quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Quo Vadis?

Houve época em que minha fome de leitura era insaciável. Desde os gibis infantis até a Bíblia, passando por obras de divulgação científica e de ficção, tudo era devorado. Os versos brancos que se seguem nasceram de uma combinação eclética de leituras de minha adolescência: "Nascimento e morte do Sol" (George Gamow), "Quo Vadis?" (Henryk Sienkiewicz) e o Livro do Gênesis, tudo temperado por um crescente interesse pela teoria do "Big Bang".

Quo Vadis?

Há tanto tempo...
Tanto, tanto tempo passou sobre tudo...
Tudo esvaiu-se na fumaça,
No pó,
No passado;
Tudo tornou-se neblina na lembrança dos homens,
Tornou-se tudo neblina na memória da eras,
Do espaço,
De Deus.

Nada existia então.
Não existia a Vida,
Nem o Tempo,
Nem o Espaço:
In principio erat Verbo.
E eis que surgiu um ponto,
Um ponto geométrico,
Sem dimensões;
Um nada.
Mas, nesse nada,
Rugia tudo:
Rugia o Tempo, na ânsia de marcar a sucessão das Eras;
Bramia o Espaço, querendo medir a distância entre os seres;
Gritava a Vida, aspirando a determinar a soberania do Amor.

E o ponto explodiu em fulgurações cintilantes
Que levavam consigo o Tempo,
O Espaço
E a Vida.
E surgiram majestosas as galáxias,
E os sóis,
E os planetas.

Surgiu a Terra.
A Terra era informe e nua, e o espírito de Deus pairava sobre as águas.
E nas águas, a Vida fundou seu reino;
E vieram os peixes,
E os anfíbios,
E os répteis ,
E os mamíferos.

Surgiu o Homem.
Surgiu, então, na Terra, uma centelha da divina sabedoria na inteligência do Homem.
E vieram os povos,
E vieram as nações,
E as civilizações;
E veio também a paz,
A amizade,
A fartura
E o amor;
Mas veio também a fome,
A guerra,
A miséria
E o sofrimento.
E eis que chegamos hoje à encruzilhada fatal:
Quo vadis, Homo?
Aonde vais, Homem?
Aonde vais?


Hoje, tantos anos depois, tenho minhas dúvidas quanto à validade da teoria do Big Bang. Mas isto fica para outra ocasião.

2 comentários:

  1. "Quo vadis, Homo?" Só por essa reflexão já valeria o poema. Talvez seja a questão mais profunda, enigmática e transcendente que o homem faz e fará até o apagar das luzes. Abraços e parabéns pelo poema. JAIR

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  2. Eu sempre pensei que a lógica predominante no pensamento dos vulcanos os tornasse incapazes para a poesia!
    Mais um talento insuspeitado do velho Barcellos!
    Quanto ao Big Bang, eu acho que é outra teoria baseada apenas na incapacidade dos "donos" da ciência para pressupor outras alternativas.
    Já vi sugestões contrárias emitidas por um cidadão chamado Fred Hoyle, no livro "TEN FACES OF THE UNIVERSE".

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