terça-feira, 12 de março de 2013

Déjà vu 2013


     QUOUSQUE TANDEM?
     Estou cansado de reeditar este artigo, ano após ano! Esta é a nona edição!


Depois da tempestade vem a enxurrada
     Escrito em junho de 2005, este artigo foi em grande parte inspirado pelos trágicos efeitos das tempestades daquele ano, não só no Brasil como no resto do planeta. Entra ano, sai ano e nada mudou... ou mudou para pior. Por isso, venho reeditando o texto a cada verão, com as adaptações necessárias, de 2006 em diante (já neste blog). 
Imagem: UOL Notícias (via Lu Cavichioli)
     Chuva, chuva, chuva. Falo dos aguaceiros de verão que castigam S. Paulo, Rio, Belo Horizonte... cidades grandes e pequenas pelo Brasil afora. Famílias que perdem tudo... vítimas fatais ... tristeza e prejuízos. Cobranças às autoridades, explicações e desculpas... e tudo se repete, ano após ano.
     Dizem que o problema é falta de escoamento, por causa de bueiros entupidos e lixo acumulado nos canais. Besteira. Isso é jogar pra cima da população a responsabilidade pela incompetência dos engenheiros municipais e dos secretários de obras.
     Na verdade, a grande maioria dos problemas é causada pelo excesso de escoamento. Isso mesmo - excesso de escoamento. Você não acredita? Bem, deixa eu explicar.
     As maiores inundações são causadas por chuvas torrenciais que causam uma precipitação pluviométrica  de uns 200 milímetros, no máximo, em 24 horas. Isso quer dizer que, se não houvesse nenhum escoamento, se cada gota de chuva ficasse onde caiu, cada rua, ao fim das 24 horas de tempestade, teria apenas um palmo (200 mm) ou menos de água. Além disso, não haveria enxurradas, que são a principal causa de desabamentos e afogamentos. Em S. Paulo, o Tietê e o Pinheiros subiriam apenas 20 centímetros, assim como o canal do Mangue no Rio, e outros escoadouros.
     Obviamente, os telhados também ficariam com seus 20 cm de água acumulados, assim como as calçadas, praças e jardins. Mas qualquer telhado bem feito resiste a uma pressão de 200 mm de água.
     É claro que é impossível querer obrigar cada gota a ficar onde caiu (*); mas é perfeitamente possível controlar o escoamento de modo a reduzi-lo a um nível que evite os grandes problemas acima citados. A água demoraria um pouco mais a baixar - talvez dois ou três dias - mas a cidade e seus habitantes teriam trocado uma calamidade pública por uma inconveniência de consequências mínimas.
     Portanto, Srs. Prefeitos, secretários e engenheiros, parem, por favor, de gastar nosso dinheiro aumentando o fluxo do escoamento pluvial. Tratem, isso sim de procurar meios de reduzi-lo e controlá-lo. Desde já, eleitores e cidadãos agradecem.

     (*) Esse efeito pode ser observado nos lugares e épocas do ano onde cai neve, em vez de chuva. Cada "gota" - ou floco - permanece onde caiu, e os problemas maiores são causados pelo frio e pelo volume acumulado da precipitação (muito maior em forma de neve do que em forma líquida). Quando chega a primavera, o degelo é lento e o escoamento não causa maiores transtornos.

     Mas como controlar o fluxo do escoamento? Sugiro um estudo em quatro etapas:
     1 - Identificar e mapear as "minibacias pluviais urbanas" - os canais naturais ou artificiais do escoamento, definindo seus "divisores de águas" (acho que isso já existe);
     2 - Selecionar uma ou duas minibacias adequadas a um programa de controle de fluxo;
     3 - Efetuar as obras públicas necessárias e incentivar os proprietários dos imóveis a adaptá-los ao programa. As áreas impermeáveis serão priorizadas;
     4 - Aguardar a próxima época de chuvas torrenciais, fazer o levantamento estatístico dos resultados, divulgá-los e partir para o abraço - ou para a reeleição.
     As obras públicas e particulares necessárias seriam simplesmente a coleta da chuva através de calhas e canaletas, conduzindo o fluxo total a reservatórios apropriados, dos quais seria liberado o fluxo controlado. Um imóvel com área impermeável de 1.000 metros quadrados (um condomínio vertical de porte médio) necessitaria de um reservatório com capacidade para apenas 100 metros cúbicos de água para controlar um débito de 100 mm/dia. Os engenheiros sabem como fazer isso.
     É claro que isso não é uma panacéia, e só se aplica na prática a áreas de alta concentração urbana e baixa permeabilidade. Mas imagino que um prefeito mais interessado nas próximas gerações, e menos nas próximas eleições (eu tenho uma imaginação delirante, às vezes) possa fazer alguma coisa a respeito.
     Que tal as minibacias que deságuam na Praça da Bandeira, aqui no Rio?

     Adendo à edição de 2011: Desta vez tragédia foi maior e se concentrou em outras áreas, mas as causas continuam as mesmas: DESCASO CRIMINOSO DAS AUTORIDADES.
     Onde os planos emergenciais? Onde o plano de coordenação da Defesa Civil com outros órgãos públicos? Cadê o combustível para os helicópteros? Médicos, paramédicos e enfermeiros, onde? Aliás... e os hospitais? Onde os há, que é dos leitos? Onde foram parar os equipamentos indispensáveis?

     E, por favor... quantas vezes ainda terei que reeditar este artigo doloroso? Se nos primeiros anos o sentimento era de indignação este sentimento veio se transformando através dos anos: raiva, frustração, impotência, desilusão... mas nunca desesperança! Quando a esperança deixar de existir, eu pousarei minha pena impotente - nunca antes!

     Adendo a esta edição (2013): Parece que resolveram aplicar a "solução" de reservatórios para controle de escoamento na região do Maracanã / Praça da Bandeira. Se der certo, para alguma coisa terão servido a Copa e as Olimpíadas.

Niterói, verão de 2013 (depois da chuva)
Rodolfo Barcellos

19 comentários:

  1. E infelizmente acredito que terás que republicar muitas outras vezes. O DESCASO continua! PENA!! Até quando??? Vamos esperar que melhore, mas... abração,chica

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  2. Vamos ver se quando estiverem concluídos, os tais "piscinões" do Paes vão funcionar!
    Até agora, tudo parece estar do mesmo jeito!
    Abraços, BArcellos!

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  3. Era bom que de vez em quando os políticos nos ouvissem. Nem que fosse uma vez só. Parece que a falta de audição é universal.
    Beijinho

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  4. Barcellão...

    O gonócio tá fêio meRmo meu amigo, as coUsas andum dum jeito que inté nos Interior ( Sorocaba, Piracicaba, Votorantim e outras cidades de porte menor ) já vem ocorrendo diversos problemas Fluviatívos quinêm nas grandes metrópolis.
    Sim, tem muito de política, maisi tem tumêm muito de POVO RELAXADO com construções sem planejamento e LIXO, MUIIIIIIIITO LIXO e descaso com os "córguinhos" e as nossas várzeas.

    Vamuvê se mióra no futuro... boto fé, mas não ponhô a mão no fogo por ninguém... rss

    Abração e DeussssssssssssssssssssssssKiajude

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  5. Todos os anos temos que assistir a dolorosa situação dos atingidos. E a cada eleição ouvimos as mesmas promessas de solução. Além dos fatores que mencionou, ainda existe o uso indevido das verbas destinadas à reconstrução, ao apoio, ao atendimento das necessidades da população. E haja orações! Grande beijo!

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  6. Pois é caríssimo, todo o ano chove no molhado como vc bem o disse ali no Retratos.
    O dinheiro público escoa, enquanto os alagamentos roubam vidas e provisões.

    Esse país não tem mais jeito RR,eu não tenho mais perspectivas sobre.

    Parabéns pela blogada inteligente e informativa. Sempre aprendemos contigo.
    bacio

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  7. Olá Barcellos,

    Gostei da sua postagem. Seu raciocínio é muito lógico. Pena que as autoridades nunca estejam aptas a agirem no momento certo e com maior eficiência. No momento das tragédias surgem apenas medidas paliativas. Todo ano a novela se repete. Medidas preventivas nunca são adotadas, infelizmente.

    Quem sabe a experiência na região do Maracanã resulta frutífera e é estendida para as demais áreas de risco? Tomara. Eventos importantes no Brasil obrigam os governos a agirem.

    Beijo.

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  8. Há gritos que deveriam ser ouvidos em todo o planeta.
    Este é um deles. Gostei muito desta sua postagem.

    Deixo um forte abraço

    Sónia

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  9. Estimado amigo, outro dia, apos um temporal, um reporter estava na Praça da Bandeira e comentou que entrevistado disse que sua mãe reclamava da mesma coisa há 50 anos atras: que a Praça ficava alagada absurdamente. Isto é, passam as decadas e os problemas se repetem, algumas vezes mais violentos.

    Bjs

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  10. OI R. R. BARCELOS!
    A CADA CATÁSTROFE REEDITAS ESTE TEXTO, NO QUAL DÁS A SOLUÇÃO QUE PROVAVELMENTE É A ACERTADA, ASSIM COMO OUTROS PROBLEMAS QUE SABEMOS SEREM DE FÁCIL SOLUÇÃO E NADA É FEITO, ISTO NOS DÁ UMA SENSAÇÃO DE IMPOTÊNCIA E MUITA RAIVA.
    MUITO INTELIGENTE TEU TEXTO.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/ClickAQUI

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  11. Dizer o que? Que venha 2014...2015...2016... Só espero que a cada postagem euzinha continue por aqui firme e forte. Que a enxurrada,os buracos gigantescos etc e tal não me carreguem junto.
    Beijuuss solidários Bruxo

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  12. Apesar de ter sempre coisas tristes
    a gente passo por situações não agradável
    gostei da maneira que vc expressa seu texto
    Que toda essa água não machuque ninguém
    Bjuss de boa noite com bons sonhos

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  13. puts...ando cansada e decepcionada
    pelo descaso publico.

    choro junto com as pessoas que perdem
    tudo...


    mas teu jeito de escrever me traz admiração


    um beijo

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  14. olha só, eu não sabia disto, mas já concordava com o simplismo de culpar sempre a população. muito legal, bjs

    http://eubipolarbuscandoapaz.blogspot.com.br/

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  15. Quem sabe ano que vem,por esta época, você postará se alegrando porque choveu... e apenas choveu? Por que a natureza apenas cumpriu seu papel, a água escoou e pronto? Tá, já me belisquei e estou bem desperta agora. Lamento.

    Beijo, meu bem.

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  16. Belo alvorecer meu maracujá de gaveta !
    Como sempre vc me surpreende por alguma razão.Hoje lembrando que é o dia da poesia, uma data que sempre estamos esquecendo...a poesia é muito mais que palavras por isso que tem seu dia para ser comemorado...
    Parabéns pra você que sempre traz grandes poemas para nos encantar ...
    bjssssssssssssssssssss

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  17. É tão verdade o que escreve! Sempre que ha enxurrada há promessas dos políticos - que ficam sempre por cumprir...até nova enxurrada! Pena é que eles não sejam levados na dita...
    Gostei do seu blogue, Rodolfo, e já estou seguindo! (Convido-o a reciprocar)
    Um beijinho

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  18. Amigo infelizmente não temos em quem votar
    todos são da mesma estirpe.
    Na verdade teria que entrar um trabalhador onde a vida dele é exatamente como sua postagem real e triste.
    Por alguns anos teríamos governantes de qualidade.
    Feliz final de semana um abraço ,Evanir.

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  19. Bom dia meu maracujá de gaveta !
    Passando pra te acordar e tomar um cafezinho com você...posso ?
    bjs de bom dia !

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