcadores desta postagem, aí em baixo?

sábado, 15 de dezembro de 2012

Trovas 201-210

     Trovas de junho deste ano, plantadas em diversos canteiros espalhados por aí, e agora colhidas e enfeixadas em um buquê multicolorido.

Borboleta na folha do coqueiro

210- Tatiane, 19/6/12
Transformar a irrelevância
Em poema tão profundo
É coisa de importância;
Não a releve o mundo!

209- Sete Ramos, resposta a Denise, 13/6/12
Tu és a mulher-poesia,
És a voz de uma canção
Cantando a rima vadia
Que encanta meu coração!

208- Mari Guedes, 9/6/12
Teus versos são malabares
No centro do picadeiro
Que atraem os olhares
E aplausos do circo inteiro.

207- Sissym, 9/6/12
A Lei de Newton decreta
Que o amor que tem constância
Cresce na razão direta
Do quadrado da distância.

206- Tatiane, 9/6/12
Esqueci de me lembrar
O que eu queria dizer;
Mas o sabor de te amar
Não lembrei de me esquecer.

205- Marcia, 8/6/12
Dentro de ti há espaços
De luz e de escuridão
Por onde vagam teus passos
Buscando um coração!

204- Marilene, 8/6/12
Perdi o amor de alguém
Não sei onde, não sei quando;
Não sei se perdi o trem
Ou peguei o bonde andando...

203- Isa, 6/6/12
Ser Poeta é ser espelho
Assim como o é ela
Sem juízo, sem conselho
Ser Poeta é ser Florbela!

202- Xipan, 5/6/12
Tenho uma vaga memória
De um dia muito odiado;
Mas segunda é já história
Pois estou aposentado...

201- Zilani, 5/6/12
Versos tristes, no lamento
De uma lágrima esquecida
Que chora, com sentimento,
A inocência perdida.

Niterói, dezembro de 2012
Rodolfo Barcellos

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Navegar (repostagem)

Lutar contra a corrente é mau aviso.
Entregar-se à mercê dela também é.
Naveguemos. Navegar sempre é preciso.
Naveguemos com coragem e com fé.

Mar Noturno - Óleo por Denise
     Há certas frases e expressões que, mesmo sendo concisas, carregam riquezas inesgotáveis. A origem da maioria delas se perde nas brumas da história de cada língua viva, mas de algumas é possível encontrar o registro de nascimento.
     Em 1325, Afonso IV assumiu o trono em Portugal e iniciou um intenso intercâmbio comercial com Florença. Como subproduto, a cultura toscana passou a ter grande - e duradoura - influência em Portugal. PETRARCA chegou a ser "clonado", duzentos anos depois, pelo próprio Camões - senão, vejamos:
     Petrarca:
Questa anima gentil che si diparte,
Anzi tempo chiamata a l'altra vita...
     (Esta alma gentil que agora parte,
     Chamada antes do tempo à outra vida...)

     Camões:
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente...

     Pois foi também Petrarca que cunhou a bela frase (muitas vezes atribuída a Fernando Pessoa): "NAVEGAR É PRECISO; VIVER NÃO É PRECISO". Vejamos algumas acepções que ilustram a riqueza dessa frase:
     Acepção original, de Petrarca: "A navegação é uma ciência exata (precisa); a vida, não."
     Acepção de Fernando Pessoa, celebrando as grandes navegações portuguesas: "É necessário navegar; não é necessário viver."
     Há inúmeros outros contextos que utilizam essa frase, completa ou pela metade. E eu peço ao leitor licença para apresentar minha própria interpretação: "Navegar é preciso; viver é navegar."
     O texto que se segue é uma transcrição revisada da matéria publicada no "Sete Ramos de Oliveira", em 18 de janeiro de 2010.  O significado de "preciso" deixo a critério do leitor.
*   *   *   *   *
     Navegar é preciso. Remar contra a corrente nada resolve, e abandonar-se a ela pode ser pior. É preciso navegar.
     Navegar é conhecer as correntes e redemoinhos, as pedras e arrecifes, o vento e as marés, a enseada segura e a praia traiçoeira. É escolher um destino alcançável e planejar a rota em cada trecho. É estar preparado para o tufão imprevisto e saber contornar obstáculos intransponíveis. É saber usar o mapa e a bússola, o sextante, a barquilha e o cronômetro. É bordejar no vento contrário e abrir as velas à brisa favorável. Navegar, em suma, é saber chegar a salvo ao porto escolhido, mesmo sem o auxílio do GPS.
     Navegar pela vida não é diferente. Aprendemos desde a mais tenra infância a distinguir o alcançável do inalcançável, e como chegar aos objetivos mais tentadores. Conforme crescemos, nossos pais nos mostram os redemoinhos e escolhos da vida e nossos mestres nos fornecem os instrumentos de navegação - que mais não são que a educação formal que recebemos. E nós vamos nos aperfeiçoando na arte de navegar pela vida, começando pelas pequenas rotas lacustres e fluviais, e as linhas costeiras, onde os menos ambiciosos se acomodam, enquanto os aventureiros prosseguem até chegar à navegação de cabotagem e finalmente às travessias de longo curso.
     Mas nem todos têm a fortuna de nascer com o talento de um Torben Grael, e podemos vislumbrar muitas vezes um navegante solitário lutando contra a corrente ou dando voltas em um redemoinho. E nem sempre podemos socorrê-lo.
     Pois não podemos descansar em cada porto mais que o necessário para recuperar as forças, costurar as velas e reabastecer o navio. Sempre haverá uma próxima derrota* a ser planejada e vencida.
     Enquanto pudermos navegar.

     (*) Derrota: termo náutico. Curso, rota.


*   *   *   *   *

Niterói, dezembro de 2012
Rodolfo Barcellos

sábado, 8 de dezembro de 2012

Sete sete-setes, XIII

     Sete-setes de agosto... outra vez, como sempre, trago aos amigos, enfeixados em ramalhete, os versos que estavam dispersos pelos recantos de cada um.
Íris da Praia
XIII.7- Zilani, 14/8/12
Tanto mais escura a noite
Mais brilha a foice prateada;
Mais tenebrosa ela foi-te,
Mais clara é a madrugada.
E o medo desse escuro
Sucumbirá ante o puro
Beijo do Sol na alvorada.

XIII.6- Isa, 14/8/12
Teu lugar tão bem guardado
Por teus fiéis guardiões
Está também reservado
Cá nos nossos corações;
Tuas férias sejam breves
E na bagagem tu leves
Nossas muitas orações.

XIII.5- Leonel, 9/8/12
Venha sempre que quiser
À nossa festa, amigão!
Vestido como estiver,
Terno, black-tie ou calção;
Seu ingresso é permanente,
Faça frio, esteja quente,
Seja inverno ou verão.

XIII.4- Dilmar, 7/8/12
Profetas do fim do mundo
Todos anos surgirão
Esse mistério profundo
Não se submete à razão
Quando esta entra em eclipse
O arauto do Apocalipse
Ganha dim-dim de montão...

XIII.3- Sissym, 5/8/12
Em vez de trocar alianças
Que algemas fechadas são
Que tal trocar com confiança
Nossas chaves do portão?
Teríamos liberdade
De ir e vir à vontade
Atendendo ao coração...

XIII.2- Marilene, 5/8/12
Para libertar as cores
Do preto e branco do mundo
Basta destilar as dores
À luz de um amor profundo
E a lágrima, qual diamante,
Um arco-íris radiante
Fará de cada segundo!

XIII.1- Marcia, 5/8/12
Quem me dera que um dia
A voz do fado pudera
Mudar tua poesia
Em realidade, à espera
Que teus sonhos germinassem,
Que teus amores brotassem,
Quem me dera... quem me dera!

Niterói, dezembro de 2012
Rodolfo Barcellos

sábado, 1 de dezembro de 2012

Trovas 191-200

     Duzentas trovas! Se bem que algumas não passem de meras quadrinhas, fugindo ao metro e à rima da trova clássica - como a 191, que é uma brincadeira infantil, mas expressiva - fico satisfeito em ter alcançado esse número já no início de junho. Mérito dos excelentes textos em prosa e verso dos amigos, fontes inesgotáveis de inspiração.
Moréia

200- Leninha, 5/6/12
Recordações e saudades,
Lembranças, doces memórias...
Gotas de felicidades
Que contam tuas histórias!

199- Regilene, 5/6/12
Como os marcos miliários
Mostram distância vencida,
Assim os aniversários
Marcam o tempo de vida.

198- Denise, 4/6/12 (MSN)
Sonha, menina, sonha,
Sonha um sonho de ninar,
Faz de conta que és cegonha
No teu ninho a descansar...

197- Evanir, 4/6/12
Na Severa já estive
Um versinho lá deixei;
E a você, que deles vive,
Outro aqui eu deixarei.

196- Sandra Subtil, 3/6/12
Poesia de aromas
Em lembranças de sabores
Sentimentos em redomas
Relicário de amores...

195- Resposta a Mi, 3/6/12
Vou fazer só uma trova
E só neste comentário;
Pra mim isso é uma prova,
Prefiro fazer o contrário!

194- "Entre Aspas", 3/6/12
Quando o Direito da Força
Vence a Força do Direito,
Que a Justiça se retorça,
Que a Verdade dê um jeito!

193- Ma, 2/6/12
Possa a voz do menestrel
Elevar-se neste hino
Lembrando da Ma o Céu
Pra louvar o Céu de Vino.

192- Denise, 1/6/12
O sonhador é o poeta
O sonho é a poesia;
Para torná-la completa
Há que escrevê-la um dia.

191- Ma, 5/1/12
Um, dois, três,
Quatro, cinco, mil,
A Ma é a ceramista
Mais querida do Brasil!

Niterói, dezembro de 2012
Rodolfo Barcellos

PS: Ainda estou recuperando programas e arquivos no meu PC. Ele já saiu da mesa de operações mas está ainda na UTI...