quinta-feira, 13 de maio de 2010

Somos pó

- Cada célula de nosso corpo tem seu ciclo de vida determinado. Os tecidos mais expostos aos agentes externos - pele e mucosas - se renovam em trinta dias ou menos. Já as células nervosas não se multiplicam - não sofrem mitose.
- Mas todas, sem exceção, absorvem nutrientes e expelem os rejeitos metabólicos resultantes de sua atividade biológica.
- Portanto, seja a nível celular, molecular ou mesmo atômico, nosso corpo está sempre trocando com o meio ambiente material orgânico - via respiração, alimentos e bebidas, urina, suor e fezes. E a Natureza se encarrega de reciclar tudo isso - mas sem alterar os átomos, com raríssimas exceções.
- E quase toda essa reciclagem é realizada dentro dos limites da biosfera. As moléculas e átomos que seu organismo expele hoje serão absorvidos por outros organismos amanhã. E vice-versa...
- Isso quer dizer que você não é exatamente a mesma pessoa que começou a ler este texto. Milhões de mudanças ocorreram em seu organismo nesse meio tempo. Não quero nem pensar nas mudanças que aconteceram no meu, desde que comecei a escrevê-lo...
- É talvez perturbador pensar que neste momento existem em nosso corpo átomos e moléculas que outrora fizeram parte de Hitler, Ghandi, Nefertiti, Shakespeare, Marylin Monroe, Átila, Jesus Cristo, Elizabeth da Áustria, Sócrates... a lista não tem fim. Vai ver, é por isso que nós somos gente boa hoje, intolerantes amanhã, inteligentes agora e burros no minuto seguinte...
- Mas nós fazemos parte de um clube maior e temos também átomos que já foram de dinossauros extintos, protozoários microscópicos e plantas exóticas. E finalmente não podemos esquecer que tudo isso formou-se a partir de uma nebulosa planetária - de modo que somos também poeira de estrelas, como disse Carl Sagan...
- Afinal, quem somos nós hoje? Quem seremos amanhã? Parte da resposta está - talvez - em:

http://www.youtube.com/watch?v=aEwmX8yerWQ

- E não vamos esquecer - principalmente hoje - os átomos da Princesa Isabel e dos escravos africanos. Eles também fazem parte de nós.

6 comentários:

  1. Barcellos,
    A soberba, a prepotência e a arrogância humanas não se justificam exatamente por isso. O que somos hoje, fomos ontem e seremos amanhã é o somatório disso tudo que você tão bem explanou. Onde fica o orgulho desses "escolhidos" que se acham melhores que os demais, sabendo que são constituídos de restos de bactérias que chafurdaram nos excrementos de pobres e analfabetos párias que recolhiam fezes de nobres indianos? Sei que peguei pesado, mas essa é a realidade...

    13 de maio de 2010 18:32

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  2. Pô, quer dizer que eu tenho moléculas que já foram do Brizola? E do Maluf? Não tem mesmo jeito de sacar essas fora?
    Eu estive vendo o link sugerido, e vendo aquela história de tudo começar concentrado no espaço da cabeça de um alfinete, entrei em transe e tive uma revelação da criação: no começo, isto tudo era uma das moléculas da cabeça de um fósforo. O Supremo Criador então resolveu fumar o seu cachimbo matinal, riscou o fósforo para acende-lo e...putzz! Deflagrou o Big Bang !
    Nosso universo foi criado da combustão do fósforo do Criador!
    Devido à incomensurável diferença das nossas dimensões, aqueles segundos em que a chama do fósforo se expandiu se passam para nós, infinitamente pequenos, como quaquilhões de anos!
    Assim, enquanto se passam eras geológicas, civilizações nascem e são extintas pelas galáxias, estrelas nascem e morrem, o Criador está acendendo o seu cachimbo!
    Depois, ele vai sacudir o fósforo para apagar o resto da chama, joga-lo no chão e pisar em cima. Fim!
    Logo mais, quando sentar na sua poltrona para ver o noticiário, criará outro universo! E nem terá consciência disso!
    E você, que fumava bastante, já imaginou quantos universos já criou?

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  3. Quem escreve com humor e inteligência cria seus próprios universos. Eu já criei três de médio porte (depois de parar de fumar) e vários mini-universos. O Jair é um grande arquiteto de soberbos universos - mesmo sendo ateu. E você, Leonel, com esse comentário criativo, acrescentou mais um mundo à sua bela coleção de miniaturas...

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  4. Em tempo: recentemente visitei o meu universo preferido - Os Sete Ramos de Oliveira - e notei que lhe faltava alguma coisa. Por isso, acrescentei-lhe uma nova galáxia, que batizei de Apêndice 4. Se interessar aos amigos, está disponível para download em "Minhas Obras". Abraços.

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  5. Barcellos, felicitações pela boa notícia de teres saído do fumacento universo dos fumantes.
    Garanto que o seu universo atual tem melhores aromas e sabores do que aquele!
    Aproveite o que a vida nos dá de bom!

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  6. Barcellos,
    O texto abaixo publiquei em 2007 em outro blog, mas acho que se encaixa como comentário ao teu:
    A morte é o único evento absolutamente inevitável e que alcança a totalidade dos seres vivos, mas nós, ocidentais de cultura judaico-cristã, não temos familiaridade com ela; não consta no curso do dia-a-dia de nossas vidas quaisquer práticas, cultos ou ritos que visem enquadrá-la num entendimento racional. Temos pavor dela e tentamos ignorá-la como se não existisse, como se fôssemos viver para sempre. Claro que essa atitude pode ser explicada pelo terror que alguma coisa tão definitiva e irrefragável causa a mentes pensantes, cujo funcionamento só é possível enquanto vida houver. Exatamente por essa inevitabilidade e perenidade, a nossa cultura criou mecanismo para, pelo menos, torná-la menos funesta, menos fatal, por assim dizer: a vida eterna.
    A vida eterna, o paraíso, o purgatório e o inferno são criações abstratas que têm a finalidade de substituir o negror do ignoto depois da vida, pela expectativa de alguma coisa sobre a qual podemos ter algum controle, ou seja, se formos “bons” em vida seremos recompensados com o paraíso, se, não, as outras alternativas nos esperam. Mas, pelo menos, nos livramos da irrevogabilidade e, em conseqüência, do terror que nos apavora. Já o agnosticismo prefere apostar na criogenia, tornando a possibilidade de uma segunda (ou terceira, ou quarta etc.) vida sua esperança de vencer a morte.
    Contudo, a única verdade inescapável é que a morte é eterna, todos morremos e, se serve de consolo, a matéria da qual somos feitos, depois que nos decompomos, servirá para compor outros seres que, de certa maneira, nos eternizam e a todos aqueles que nos antecederam. JAIR, Floripa, 02/02/08.

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