segunda-feira, 17 de maio de 2010

Fred Hoyle

- A Wikipedia diz, a respeito de Fred Hoyle:
- "Uma antiga publicação de Hoyle faz um uso interessante do Princípio antrópico. Tentando descobrir o funcionamento da nucleossíntese estelar, ele observou que uma reação nuclear particular, o processo triplo alfa, que gerou o carbono, requereria que o núcleo do carbono tivesse uma energia bem específica para ocorrer. A grande quantidade de carbono no universo, que torna a vida tal como a conhecemos possível, demonstrou que essa reação nuclear tinha que funcionar. Baseado nessa noção, ele previu os níveis de energia do núcleo do carbono que foram mais tarde comprovados em laboratório.
- "Seu colaborador, William Alfred Fowler, ganhou o Prêmio Nobel de Física em 1983 (com Subrahmanyan Chandrasekhar), mas por alguma razão a contribuição original de Hoyle não foi levada em conta, e muitos ficaram surpresos que um astrônomo tão notável jamais recebesse o prêmio. O próprio Fowler, em um esboço autobiográfico ressaltou os esforços pioneiros de Hoyle".

- Dentre os cientistas modernos, o britânico Fred Hoyle (1915 - 2001) foi o único que apresentou uma alternativa consistente à hipótese do Big Bang. Sua ideia de um universo multifacetado, onde o nosso seria apenas uma bolha em expansão, é perfeitamente defensável à luz da Ciência moderna - exceto por um detalhe: não é verificável nem observável. Não é experimentável.
- Em comentário a uma das muitas catilinárias do meu amigo Jair contra o Criacionismo, eu escrevi:
- "Quando duas esferas de pesos diferentes chegaram juntas ao solo, a poucos metros da Torre de Pisa, foi selado o divórcio entre Religião e Ciência. Ali, uma se rendeu à fé e a outra se entregou ao empirismo - o método experimental".
- Aristóteles, Platão e seus contemporâneos não costumavam perder seu precioso tempo elaborando experimentos sistemáticos que comprovassem (ou impugnassem) suas ideias. Contentavam-se geralmente com a observação direta dos fenômenos naturais ou, na falta destes, com relatos mais ou menos fidedignos de terceiros. Experimentos como os de Aristarco de Samos e Eratóstenes eram raros e não fizeram escola. Quaisquer lacunas eram preenchidas com a força do raciocínio lógico.
- E tão poderoso era esse raciocínio em Aristóteles que suas ideias prevaleceram por quase dois milênios. Foram encampadas pela Igreja de Roma e ensinadas como verdades absolutas nos colégios e mosteiros.
- Aristóteles considerava Zenon de Eléa o pai da Dialética - na época, a arte da argumentação e do diálogo criativo. Mas a Dialética evoluiu e chegou aos tempos modernos com Hegel, Engels e Marx.
- Grosso modo, a Dialética pode ser vista como a lei da ação e reação, de Newton, aplicada à sociologia. A diferença é que Newton funciona na velocidade da luz, e Hegel pode demorar séculos para dar resultados. E na Dialética, as reações se transmudam em novas ações, que provocam outras reações, num ciclo infindável de teses, antíteses e sínteses.
- Essa Dialética mostrou seus efeitos na época de Giordano Bruno, Copérnico, Galileu e Kepler, que comandaram a reação à milenar e inflexível posição da Ciência oficial.
- Em 1600, Giordano Bruno ousou desafiar a máquina oficial. E foi queimado vivo nas fogueiras da Inquisição.
- Logo depois, Galileu quase entrou pelo mesmo cano. Escapou da fogueira, mas não da prisão perpétua domiciliar.
- Mas antes de ouvir sua sentença, Galileu já havia abalado profundamente os alicerces da ciência oficial: foi quando, à frente de um público eclético, subiu à torre inclinada de Pisa e desmentiu a posição de Aristóteles, que afirmava que pesos diferentes caiam com velocidades diferentes.
- Foi apenas uma questão de tempo para que a Ciência adotasse o método de Galileu - o empirismo, ou experimentalismo. Qualquer hipótese mais ousada teria que passar sistematicamente pelo crivo da experimentação para ser aceita. Assim, esperava-se evitar erros como o de Aristóteles.
- Sob um certo ponto de vista, essa abordagem empobreceu a Ciência, ao desencorajar os cientistas a investigar aspectos que não se enquadrassem na categoria dos mensuráveis e experimentáveis. Esses eram relegados à categoria de ficção, e por mais verossímeis que fossem eram excluídos da discussão pela comunidade científica. Foi o que aconteceu com as ideias de Hoyle.
- Nesse milenar jogo dialético, Aristóteles foi a tese e Galileu a antítese. Fred Hoyle tentou talvez ser a síntese - mas a síntese só vinga quando a tese e a antítese depõem suas armas e propõem uma trégua.
- E embora esteja mostrando os primeiros sintomas de cansaço, o empirismo está longe de se esgotar. Enquanto puderem ser construídos telescópios mais avançados para examinar o macrocosmo e aceleradores de partículas mais potentes para pesquisar o microcosmo, haverá campo para a experimentação em busca de uma eventual confirmação ou impugnação do Big Bang.
- Hoyle não se limitou a combater o Big Bang: desafiou também outros monstros sagrados, como a evolução darwiniana e a origem da vida biológica.
- Talvez Fred Hoyle tenha sido um Giordano Bruno moderno. Afinal de contas, ele também foi "queimado vivo" pelos seus colegas...
- Mas enquanto o LHC - o Grande Colisor de Hádrons - não produzir o esperado "Little Bang", Fred Hoyle estará, na visão de muitos, pelo menos em pé de igualdade com seus carrascos.

2 comentários:

  1. Barcellos,
    Belíssimo ensaio. Texto erudito que tem a faculdade de colocar a escola peripatética de Aristóteles, com todas suas implicações milenares, complementando o empirismo inaugurado por Galileu. Daí, trazendo o raciocínio até comparar Fred Hoyle com Giordano Bruno. Realmente, uma sacada genial! Eu não sei onde me colocar nessa questão, porquanto sou “empirista” juramentado e não tenho opinião formada sobre as proposições de Fred Hoyle, do qual só li duas obras de ficção, por sinal, ótimas. Espero que o Leonel se veja justiçado por ter insistido que o Big bang é tão válido como teoria como o livro de gênesis. Quero retornar apenas ao que já disse anteriormente: O Big bang, como a teoria do surgimento da vida são duas teorias provisórias que aguardam proposições mais sólidas que as substituam. Acredito que não há cientista sério que aposte todas suas fichas nessas teorias. Eu, se fosse cientista, não apostaria. Abraços, JAIR.

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  2. Amigo, "gracias" por resgatar um cientista que eu tanto admiro. A expressão "Big Bang" dizem ter sido criada por ele, ao se referir com certa ironia à teoria, tida como tese, do universo em expansão. Pois se expandia, teria que ter partido de um início, onde teria ocorrido a tal "grande explosão".
    A verdade, pelo menos até esse momento, é que, mesmo que não possam ser comprovadas por experimentação, as teorias de Hoyle também não podem ser negadas.
    O mesmo ocorre com outras teorias, algumas já consagradas e aceitas como verdade, e outras simplesmente ignoradas ou ridicularizadas.
    Que o digam Fred Hoyle, Thor Heyerdahl e outros.

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