domingo, 28 de agosto de 2011

Para Rê

     Perdi a festa. Mas não perdi a viagem. Quando minha Internet caiu, apressei-me em telefonar à Milene, a quem eu costumo mandar minhas poesias, antes de publicá-las, e pedi-lhe que postasse o meu presentinho para a Rê.
     Sabia que ela acolheria meu pedido no coração e meus rabiscos nas páginas inquietas do seu cantinho, levando-os à nossa amiga querida. Mas naqueles dez séculos de Purgatório, sem Internet, brotaram-me das saudades alguns versinhos mais...


POEMA DOS NOMES TEUS

Chamas-me teu bruxo amado
E à Mi, minina-ternura;
"Rêzina da Grória" - jura
Um Peludim avoado -
"Sabe dar nome acertado
Porque tem a alma pura";
Cada amigo conquistado
Tem seu nome confirmado
Tem sua alcunha segura.
O Pê-ludim, o macaco,
A Si do balacobaco,
A Graça, há semanas passadas,
A Ma, a Amélia, a Denise,
Já foram por ti batizadas;
E a mais quem quer que precise,
A todos a quem tu amas,
Em cada apelido derramas
Gotas de amor perfumadas.
"Celebração da Vida"
Imagem gentilmente roubada da Denise.
Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão...

SONETO DO AMIGO AUSENTE

Querida Leoa Indomada,
Mais um ano celebrando,
Eu sem Internet, sem nada,
Só mesmo imaginando

Para abraçar-te, amada,
E desejar-te, querida,
Muitas vidas mais de fada,
Muitos mais anos de vida;

Nesta singela homenagem,
Recebe todo o afeto
Que vem do meu coração;

E assino esta mensagem:
Rodolfo, o Bruxo dileto,
Teu amigo, teu irmão.

Niterói, Agosto de 2011

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Para o Santo


     Após ter cumprido uma pena de dez dias no purgatório da ausência de sinal (mas que será que eu fiz de errado?), eis-me de volta ao paraíso que é o convívio com meus amigos do Blog. Ainda vou demorar um tempo para me por em dia, mas a gente chega lá. Enquanto isso, quero contar uma historinha - um causo.
* * * * *
     Os "anos dourados" estavam se despedindo, mas ninguém percebia isso. O "twist", o bambolê e o "hully-gully" disputavam popularidade com os Rolling Stones e The Mamas & The Papas, Tijuana Brass, Rita Pavone, a Jovem Guarda de Roberto, Wanderléia e Erasmo e, é claro, os Beatles.
     Uma turma alegre de amigos reunia-se habitualmente num armazém de secos e molhados,  numa esquina do Campo do Galvão, em Guaratinguetá, para bebericar uma pinga de primeira, contar "causos" e jogar porrinha - ou palitinho, como preferem alguns. Recém-admitido no restrito grupo de marmanjos, o jovem sargento Barcellos enfrentava seus primeiros desafios para conquistar seu lugar na turma. E por obra da sorte ou da conivência dos demais, havia chegado à final do jogo de porrinha, e enfrentava agora o outro finalista - um senhor magro e grisalho, famoso jogador dos palitinhos. Competia a este dar o primeiro lance.
     - Seis! - "cantou" o meu adversário, com voz confiante.
E agora? Meu punho fechado estava vazio, e a pedida lógica seria "três". Mas desconfiei daquela facilidade aparente. O fulano, sabendo que seria o primeiro a apostar, jamais iria pedir "seis" sem segundas intenções - seria o mesmo que declarar "eu tenho três palitinhos na mão"... não, ele queria forçar meu erro, mesmo ao preço de errar também... é, ele queria é minar minha confiança para uma disputa-desempate subsequente.
     Resolvi arriscar tudo.
     - Lona!
     Um murmúrio cresceu ao redor. Mostrei minha mão vazia, e após uma leve hesitação, ele abriu a sua. Também estava vazia.
     Após os cumprimentos e felicitações, o perdedor mandou abrir uma garrafa da pura. 
     Servidas as dez ou quinze doses dos participantes, os copos foram erguidos em minha direção. Percebendo minha hesitação meu pai fez-me um sinal discreto, apontando para o chão do boteco.
     Entendi. Derramei no chão metade do conteúdo do meu copo, exclamando:
     - Para o Santo!
     Os demais responderam "Saúde", ou "Ao Santo", e num só gole esvaziamos nossos copos.
* * * * *
     Sacrificar os primeiros frutos em holocausto a uma entidade superior é prática milenar em quase todas as culturas. Embora pareça estranho à mente moderna e pragmática, este aparente "desperdício" tem suas funções sociais - independentemente de crenças ou descrenças religiosas. A principal, creio, é psicológica: habitua-nos a ser gratos pelo que nos dá a natureza e ensina-nos a aceitar com serenidade o sentimento de perda.
     Podemos ler no Êxodo: “As primícias dos primeiros frutos da tua terra trarás à Casa do Senhor, teu Deus; não cozerás o cabrito no leite de sua mãe”. – Êxodo 34:26
     E nos Provérbios: “Honra ao Senhor com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão fartamente os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares”. – Provérbios 3:9,10 
     Li, não me lembro onde, que após os sacrifícios a carne era distribuída entre os pobres. Mais uma função social...
* * * * *
     Entre os amigos que receberam ou receberão um exemplar autografado da primeira edição de "O Outro Nome da Rosa" haverá os que se julgam na obrigação de remunerar o autor. A esses, peço que escolham uma obra social próxima de cada um e efetuem, em meu nome, uma doação de R$ 30,00 - ou equivalente. Ficam valendo como primícias. As próximas edições - havendo-as - serão comercializadas normalmente. Eu agradeço.
     E quem ainda quiser encomendar o seu, restam poucas primícias. Por favor, enviem os dados necessários para rblivro@hotmail.com - incluindo endereço postal completo, com CEP - e aguardem o retorno. Obrigado.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Meu Livro


Saiu meu primeiro livro!


O Outro Nome da Rosa, publicado pela CBJE editora, traz, além do conto que dá nome ao livro, uma coletânea de meus poemas.
O conto começa como um pesadelo, que se transforma em um sonho, depois numa busca e finalmente no começo de uma vida nova e excitante. Os personagens - um homem e uma mulher - não revelam seus nomes, até que um terceiro e inesperado personagem entra em cena.


São oito episódios, divididos em quatro capítulos. Eis uma pequena amostra, uma degustação, do que aguarda o leitor que me der a honra de lê-lo:


Março: Equinócio de Outono

A tempestade

Chovia forte e ventava. O crepúsculo caía e a escuridão já avançava sob as copas das árvores, escondendo as trilhas da mata. As violentas rajadas de um sudoeste extemporâneo, prenúncio do outono iminente, carregavam folhas e ramos, redemoinhando entre os meandros da floresta da Tijuca. Apavorada e perdida, ela corria sem rumo certo, tropeçando nas raízes, escorregando nas pedras e mergulhando os pés nas poças lamacentas.
Há quanto tempo corria assim, ansiosa e desesperada, ela já não sabia. Perdera-se durante a tarde, explorando sozinha uma trilha traiçoeiramente fácil, nos descaminhos da floresta. Com a chegada da noite aumentavam o frio, o vento e a chuva. Sem esperança e sem forças, ofegante e febril, um único pensamento a dominava: encontrar um abrigo naquela mata que se transformara, em poucos minutos, de uma paisagem aprazível em um inimigo mortal.
Onde estavam os outros? Por que não ficara com eles? Como num pesadelo, voltava-lhe à lembrança a recomendação do guia de não se afastarem sozinhos do acampamento. Seu espírito aventureiro desdenhara a recomendação, mas nada mais restava dele – apenas uma vontade louca de se atirar no primeiro buraco onde pudesse se refugiar do medo que a dominava.
Uma luz ofuscante explodiu à sua direita, seguida imediatamente de um estampido, como o de um tiro, que se transformou num rugido poderoso. Cega pelo raio, surda pelo trovão, ela tropeçou e caiu sobre uma moita espessa. Alguns espinhos feriram seus braços, estendidos instintivamente em proteção. Gemendo, abandonou-se ao seu destino e rolou sem forças para o lado.
Já era noite cerrada quando ela despertou do desmaio. A chuva continuava. O vento agora era uma simples brisa, mas trazia um frio como ela nunca sentira antes. Sentia cãibras nas pernas, dores nos braços feridos e suas têmporas latejavam dolorosamente a cada batida do coração. Soergueu-se a custo e vislumbrou à distância o reflexo frágil de uma luz amarelada, que se coava entre a ramagem da vegetação. Reunindo suas derradeiras forças, tonta e trôpega, rastejou ao encontro de sua última esperança de salvação.

Ego In Verso é um ramalhete de poesias diversas, juntadas sem preocupações de estilo ou assunto, na mesma ordem em que foram escritas, e com um breve relato das circunstâncias que me levaram a compô-las. As datas são as da publicação de cada uma neste "blog", mas sua composição abrange um período que vem desde os anos sessenta até os dias atuais. Escolhi duas para este antepasto.

domingo, 7 de novembro de 2010

Comédia

O teatro grego legou-nos os símbolos da Tragédia e da Comédia, sob a forma de máscaras - uma sorridente e a outra tristonha. Mas o sentido exato da palavra comédia modificou-se sutilmente nos últimos séculos.
No século XIV, a palavra ainda conservava seu significado original - uma narrativa com final feliz, ao contrário da tragédia. E a Divina Comédia (c. 1310) retrata fielmente esta conotação. Ela conta como Dante - o próprio autor - após "perder-se", foi guiado por Virgílio pelos caminhos infernais e depois entregue às mãos de sua amada Beatriz - uma guia capaz de conduzi-lo ao próprio Céu.
Se você não tem paciência para ler o extenso poema original, eu espero que goste do humilde soneto no qual procurei resumir a narrativa épica do grande vate.

COMÉDIA ANTIGA

Perdi-me de mim mesmo, certo dia,
E fui achar-me numa selva escura.
Tu te doeste desta alma sombria
E me guiaste nesta senda dura.

Por tua mão, pela Geena fria,
Os nove ciclos esta alma impura
Passou temente, sem ver luz do dia;
E agora falo à guia mais segura:

Ao próprio purgatório me levaste
E guiaste meus passos uma vez mais,
Por que não fosse eu jogado às feras;

Enfim, tu me elevaste às esferas
Onde anjos cantam coros celestiais,
Celebrando o amor que me entregaste.



terça-feira, 23 de novembro de 2010

Eternidade

Num período particularmente difícil da minha vida, tive a felicidade de receber o apoio de inúmeros amigos. A Regina, do "blog" Toforatodentro, sabendo do meu gosto por poesias, mandou-me um soneto de Mário Quintana. E eu, para distrair-me na minha tristeza, resolvi compor uma glosa - coisa que nunca havia feito antes...

GLOSA A UM SONETO DE MÁRIO QUINTANA

Não quero constar de Martirológios,
E se a hora chegar das despedidas,
Amigos, não consultem os relógios

Pois horas eu vivi tão bem vividas
Que as cantarei em salmos eloquentes
Quando um dia eu me for de vossas vidas

Em frações de minutos repartidas
Essas horas não foram, por contentes,
Em seus fúteis problemas tão perdidas

E se querem fazer-me apológios
Não mos façam como os da negra sorte
Que até parecem mais uns necrológios...

Sejam mais como beijos de consorte
E não como areia de ampulheta
Porque o tempo é uma invenção da morte

A natureza, à sua maneira
Do tempo desconhece esta faceta;
Não o conhece a vida - a verdadeira -

Para tornar tristeza em alegria
Eventos há - a alma é parceira -
Em que basta um momento de poesia

Não queiras tu tapar Sol com peneira
Pois basta de um segundo uma fatia
Para nos dar a eternidade inteira.

Inteira como o é uma caverna
Onde há túneis infindos sem saída;
Inteira, sim, porque essa vida eterna

Em divisões nunca será partida;
Toda fração é una e sempiterna,
Somente por si mesma é dividida

Assim inteira é da glória a ação:
Na derrota ou vitória aos soldados
Não cabe, a cada qual, uma porção.

Heróis e mártires serão amados
Eternamente, sem qualquer senão;
E os Anjos entreolham-se espantados

Buscando tontos resposta pedida,
E ficam sempre em grande confusão
Quando alguém - ao voltar a si da vida -

Do Paraíso a alma ao portão,
Do fútil que é o tempo esquecida
Acaso lhes indaga que horas são...

Em breve transferirei o conteúdo desta postagem para uma nova página do "Sete Ramos", incluindo instruções para encomendas. Pretendo também fazer o lançamento do livro (ainda estou indeciso entre a Ilha do Governador ou Niterói); isso se a primeira edição não se esgotar antes do lançamento...

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Alma & Graça

Alma 4 de agosto


     No dia 18 de abril de 2010 - há mais de um ano! - recebia o "Sete Ramos", pela primeira vez, a honrosa visita de uma Alma Inquieta - a Amélia, do "Estados de Alma". Hoje, em homenagem à sua data natalícia, peço licença a minha amiga portuguesa para misturar os dois idiomas peninsulares que lhe são tão queridos, e cantar com alegria, num portunhol rústico, a amizade que lhe dedico. Ressaltando que o verso que abre esse canto foi roubado, à época, do grande Camões, para recebê-la, com a pompa e circunstância devidas, no meu humilde cantinho.
Alma minha, inquieta, que sorriste,
De Porto Cale en sonrisa ardente,
Trazendo brisas de estio caliente
Para aquecer el nuestro inverno triste,

Se de Castilla as armas não herdaste
Pois sob el signo de Leão nasceste,
A las dos Casas tu destino deste
Nas doces falas con que nos hablaste;

Y hoy, que el cumpleaños tu celebras,
Permite que este amigo do Ocidente
Te diga nesta fala misturada

Quão fortes son los hilos y las hebras
Desta amistad que mantém tanta gente
Unida aunque esté tan separada!

Feliz aniversário, Amélia!

Niterói, 4 de agosto de 2011
Rodolfo Barcellos


Graça 4 de agosto


     Pois não é que, na pressa de alcançar o fuso horário de Amélia este poeta confuso já ia passando direto pela festa da Graça? Mas ainda deu tempo de embrulhar mal e mal um presente para nossa amiga de Minas... ela é generosa e me perdoará o atropelo.

Desce hoje, em pouso alegre, um anjo à Terra
Celebrando mais um ano de alegria
Desta amiga que em sua alma encerra
Botões de madre, pérolas de harmonia;

Um anjo de prata, um coração de ouro,
Que em desafio às agruras desta vida,
Faz da amizade seu maior tesouro
E entre nós a derrama, sem medida;

E na data em que nós todos te abraçamos
Com o carinho que cresce na razão
Bem direta do quadrado da distância,

Ouve, querida, o canto que entoamos
Em tua honra, nesta celebração
Ao som de tanta pompa e circunstância!

Feliz aniversário, Graça!


Niterói, 4 de agosto de 2011
Rodolfo Barcellos