Bandeira do Primeiro Império. Inspiração maçônica? |
- Em 17 de julho de 1822, Gonçalves Ledo organizou as lojas do Grande Oriente no Brasil e ofereceu o cargo de grão-mestre a José Bonifácio, principal conselheiro de D. Pedro. Dois dias depois, o príncipe escrevia a seu pai:
- “O Brasil, senhor, ama a Vossa Majestade, reconhecendo-o... como seu rei; mas quanto às Cortes... hoje não só as abomina e detesta, mas não lhes obedece, nem lhes obedecerá mais, nem eu consentiria em tal...”
- Em 1º de agosto, Dom Pedro assinou um “Manifesto aos Brasileiros” e um decreto tomando providências para a defesa militar e a vigilância dos portos brasileiros.
- Na visão dos adeptos da maçonaria, esse "Manifesto", como proclamação da independência, é muito mais claro e poderoso que o Grito do Ipiranga, e tem um valor legal e oficial que o evento do riacho não possui. Sobre a autoria, o Barão do Rio Branco escreveu:
- “Foi Ledo [...] quem redigiu o manifesto de 1º de agosto de 1822, dirigido por Dom Pedro aos brasileiros.”
- No “Manifesto de Sua Alteza Real aos Povos deste Reino”, o príncipe regente proclama:
- "... eu agora já vejo reunido todo o Brasil em torno de mim, pedindo-me a defesa dos seus direitos e a manutenção da sua Liberdade e Independência. [...] Está dado o grande passo da vossa independência [...]. Já sois um povo soberano; já entrastes na grande sociedade das nações independentes, a que tínheis todo o direito."
- E anuncia diplomaticamente a intenção de manter laços com Portugal, mas sem abdicar de uma autonomia completa:
- “Mandei convocar a Assembléia do Brasil, a fim de cimentar a Independência Política desse Reino, sem romper contudo os laços da Fraternidade Portuguesa; harmonizando-se com decoro e justiça todo o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e conservando-se debaixo do mesmo Chefe duas Famílias, separadas por imensos mares, que só podem viver reunidas pelos laços da igualdade de direitos, e recíprocos interesses.”
- Cinco dias depois dessa declaração formal de independência, dirigida “Aos Povos do Reino do Brasil”, um outro manifesto declara formalmente a independência, agora perante a comunidade internacional. O prólogo do documento é firme:
- “Sucinta e Verdadeira Exposição dos Fatos que Levaram o Príncipe, Agora Imperador, e o Povo Brasileiro a Proclamar o Brasil Como uma Nação Livre e Independente”.
- O Manifesto propriamente dito, dirigido “A Todos os Governos e às Nações Amigas”, proclama "a todo o Mundo a sua Independência Política; e, como um Reino e uma Nação independente está resolvido a manter esse direito...”
- Dom Pedro prossegue:
- “... Eu, com o conselho dos Representantes populares, e na presença e sob a proteção de Deus Todo-Poderoso, Declaro e proclamo que o Brasil é uma Nação Livre e Independente, e que o Governo Estabelecido é em todos os atos um Governo Independente e Soberano. E a todas as nações amigas Eu declaro que os portos do Brasil estão livres e abertos ao Comércio...”
- O Grito do Ipiranga, em setembro, seria apenas uma ratificação da Declaração da Independência feita mais de um mês antes. Foi mais um anúncio, feito pelo príncipe perante sua própria guarda pessoal e comitiva, de que o caminho escolhido seria trilhado até o fim.
- No dia seguinte ao Manifesto de Primeiro de Agosto, Dom Pedro parece ter sido iniciado na maçonaria, mas não há consenso, entre os historiadores maçônicos, sobre a data exata.
- O fato é que, três dias depois do Manifesto, ele foi elevado ao grau de mestre maçom. Em 7 de setembro, ocorreu o Grito do Ipiranga. Em 9 de setembro, em reunião no Grande Oriente do Brasil, Dom Pedro foi reconhecido pela maçonaria como Imperador.
- Os acontecimentos se precipitaram. Em 18 de setembro ele escreveu a Dom João VI anunciando que o Brasil não obedeceria mais às Cortes portuguesas. Em 12 de outubro foi aclamado publicamente como Imperador.
- Mas o acordo entre José Bonifácio e os maçons, que era frágil de ambos os lados, se desfez. A maçonaria havia exigido de Dom Pedro três papéis assinados em branco e o juramento prévio da futura Constituição, fosse qual fosse o seu texto. Dom Pedro, de formação absolutista, respondeu em 25 de outubro fechando o Grande Oriente do Brasil.
- A partir daí, os episódios tragicômicos se sucederam: Bonifácio processou os principais líderes maçônicos e ordenou a prisão de Gonçalves Ledo, mas ele escapou para a Argentina, onde foi recebido com honras pelos dirigentes da maçonaria local.
- Em 3 de maio de 1823, foi instalada a Assembléia Constituinte. Em 7 de julho, foi desfeita a condenação contra os líderes maçônicos e eles puderam voltar. José Bonifácio se afastou do governo em 17 de julho.
- Em 16 de novembro, Dom Pedro dissolveu a Assembléia Constituinte, e Bonifácio foi preso e desterrado para a França, onde ficaria por vários anos. Em fevereiro de 1824, Dom Pedro outorgou a primeira Constituição brasileira.
- Em 2 de julho, o maçom Pais de Andrade, presidente da Junta de Governo de Pernambuco, lançou a chamada “Confederação do Equador”, proclamando a República, e pediu apoio dos Estados vizinhos. O movimento republicano foi vencido em novembro e seus líderes mortos. Nenhum carrasco aceitou enforcar Frei Caneca, como queriam as autoridades, e ele teve de ser fuzilado.
- Dom Pedro I abdicou do trono em 7 de abril de 1831, e depois disso o Grande Oriente do Brasil foi reorganizado. Durante um breve tempo, houve então um acordo de paz entre José Bonifácio e Gonçalves Ledo.
- E para quem acha que a Independência foi um episódio protagonizado somente por barbas, bigodes, cavanhaques e suíças, não custa lembrar que Pedro recebeu de sua mulher uma carta que lhe chegou às mãos às margens do Ipiranga, junto com as missivas de Bonifácio. Nela, a futura Imperatriz Maria Leopoldina exortava o belicoso consorte: "O fruto está maduro! Pegue-o antes que apodreça!".
- E enquanto gritava "Independência ou Morte!", Pedro certamente dizia com seus botões: "Sim, querida..."
- Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Independ%C3%AAncia_do_Brasil
http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=412
Hola Rodolfo,
ResponderExcluirgracias amigo por esta lección de historia.
Me encantó leerte.
Te dejo saludos,
Sergio.
Barcellos, esse emblóglio independentístico só prova aquilo que já sabemos: A história oficial escrita de qualquer país é pasteurizada, isto é, só se registra para a posteridade aquilo que a torna "bonita", palatável, sem arestas. Acabo de ler o "Guia politicamente incorreto da história do Brasil" que, excluídas as especulações e voos de imaginação, mostra algumas facetas não divulgadas de nossos maiores eventos históricos, e a coisa não é "bonita" como a história oficial. Parabéns pelo ótimo texto, JAIR
ResponderExcluirBarcellos, uma aula de história!
ResponderExcluirQuanta coisa que a gente não aprende no colégio!
Pelo visto, em 7 de setembro de 1822, só os capiaus do interior ainda não sabiam da declaração formal de independência, que acabou conhecida como "abertura dos portos".
E o perde-ganha de D. Pedro e J. Bonifácio com a maçonaria teve tantas reviravoltas e vira-casacas que mostra que o que acontece hoje em dia já é uma prática consagrada desde aquela época.
Mas, no final, para o povão nada mudou, da mesma forma que não mudaria mais tarde, com o tardio advento da república.
Até hoje este é um país onde a "nobreza" tem tratamento diferenciado, enquanto a galera fica pastando...
Depois de ler este post, fica difícil comemorar o 7 de setembro, né?
lindo o texto
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