terça-feira, 29 de março de 2011

SURSUM

     Década de quarenta. A guerra corria solta pelo mundo, e no Brasil a indefinição do governo e a desinformação geral alimentavam as paixões políticas entre os jovens, principalmente entre os estudantes.
     Em Juiz de Fora, uma turma do terceiro ano de Medicina reuniu-se em assembléia, num bar, para deliberar sobre a fundação da Sociedade que defenderia suas idéias perante tantas outras que proliferavam nos meios estudantis. A turma, de cunho eminentemente integralista, devorava Plínio Salgado em panfletos candentes e bebia cerveja pilsen em canecas geladas.
     Alguém aproveitara uma gravura gasta na parede como cabide para pendurar uma toalha puída que trazia, como único ornamento, um enorme Sigma maiúsculo, mal traçado a carvão. Numa mesa próxima Eurico, o secretário, lavrava em "Ata Solemne" os capítulos, artigos, alíneas e incisos que regeriam o novo grêmio. Discussões acaloradas, brados de apoio ou de protesto, iam dando forma àquela "amoeba proteus" ainda nascitura.
     Estatuídos os assuntos principais - razão social, objetivos, composição da diretoria e dos conselhos etc. - passou-se à discussão do assunto mais polêmico: o lema da Sociedade.
     Entre inúmeros lemas propostos, todos alusivos aos princípios do integralismo - Deus, Pátria e Família - acabou sendo eleito, entre aplausos e vaias, o proposto por dois diretores recém-nomeados: "SURSUM". E, resolvida a magna questão, dissolveu-se a assembléia, após agendar a próxima para daí a um mês, no mesmo local. Os constituintes foram saindo em pequenos grupos, alguns amparados pelos colegas mais sóbrios, mas todos entusiasmados e cantando desafinadamente o "Avante" ou gritando "Anauê!".
     Ora, já naquela época existia a precursora da Internet - no Brasil, a LABRE - Liga de Amadores Brasileiros de Rádio Emissão. E fora através das "rodadas" de radioamadores (que faziam o papel do atual MSN) que Eurico havia conhecido "virtualmente" Auxiliadora - ele como PY4-JG, ela como afilhada de Georgetta, PY4-IP.
     Duas semanas depois da constituição da Sociedade, Eurico conheceu pessoalmente Auxiliadora, numa viagem a Ponte Nova.
     Não careço de contar a vocês o que aconteceu. Eurico afogou-se nos imensos olhos escuros daquela morenaça do interior. E vendo que a moça era requestadíssima, traçou uma estratégia para conquistá-la.
     Como primeiro passo, tratou de assegurar as boas graças da madrinha. Solteirona impenitente, romântica, crédula e ingênua, a dindinha Dodoge logo estava comendo na mão do PY4-JG, e tratando-o afetuosamente de PY4 Jovem Galante.
     Em seguida, para consolidar o terreno junto à amada, o esperto Romeu desistiu da Medicina em favor de uma carreira mais prosaica mas que lhe permitiria, a curto prazo, sustentar uma família: fez concurso para o Banco do Brasil.
     E quando os antigos colegas vieram perguntar-lhe a razão da radical mudança em seu plano de vida, ele explicou:
     - Eu só estava cumprindo o lema de nossa sociedade: SURSUM.
     Um ex-colega, menos chegado ao latim, perguntou:
     - Mas isso quer dizer o que?
     - Quer dizer, mais ou menos... ALTO AÍ! FARINHA POUCA, MEU PIRÃO PRIMEIRO!
     Detalhe: a famosa sociedade faleceu na segunda assembléia, ainda pagã de nome; mas as núpcias de Eurico e Auxiliadora renderam oito filhos e mais netos e bisnetos do que posso contar nos dedos das mãos. E foram felizes para sempre, sem nunca terem se preocupado muito com "ismos" de qualquer espécie.


     Ah, e SURSUM quer dizer: "Às alturas!"

sábado, 26 de março de 2011

Tsunami


Assim, foi bem assim que aconteceu
A história desse imenso e breve amor,
Que sem convite ou aviso nasceu,
No fundo do peito meu,
No epicentro da dor.

A onda veio rápida, cresceu
E veloz viajou na imensidão;
Poderosa, sobre mim se abateu,
Submergindo o meu eu
Com a fúria da paixão.

Formou-se um tsunami dos sentidos,
Criou-se um maremoto de emoções;
Um tremor de nove pontos bem medidos
Na escala dos malferidos
Enigmas dos corações. 

Já passou, mas foi deixando pelos portos
O seu rastro de cruel destruição;
Nos escombros se enterraram sonhos mortos,
Mortalhas de versos tortos,
Sepulcros da emoção.

E a chama do que um dia já foi forte
Já é hoje nada mais que vã fumaça,
Espalhando-se ao vento lá do norte,
Entre a vida e a morte,
Entre a dor e a desgraça.

Pois agora é mister tocar o bonde,
Sepultar, sendo possível, a saudade,
Encontrar forças perdidas não sei onde,
O novo amor que se esconde,
A nova felicidade.

Agora é consertar os vazamentos,
Antes que tudo o mais vá pelos ares;
Agora é reerguer os monumentos,
Reconstruir sentimentos,
Em reações nucleares.

E ao novo amor que surge, já pujante,
Erguerei diques contra seu furor?
Não! Nunca! Vem! Empolga, inebriante,
O coração hesitante,
Mas faminto inda de amor!

quarta-feira, 23 de março de 2011

A Linha do Tempo

     Considerações sobre um texto de Léo Santos.

     A minha amiga Milene mandou-me o texto e pediu minha opinião. Bem, a abordagem do Léo a respeito do tempo é excelente e, embora breve, abrange todos os aspectos relacionados ao tempo físico - aquele que a Ciência nos apresenta como quarta dimensão. Mas eu gosto de somar, sempre que possível, e fui buscar alhures uma complementação à altura. Encontrei-a além das fronteiras da Física.
     Pulemos, pois, a cerca que delimita o conceito de tempo aceito pela ciência - o tempo nosso de cada dia, literalmente - e afundemos os pés no terreno movediço da metafísica e dos fenômenos transcendentais. Aqui, muitos se atolaram; é bom caminhar com cautela.
     Não vou falar aqui do tempo relativístico - esse ficou para trás quando pulamos a cerca. Tampouco vou abordar o "tempo psicológico" - aquele que se arrasta nos momentos lúgubres e corre célere nas horas felizes - nem falar sobre experiências de quase-morte, ou estudos sobre reencarnação, ou citar as profecias de Nostradamus. Quero simplesmente contemplar o que deixei para trás ao pular a cerca, mas de uma perspectiva mais ampla.
     E daqui eu vejo uma continuidade temporal, uma linha que se estende de horizonte a horizonte, sem descontinuidades a que eu possa dar nomes como passado, presente ou futuro.
     Sei que, do lado de lá, todos nós temos a ilusão de estarmos situados em um ponto específico dessa linha - não sei se o mesmo para cada um - que chamamos de presente, e que este ponto divide a linha em dois segmentos, que batizamos de passado e de futuro. Mas como saber se a minha ilusão é a mesma que a tua? Vejo-te aqui, no "meu" presente, como te apresentas nele, mas tu talvez estejas em outro ponto da linha, vivenciando realidades que ainda estão no meu futuro ou já fazem parte do meu passado.
     E vejo também que isso que chamamos de presente não é um ponto geométrico, sem dimensões. Ele se estende um pouco à frente e um pouco atrás dessa coisa imponderável e fugidia que chamamos de instante. Sim, dentro desses limites estreitos podemos prever o "futuro" incipiente, e vivenciá-lo, assim como o "passado" recente.
     Vamos tentar ilustrar isso matematicamente.
     A figura abaixo representa a função de distribuição normal. Se z é o eixo do tempo e y=f(z) o do grau de "realidade vivenciada", a área cinzenta será o "presente", centrado no instante zero.

     Devo lembrar ao leitor que entes geométricos como "ponto", "linha" etc, são instrumentos matemáticos e não realidades físicas. Um átomo tem dimensões, embora possa ser considerado, na maioria das vezes, um ponto adimensional. E o tempo também tem existência física: o "agora" tem alguma espessura, e a transição do cinza para o branco deveria mostrar uma gradação suave.
     À esquerda do zero estão em cinza as memórias muito recentes e vivas, fazendo parte do nosso presente, e em branco as memórias mais distantes e imprecisas - o nosso passado. À direita do zero, em cinza, a realidade previsível a curto prazo - a tecla que vou clicar, a palavra que vou escolher - e isso também faz parte do meu "presente". A área branca sob a curva, à direita, é nosso futuro mais distante e impreciso. E embora possamos colocar lá nossos projetos de longo prazo, esse futuro é basicamente imprevisível (assim como a imensa maioria dos detalhes de nosso passado distante está perdida).
     O eixo do Tempo será graduado, obviamente, em minutos, dias, anos... o que for mais conveniente; já para o eixo da "realidade vivenciada", pelo que eu saiba, ainda não há unidades de medida definidas.
     Recordar é o processo de resgatar pedaços sobreviventes de nosso passado e trazê-los para a área cinza, onde se tornarão parte de nossa realidade vivenciada no presente, recebendo assim um "reforço existencial" que lhes aumentará a sobrevida quando os devolvermos ao passado. Aquilo que chamamos "saudade" é um instrumento subconsciente que faz parte integrante desse processo.
     Traçar planos, fazer projetos, sonhar, é o processo similar aplicado ao futuro. E as ações no presente que visam reforçar a "viabilidade" desses sonhos e projetos - estudos, investimentos etc. - fazem o mesmo papel que a saudade tem em relação ao passado, pois ajudam-nos a "não esquecer" o futuro.
     Assim, à esquerda do ponto zero, a realidade vivenciada vai perdendo a força e se transformando em memórias, conforme a curva se desloca no tempo; à direita ocorre o processo inverso: as expectativas vão se solidificando em realidade até atingir o grau máximo - o momento zero, o fugidio "agora", o instante em que a expectativa se realiza plenamente. Esses processos formam o que chamamos "vivência" e são, claro, diferentes para cada um de nós.
     Tu és - nós todos somos - as lembranças e as saudades dos que estão em nosso futuro.
     Tu és - nós todos somos - as profecias e os sonhos dos que estão em nosso passado.
     Mas temos uma arma poderosa que os demais viventes do planeta não têm: podemos registrar o presente em imagens, sons e textos escritos, como este, e assim dar-lhe uma imortalidade relativa; e podemos também registrar nossos projetos e assim aperfeiçoar continuamente nossa estratégia para trazê-los para o mundo real.
     Podemos, sim, recordar nosso passado - até um certo ponto. Qual foi mesmo o prato do almoço de nove de dezembro do ano passado?
     Podemos, sim, influenciar nosso futuro - até um certo ponto. Não conheço nenhuma realização humana que não tenha sido, um dia, um sonho... um projeto. Alguém conhece?

     Niterói, 23 de março de 2011 - Rodolfo Barcellos


sábado, 19 de março de 2011

Quinze minutos

     Céu de brigadeiro. O grande quadrimotor voava lentamente, flaps a cinquenta por cento, perdendo altura enquanto circulava em torno de duas pequenas ilhas, perdidas na imensidão azul do Atlântico.
     O coronel Etraud avançou levemente as manetes de aceleração, e o ronco suave dos motores ficou ligeiramente mais audível. O major Pagani verificou a RPM e o torque dos motores. À preguiçosa velocidade de cento e trinta nós, o Hércules estabilizou-se em uma órbita baixa em volta das duas ilhotas, como uma mariposa atraída pela luz.
     O capitão Rabello checou rapidamente cerca de trinta instrumentos, ajustou alguns controles e, satisfeito, recostou-se na sua poltrona para contemplar o incrível panorama que se descortinava através das grandes e numerosas janelas da espaçosa cabine de vôo. Com sua experiência, ele confiava nos pequenos ruídos que se misturavam ao ronco dos motores para alertá-lo sobre qualquer quebra na rotina. O avião falava com ele.
     O tenente Barcellos, o mais novo da tripulação, ainda não conhecia os segredos desse diálogo entre homem e máquina, mas confiava nos companheiros mais antigos, e também desviou sua atenção para o espetáculo paradisíaco.
     No compartimento de carga, os doze sargentos que compunham o grupo de especialistas fizeram uma pausa nas suas atividades de monitoração e teste dos diversos sistemas da aeronave e também se amontoaram junto às vigias redondas de observação.Tinham 15 minutos antes de reassumir seus postos.
     Os que viam pela primeira vez esse panorama estavam mudos e embevecidos. Os poucos "antigões" que conheciam o atol e suas histórias terríveis narravam em voz baixa os episódios macabros, colorindo-os com detalhes fantásticos, conforme lhes parecia mais adequado.
     - Pois é - explicava-nos o sargento Lindolfo, - o navio de apoio encheu o reservatório de água da ilha com óleo diesel, por engano, e zarpou antes que o faroleiro percebesse o que tinha acontecido. Quando o navio voltou, um mês depois, todos tinham morrido de sede - o casal e os dois filhos.
     - É - complementava Bonfim, um segundo-sargento negro como carvão. - Uma noite ele botou fogo na casa, para chamar a atenção de um navio que passava, mas não conseguiu nada...
     - Tá vendo a ilha menor? Chama-se Ilha do Cemitério - dizia Pereira, o instrumentista. Tem mais de trezentos túmulos lá, entre faroleiros, familiares e náufragos!


     Entre fatos históricos e lendas, realidade e fantasia, o que mais me impressionou na época - já se vão mais de trinta anos! - foi o contraste entre o aspecto paradisíaco do atol e as histórias macabras a ele associadas. E muito tempo depois tive oportunidade de confrontar essas histórias com documentos fidedignos.
     Mas mesmo entre esses testemunhos imparciais há algumas contradições. No site
http://galileu.globo.com/edic/93/nossa_terra1.htm
     lê-se:
     "Rocas nunca foi um lugar acolhedor para os navegantes e suas embarcações. Sua primeira vítima foi seu descobridor, o navegador português Gonçalo Coelho, que naufragou por lá em 1883 (Nota: erro do site. O ano correto é 1503). Seu corpo, assim como os de outros náufragos, foi enterrado em uma das duas ilhas arenosas, por isso batizada de Ilha do Cemitério."
     "Já contei 31 âncoras espalhadas pelos recifes e águas rasas - conta a bióloga Maurizélia de Brito Silva, chefe da reserva do Ibama."
     "O primeiro farol foi instalado em 1883. Mas se ele trouxe auxílio aos navegadores, foi um tormento para muitos faroleiros, homens que lá ficavam isolados, com suas famílias, numa época em que a comunicação com o continente era praticamente inexistente. O último faroleiro foi João da Silva Saraiva, que viveu no atol, com a família, no começo do século, e teve morte trágica: seu reservatório de água se esgotou, devido a um vazamento, levando toda a família a morrer de sede. Hoje, o farol é automático e o único testemunho do trágico destino do faroleiro são as ruínas de sua casa e da antiga estrutura da torre."
     E em
http://marbrasileirotocolando.blogspot.com/2010/07/atol-das-rocas.html
     encontram-se as seguintes informações:
     "Entre 1803 e 1890, a história registrou cinco grandes naufrágios de navios. (...) O naufrágio mais famoso dessa época foi o do Duncan Dubar, navio inglês com mais de 100 tripulantes e passageiros a bordo, a maioria emigrantes saídos de Plymouth, Inglaterra, com destino a Sidney, na Austrália. (...) Acabou com o leme destruído e um enorme rombo no casco, na noite de 7 de outubro de 1865, ao se chocar contra os recifes do atol. Homens, mulheres e crianças só abandonaram o navio na manhã seguinte, quando a fúria das ondas já havia destruído também parte do costado. Apinhados nos escaleres, atravessaram milagrosamente ilesos a arrebentação e desembarcaram na areia, onde permaneceram por 10 dias. O resgate só aconteceu graças a um gesto heróico do comandante Swanson, que deixou o atol num escaler, acompanhado de seis marinheiros, seguindo rumo à costa brasileira. Em cinco dias, eles chegaram ao litoral pernambucano e tiveram a sorte de encontrar outro navio inglês, o Oneida. Arriscando afundar por superlotação, o Oneida embarcou todos os náufragos, arruinados, mas vivos, e com eles empreendeu a longa jornada de volta à Inglaterra, sem novos incidentes."
     "Na virada do século, mulher e filhos de um dos faroleiros teriam morrido de sede, porque uma das crianças deixou a torneira da cisterna aberta até secar. O faroleiro, desesperado, ateou fogo na casa, para ver se atraía algum navio, mas o socorro chegou tarde e só ele sobreviveu. Conta ainda a lenda que as almas da mulher e das crianças estariam presas à ilha de sua desgraça e, à noite, assombram os visitantes, pedindo água."
     "Em 26 de junho de 1979, naufragou o Mon Ami, um veleiro de 13 metros de comprimento e dois mastros. Seus tripulantes, três sul-africanos e uma australiana, passaram 21 dias num acampamento improvisado no atol, dividindo as provisões do seu veleiro e a água da chuva com ratos, camundongos, escorpiões e baratas. Apesar dos insistentes sinais de socorro emitidos pelo rádio, dos salva-vidas jogados ao mar com pedidos de ajuda, dos acenos dirigidos a um avião no oitavo dia, os náufragos do Mon Ami só foram resgatados no dia 16 de julho por uma corveta da Marinha brasileira, após a passagem de mais um avião e da comunicação, via rádio, com um petroleiro norueguês, visível no horizonte."


     Os quinze minutos haviam passado. O comandante acionou a campainha  A tripulação voltou a seus postos.
     - Comandante a postos - a voz tranquila do coronel soou no "Public Address". - Tripulação, reportar.
     - Co-piloto a postos!
     - Mecânico a postos!
     - Navegador a postos!
     - Mestre de carga a postos! Tudo amarrado e seguro!
     O coronel avançou as manetes até os torquímetros marcarem 12 mil libras. O ruído dos motores aumentou. O avião ganhou velocidade.
     - Recolher flaps!
     - Flaps recolhidos!
     Ganhando altura lentamente, o quadrimotor fez uma ampla curva à direita e aproou para seu próximo destino - o arquipélago de Fernando de Noronha.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Só para mulheres

   Musa da torcida, musa do campeonato, musa disso, musa daquilo... o título está se apequenando pelo abuso, e já não carrega a beleza do significado original - a figura feminina, real ou imaginária, que inspira a criação artística ou científica. O próprio termo museu significa templo das musas - local de cultivo e preservação das artes e ciências.
   Existem várias versões sobre a origem e o número das musas. Ficamos aqui com a mais aceita atualmente - a versão canônica.
   Na mitologia grega, as musas eram as nove filhas de Mnemosine (a deusa da Memória) e Zeus. Eram elas:
   - Calíope (Bela voz), deusa da Poesia Épica e da Eloquência, invocada pelos grandes oradores, como Demóstenes. Seus símbolos são a tabuleta e o buril.
   - Clio, ou Kleio (Proclamadora),  protetora da Historiografia, confere fama aos cronistas e historiadores. É representada com um pergaminho meio aberto.
   - Erato (Amável), musa da Poesia Lírica, porta uma pequena lira e é também conhecida como "a que dá júbilo". 
   - Euterpe (Doadora de prazeres) é a inspiradora da Música e do verso erótico (é também conhecida como "a que desperta desejo"). É uma jovem ninfa coroada de mirto e rosas. Com a mão direita segura uma lira e com a esquerda um arco. Um pequeno Cupido beija-lhe os pés.
   - Melpômene (Cantora poética) preside a Tragédia. Seus símbolos são a máscara trágica, a grinalda e a clava.
   - Polímnia (Muitos hinos) é a deusa da Música Cerimonial (ou sacra). Aparece coberta por um véu.
   - Tália ou Thaleia (A que faz brotar flores) é a musa festiva da Comédia. Usa uma máscara cômica e uma coroa de hera ou um bastão.
   - Terpsícore (Rodopiante), adora dançar. Protege coreógrafos e dançarinos e porta a Lira e o Plectro (palheta).
   - Urânia (Celestial), é a protetora da Astronomia e ciências afins. Seus símbolos são um globo celestial e um compasso.
   Algumas das musas - Erato, Euterpe, Calíope, Polímnia - se confundem em seus atributos, visto que os antigos gregos consideravam a poesia (lírica, erótica ou épica), a música e a oratória como manifestações artísticas intercorrentes. Adotei a classificação usada em 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Musas
mas você encontrará outras.
Musas dançando com Apolo - Baldassare Peruzzi
   Eu confesso que dependo de todas elas. Conforme o assunto que abordo, peço socorro a uma ou outra - por vezes a duas ou três - e encontro sempre uma acolhida carinhosa e gentil. E elas derramam sobre mim, generosamente, os eflúvios inspiradores que despertam-me a criatividade.
   Como Deusas que são, elas têm o poder de assumir a forma humana; e eu ando desconfiado... acho que algumas das minhas amigas queridas são na verdade Musas do Olimpo, que de lá vieram para proporcionar-me esses momentos felizes de  rabiscar pensamentos e poesias.
   Sim, acho que você é uma delas... com qual você se identifica mais?

segunda-feira, 14 de março de 2011

Fofo, eu?!

   Ontem, ao fazer minha ronda habitual pelos "blogs"dos amigos, deparei-me com cinco simpáticas "garrafinhas" que a Lois gentilmente oferecia aos "blogueiros" mais chegados, e o meu nome estava na berlinda.
   Tenho opinião formada a respeito dessa multidão de prêmios, "selinhos" e quejandos, que proliferam na blogsfera como cogumelos depois da chuva, e fiquei tentado a ignorar o mimo... mesmo porque não sou tão fofo assim.
   Bem, eu convivo comigo mesmo há mais de seis décadas, e devia me conhecer melhor. Porque tenho também opinião formada sobre o que é ser amigo; e esta inclui entortar (um pouco) outras opiniões minhas quando assim o exige o cuidado com essa plantinha tenra e sensível chamada amizade. Assim, recolhi o selinho, colei-o na vitrine do "Sete Ramos" e linkei-o ao "De tudo um pouco" (na página da postagem). Lá, agradeci à Lois com o seguinte comentário: 
- Lois, minha principal qualidade é detestar responder a pesquisas.
- E o meu principal defeito é abrir exceções para os amigos.
- Portanto, levo o selinho para os Sete Ramos, onde ele será o link para este seu cantinho e indico TODO MUNDO pra recebê-lo. Quanto à pesquisa do IBOPE, meu blog é transparente... você sabe disso; e quem não sabe está convidado a visitá-lo. As respostas estão todas lá.
- Abraços, querida, e continue sendo feliz.

   Pois na ronda matinal de hoje, ao ver as reações dos demais agraciados, senti alguma coisa diferente crescendo-me na cara. Fui olhar-me ao espelho: era vergonha, mesmo.
   - Ô, meu! Como é que você tem coragem de tratar uma amiga assim? - disse-me meu reflexo, indignado. - Sei que você acha que eu sou falso porque sou o inverso da realidade; mas você não está vendo um simples reflexo: você está olhando para a imagem que existe dentro de você mesmo!
   Levantei minha mão direita para protestar, e levei um choque quando a imagem levantou a sua mão direita - e não a esquerda, como eu esperava!
   Confuso, saí da frente do espelho e voltei para a frente da telinha. E após refletir um pouco, resolvi cumprir o ritual completo. Lá vai:


1- Linke o blog que te indicou.
   - O link é DE TUDO UM POUCO 
2- Quais são seus maiores sonhos?
   - Depois de tantos sonhos realizados, quero agora ver filhos e netos realizando os seus... e estão caminhando bem, obrigado.

3- Para você, a aparência importa?
   - Antigamente, não... a gente só dá valor às coisas boas quando passa a ter carência delas...

4- O que é ser feliz?
   - É dividir as dores e multiplicar as alegrias entre todos nós.

5- Você é uma pessoa amiga?
   - Sou amigável. Ser amigo não depende só de mim; depende também da outra pessoa.

6- Conte-nos 4 defeitos seus.
   a) achar que não tenho defeitos
   b) ?
   c) ?
  d) ?


7- Conte-nos 4 qualidades suas.
   a) persistência
   b) auto-estima
   c) otimismo
   d) desprendimento


8- Tem algum preconceito? Se sim, qual?
   - Acho que não... exceto, talvez, contra os preconceituosos.


9- Indique alguns blogs fofinhos a responderem este meme!
   - Indico todos os que me seguem, especialmente os que têm como timoneiro uma alma feminina (as mulheres são, em média, dez mil vezes mais fofas do que os homens... mas há exceções).


   Bem, isto foi o máximo de "fofice" que consegui mostrar. Tudo em nome da AMIZADE. E deixo aqui meu abraço à minha AMIGA Lois...

sábado, 12 de março de 2011

Presença Eterna

Eurico Rodrigues de Barcellos
   Daqui a um mês, se meu pai estivesse vivo aqui fora, estaria soprando 96 velinhas, em meio às palmas de oito filhos (sim, o Tarcísio também), inúmeros netos (desculpem, perdi a conta) e não sei quantos bisnetos.
   Mas ele está vivo lá dentro, e lá dentro todos os dias são dias de todos e de tudo. Acho que é por isso que a Regina não liga para "dias de". E não vejo a menor necessidade de respeitar datas quando a saudade bate forte.
   Acresce que o Dia dos Pais é comemorado em Portugal a 19 de março, e tenho amigos lá a quem gostaria de acompanhar nas suas alegrias ou saudades. Então, meus amigos, deixem-me extravasar a saudade que de repente - não mais que de repente - me bateu na alma.

Meiga Presença - Paulo Valdez / Otávio
Pery Ribeiro


PRESENÇA ETERNA

Quem és tu, que me persegues nos meus sonhos
E me inquietas o dormir com pesadelos?
Doces pesadelos... Quem és tu?

Quem és tu, que te intrometes em meu verso,
Quebrando-lhe o metro, transtornando-lhe a rima?
Doces rimas... Quem és tu?

Esse vulto invisível mas palpável,
Essa luz que me envolve e me fascina,
Doce luz... Quem és tu?

Essa voz que me sussurra inaudível,
Esse toque em minha mão, quase insensível,
Suave toque... Quem és tu?

Tu, sim, lembrança de meu pai...
Tu, sim, saudade de meu pai...
Tu... presença eterna de meu pai!

terça-feira, 8 de março de 2011

Sou hipócrita?

Imagem: Blog dos Bichos
   Nós temos a tendência de olharmos os defeitos e as qualidades das pessoas através de lentes. Lentes que aumentam as qualidades dos amigos e os defeitos dos desafetos, ou diminuem as falhas de quem gostamos e os pontos positivos de quem não gostamos.
   Mas de vez em quando, uma frase mal colocada ou uma atitude mal interpretada provoca a inversão desses valores. Uma sensibilidade exacerbada, às vezes, vira o binóculo ao contrário - e aí amizades verdadeiras correm sério risco.
   Declarei, em matéria recente, que "não gosto de comentários sem conteúdo, ou aqueles que têm a única finalidade de angariar seguidores". Pelas reações, parece que toquei num ponto sensível de alguns amigos meus; quero, por isso, esclarecer as coisas antes que amizades que eu tanto prezo sejam feridas por palavras mal colocadas por mim ou mal interpretadas por eles.
   Primeiro: reafirmo que não gosto de comentários anódinos ou que pratiquem o ctrl+c, ctrl+v, e nem daqueles que se limitam a angariar seguidores;
   Segundo: jamais considerarei os blogueiros que fazem esse tipo de comentário menos dignos de minha amizade ou atenção; tudo o que eu digo é que evito fazê-los. Peço que leiam o Entre Aspas, no cabeçalho deste Blog. E quaisquer palavras que me tenham escapado com outro sentido, eu as renego aqui e agora.
- Terceiro: eu seria hipócrita se dissesse que não gosto de ver meus seguidores aumentando em número; mas seria mentiroso se dissesse que invejo quem tem 500 ou 1000 seguidores. Não invejo Alma Inquieta ou Serpai; e mesmo agora não sei como administrar os quase 100 que tenho - se é que ainda tenho.
   Quarto: dói-me saber que meus espinhos feriram meus amigos. Lembrei-me da fábula dos ouriços:
   "Quando o tempo esfriou, os ouriços se juntaram para aquecer-se; mas os espinhos machucavam uns aos outros, e eles se afastaram, e sentiram frio. Depois de muitas tentativas, encontraram a distância ideal - que lhes permitia aquecerem-se sem se espetarem."
  Essa é a distância que devemos buscar. O grau de amizade não torna o clima mais quente ou a pele menos sensível; mas com certeza faz com que os espinhos sejam menos aguçados.
   Não sei se vou conseguir transformar-me num bichinho de pelúcia; mas prometo limar as pontas de meus espinhos maiores.
   Acheguem-se, amigos. Estou com frio...

sábado, 5 de março de 2011

Novas Deusas

   Neste ano de 2011, o Dia Internacional da Mulher coincide com a terça-feira gorda.  E como tem muita gente que acha que o Rei Momo é mais importante que nossas Deusas, já vou adiantando aqui minha homenagem a elas.
   No site
consta a seguinte informação:
   "Em 8 de março de 1857 as operárias de uma fábrica de tecidos de Nova Iorque fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho.
   "A manifestação foi reprimida com brutalidade inaudita. As operárias foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Mais de cem tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente bestial.
   "Em 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem as mulheres que morreram na fábrica em 1857. Mas somente em 1975 a data foi oficializada pela ONU."
   Já a Wikipédia dá outras versões:
   "...a 25 de Março de 1911, um incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist mataria 146 trabalhadores - a maioria costureiras. O número elevado de mortes foi atribuído às más condições de segurança do edifício.
   "(...) Para Eva Blay, é provável que a morte das trabalhadoras da Triangle se tenha incorporado ao imaginário coletivo, de modo que esse episódio é, com frequência, erroneamente considerado como a origem do Dia Internacional da Mulher."
   Outro trecho:
   "Na Rússia, as comemorações do Dia Internacional da Mulher foram o estopim da Revolução russa de 1917. Em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro pelo calendário juliano), a greve das operárias da indústria têxtil contra a fome, contra o czar Nicolau II e contra a participação do país na Primeira Guerra Mundial precipitou os acontecimentos que resultaram na Revolução de Fevereiro. Leon Trotsky assim registrou o evento: “Em 23 de fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) estavam planejadas ações revolucionárias. Pela manhã, a despeito das diretivas, as operárias têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e enviaram delegadas para solicitarem sustentação da greve. Todas saíram às ruas e a greve foi de massas. Mas não imaginávamos que este ‘dia das mulheres’ viria a inaugurar a revolução.”
   Qualquer que seja a "verdade histórica", estamos longe de dar às nossas mães, companheiras e filhas o valor que elas merecem.
   Há exatamente um ano, o "Sete Ramos" publicou uma singela homenagem, em DEUSAS. De lá pra cá, conheci várias dessas deusas guerreiras, principalmente aqui na blogsfera. Parabéns a todas... e também aqui, a luta continua...
   Fecho então este "post" com as mesmas palavras de um ano atrás:
   "Bem, eu não tenho competência para homenagear as mulheres como elas merecem. Sorte minha que elas são generosas e aceitam uma humilde bijuteria com o mesmo sorriso encantador com que acolhem um colar de esmeraldas.
   "Portanto, envio a elas a minha bijuteria, e sei que elas a aceitarão com prazer".

MULHER,

Quisera ser um poeta
Para em versos cantar
Numa rima curta e reta
As curvas do teu andar;

Quisera ser um atleta
Para em ouro te ofertar
A medalha que uma seta
Certeira iria ganhar;

Quisera ser um esteta
Para poder burilar
Numa ametista concreta
O brilho do teu olhar;

Quisera ser um profeta
Para o futuro enxergar
E em poesia discreta
Teu destino exaltar.

   Parabéns a todas, minhas queridas.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Acalanto para Estrelas




   A Milene encomendou-me uns versinhos "para ninar minhas estrelinhas". Bem, aqui estão eles. Que as pupilas da Mi, depois da soneca, acordem revigoradas para uma nova noitada...


Essas damas doidivanas
Essas mulheres insanas
Que vão pelas madrugadas
Em festas e boemias
Em serenatas vadias
Essas moças tresnoitadas
Essas jovens tresloucadas
Às vezes tão solitárias,
Às vezes em multidão
Que atendem por apelidos
Que soam aos meus ouvidos
Exóticos, pitorescos.
Por vezes mesmo grotescos
Tais como Estrela do Cão
Pois Sírius rebrilha forte
No olho do Cão Maior
Enquanto Alfa e Beta
Do Centauro em linha reta
Traçam o rumo da Cruz
E a Via Láctea reluz
Num bolero em Mi menor
Betelgeuse e Rigel
Disputam brilho maior
E no cinturão de Órion
Três Marias vão dançando
Com três Reis Magos em fila
No punhal do Caçador;
No Zodíaco brilhante
No Cruzeiro cintilante
Na grande Ursa do Norte
Depois de tanto bailar
É hora de descansar.
Antares e Formalhaut,
Aldebarã, Archernar
Quando o dia amanhece
Todas elas se recolhem
O seu brilho esmaece
Pois findando a madrugada
Chega a hora da magia
Já as luzes da alvorada
Começam a se abrir;
E logo que rompe o dia
Cada estrela, já cansada,
Sua força esgotada
Se apaga para dormir
É o destino dessa tonta
Sim, este é o destino dela,
Seja grande ou singela:
Dormir quando o dia aponta
Pois, sem ninguém perceber
É quando ela se alimenta
Da luz do Sol, que a sustenta
Pra de noite reviver.