quarta-feira, 30 de junho de 2010

Crônicas Africanas

- E Portugal navega de volta... Tordesilhas não lhe valeu, e a doce música do fado foi silenciada pelas castanholas de aquém-Pirineus. Mas sua esquadra de belas caravelas caiu com dignidade, senão com brilho, e os destinos da Península estarão bem representados pelo país irmão.

- E os Cavaleiros da Távola Redonda também retornam... Não mais prosseguirão na busca pelo Graal, que lhes foi recusada pelos Cavaleiros Teutônicos. Talvez os bretões tivessem melhor sorte, se não tivessem como capitão de suas forças um centurião romano.

- Falando em Roma e na Gália, quem esperava um confronto épico entre as legiões de César e as hostes de Vercingetórix terá de contentar-se com a leitura amena de gibis (como "Asterix, o gaulês"). Os dois famosíssimos exércitos entraram pela porta dos fundos, e pela mesma porta saíram, envergonhados.

- Os guerreiros guaranis fizeram bonito... após um recontro indefinido, sua última linha de lanceiros derrotou os valentes Samurais do Sol Nascente, ao som de "India", calando os gritos de "Banzai"...

- A América do Sul vai bem, obrigado - pelo menos por enquanto. Os cisplatinos da Celeste Olímpica deixaram meia Coréia no acostamento. Os transplatinos alvicelestes fizeram festa nos salões de Montezuma, com direito a um tango bem marcado. A única perda do continente aconteceu noutro confronto de irmãos... e os canarinhos tupiniquins voaram mais alto que os condores andinos.

- A América do Norte vai mal, obrigado... além dos sombreros cabisbaixos ao sul do Río Grande, alguns narizes vermelhos ao norte nos lembram a histórica vitória dos humildes africanos de Gana sobre a maior potência do planeta, ao som de vuvuzelas e tambores tribais.

- E na velha Europa, um dos povos mais antigos sobrepujou uma jovem nação, ainda em sua primeira infância. Será o retorno da "Laranja Mecânica"?

- O futuro dirá. Mas como seria bom se, como disse o Jair, todas as disputas entre países pudessem ser resolvidas dentro das quatro linhas...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Vozes d'África

- Batalhas foram travadas, umas vencidas, outras perdidas... e alguns guerreiros deixaram a liça.
- Na velha Europa, calaram-se já as trompas dos francos e as cornetas dos romanos, talvez abafadas pelas vuvuzelas africanas...
- Também lá, os guardas da Rainha terão que defrontar-se com os cavaleiros teutônicos. Assunto para Shakespeare e Wagner.
- Depois do "amistoso" entre Portugal e Brasil, a península ibérica assistirá novamente ao confronto de povos irmãos... Camões e Cervantes certamente, um em verso e outro em prosa, cantarão a disputa que vai definir quem conduzirá os destinos da jangada de pedra de Saramago...
- Deste lado do Atlântico, os laureados andinos do Nobel - Gabriela e Neruda - poderão talvez cantar a épica batalha contra um povo de bardos menores, mas que também cantarão sua versão...
- Outros recontros merecerão talvez quem os cante. Mas estes últimos citados tocam-me mais de perto, pois acontecem entre irmãos ou primos chegados.
- Argentina, Uruguai e Paraguai singrarão por enquanto outros mares - se bem que o México também é da família. Mas as rotas dos navegantes acabarão inevitavelmente por cruzarem-se. Boa sorte, irmãos!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Sete a Zero!

Sete a zero foi bonito, pá,
E humildemente
Reconheço que pra gente
Dois a um foi bem chinfrim...

Foi bonita a tua festa, pá,
Fiquei contente,
Mas lembraste certamente
Que a próxima é pra mim...

domingo, 20 de junho de 2010

Minha Flor

Fotografada pela Beatriz em 20 de Junho de 2010
- Schlumbergera truncata (Epiphyllum truncatum, Zygocactus truncatus).
- Nome Popular: Flor-de-maio, cacto-de-natal, cacto-da-páscoa, flor-de-seda.

- A Flor de Maio é uma cactácea originária da mata atlântica, especificamente da região norte do estado do Rio de Janeiro, e atualmente difundida pelo mundo inteiro, devido ao seu belíssimo aspecto durante a floração e à facilidade de cultivo doméstico. Floresce nos meses tardios do outono, e por isso é conhecida na Europa como Flor do Natal, ou Cacto de Natal.
- Aqui em casa, uma variedade particularmente exuberante resolveu exibir-se neste dia 20 – véspera do solstício. Nada a ver, eu acho, com a bela atuação da seleção brasileira frente à forte esquadra elefantina; aposto que é mais uma homenagem que a natureza presta à minha querida Maria Helena, na véspera de seu aniversário.
- Aliás, em anos anteriores e com outras variedades da mesma planta, tem acontecido coisa semelhante. Já faz uma década que venho apelidando a espécie de Flor de Junho... mas acho que já está na hora de chamá-la – pelo menos dentro das fronteiras dos nossos humildes domínios – de Flor de Maria Helena.
- E salve a Seleção Brasileira! Pena que a próxima vítima seja tão próxima de nossos corações...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ao Mestre

- Quatrocentos e trinta anos atrás, Camões cerrava definitivamente o único olho que a guerra lhe deixara, abandonando o mundo corriqueiro dos homens mortais para ingressar no Elíseo luminoso dos vates eternos. Sua vida conturbada de boêmio aventureiro, por vezes fugitivo da justiça, terminara.
- Em 1556, regressando de Goa, - onde fora responder a inqúerito - naufraga na foz do Mekong. Consegue salvar o manuscrito dos Lusíadas, mas sua amante-escrava chinesa Dinamene perece nas ondas revoltas. Nasce daí um dos mais belos sonetos do Mestre:

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

- Camões também curtia as redondilhas, principalmente quando glosava os motes (ou motos) que os amigos lhe propunham em desafio. E volta e meia versejava em espanhol:

MOTE
Ojos, herido me habéis,
acabad ya de matarme;
mas, muerto, volve á mirarme,
por que me resucitéis.

GLOSA
Pues me distes tal herida,
con gana de darme muerte,
el morir me es dulce suerte,
pues con morir me dais vida.


Ojos, ¿qué os detenéis?
Acabad ya de matarme;
mas muerto volved á mirarme,
por que me resucitéis.


La llaga cierto ya es mía,
aunque, ojos, vos no queráis;
mas si la muerte me dais,
el morir me es alegría.


Y así digo que acabéis,
ojos, ya de matarme;
mas muerto, volved á mirarme,
por que me resucitéis.

- Fica aqui minha homenagem ao grande vate.

domingo, 6 de junho de 2010

Dia dos Namorados

Rodin - O Beijo
- No Brasil, comemora-se em 12 de junho o Dia dos Namorados. É véspera de Santo Antônio, o santo casamenteiro, esperança de muita gente encalhada.
- Mas a Copa do Mundo está aí, na próxima esquina, e com certeza vai monopolizar as atenções de todos. Por isso, é melhor eu me antecipar na homenagem aos amantes e a seu santo milagreiro - que não consegue ter um minuto de paz nesta época do ano. E nada melhor do que algumas rimas, modestas que sejam, para alegrar os corações.
- Quando eu me meto a versejar, prefiro as redondilhas. Esse tipo de verso suporta bem um ou outro tropeço nas rimas e disfarça melhor um pé quebrado no ritmo. Por isso é o predileto dos poetas menores, como eu.
- Mas de vez em quando, a musa me desafia a vôos mais altos, e eu arrisco um estilo mais ousado. E aí me atrevo a imitar Camões - é claro que em vôos bem mais curtos (o grande vate escreveu Os Lusíadas em mais de oito mil e oitocentos versos - todos decassílabos heróicos perfeitos).
- A maioria das minhas tentativas vai parar no lixo, mas de vez em quando sai alguma coisa que se aproveita...

Dia dos Namorados - Acróstico em heróicos

Duas só almas, gêmeas, se encontram,
Intímidas, amigas, companheiras,
A trocar entre si vidas inteiras.


Duas vozes irmãs em coro cantam
O hino do amor, em tons suaves,
Soltando os versos, como belas aves.


Na espera de mil beijos prometidos
Ao sopro de mil juras mal contidas,
Mil horas num minuto são vividas.
O Sol se esconde entre fulvos ares,
Romântica neblina resplendente,
Ardendo nos vermelhos do poente.
De súbito, centelham os olhares;
Os lábios unem-se em fulgente prece;
Só deles é o milagre que acontece.

- Dá pra sentir a ausência da rima nos beijos prometidos e o pé quebrado em alguns outros versos. Mesmo assim, a força dos heróicos é evidente e sustenta a estrutura toda. E com certeza é mais fácil imitar Camões - o mestre dos heróicos - do que partir para um vôo solo, mesmo contra a opinião de François Chateaubriand, conforme o Blog da amiga Alma Inquieta - Estados de Alma (El Libro...! - 24 de abril).
- Tanto é assim que minha saudação a ela, após sua primeira visita aos Sete Ramos (publicada no post "Lilienthal"), foi uma imitação descarada do imortal soneto do mestre à sua amada - "Alma minha gentil, que te partiste..."
- Já na simplicidade das sete sílabas das redondilhas, até um soneto razoável me socorre:

Dia dos Namorados - Soneto em redondilhas

Se você está sozinho,
Carente, abandonado,
Sem amor e sem carinho,
Não fique desesperado:

Reze muito a Santo Antônio
No seu dia consagrado;
Protetor do matrimônio,
Do namoro e do noivado.

Presto aqui meu testemunho
De excelentes resultados
Em versos de próprio punho.

Sejam todos bem-amados!
E viva doze de junho,
O Dia dos Namorados!

- E antes que eu me esqueça: nessa data também se comemora no Brasil o Dia do CAN.
- O Correio Aéreo Nacional entrou em operação em 12 de junho de 1931, ainda como Correio Aéreo Militar, quando os tenentes do Exército Casimiro Montenegro Filho e Nelson Freire Lavenère-Wanderley, pilotando um monomotor biplano Curtiss Fledgling matrícula K263 (apelidado carinhosamente de "Frankeinstein"), transportaram duas cartas do Rio de Janeiro para São Paulo, retornando no dia 15, com mais correspondência.
- Vai ver, é por essa coincidência de datas que, no Pindorama, uma bela namorada é chamada de avião...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Arte indígena

- Quando um novo sistema de navegação foi instalado no Hércules C-130 2462, da FAB, foi programada uma série de vôos, num périplo por todo o Brasil, para fins de teste e aceitação. Eu fiz parte da tripulação, e no pernoite em Belém tive oportunidade de conhecer e me apaixonar pela cerâmica marajoara.
- Trata-se de autêntica arte de uma avançada cultura indígena que lá floresceu entre os anos 400 e 1400 - portanto, uma cultura pré-colombiana. Os objetos originais, de alto valor arqueológico, não estão à disposição do público em geral; mas os artesãos locais, descendentes em boa parte do povo antigo, ainda produzem belíssimos objetos com as mesmas técnicas e os mesmos materiais. Sob a orientação de arqueólogos, aperfeiçoaram sua arte até obter reproduções fiéis aos estilos das peças de museu, e com isso conseguem uma renda razoável com os turistas.
- Visitei um dos centros de produção - uma simples rua de barro, ao lado de um igarapé que fornecia as matérias primas. A cada dez ou vinte metros um depósito rústico, repleto de peças diversas, e oleiros com seus tornos a pedal, em cuja mesa giratória montes de argila se transformavam em obras de arte, ante meus olhos embasbacados. De longe em longe, uma fogueira a céu aberto, para dar o cozimento e a têmpera certa. Para onde quer que eu olhasse, predominava a cor vermelha - inclusive no céu, onde o crepúsculo ia se adiantando.
- Como não tínhamos carga a transportar no retorno, enchi duas grandes caixas com vasos, ânforas, pratos e mais petrechos da arte local. E com a ajuda dos companheiros, embarquei-as no nosso grande cargueiro.
- Anos e anos se passaram. Não sou colecionador, e muitas peças foram dadas em presentes de aniversários, casamentos etc. Hoje, restam-me poucas.
- Mas essas, graças ao apurado senso artístico de Maria Helena, são talvez as mais representativas da antiga arte marajoara. E apesar de haver muita gente com olho grande em cima, essas ficam conosco.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sol Invictus

- Na época do imperador Aureliano, o Sol pesava uns dois nonilhões de quilos. Mas de lá para agora, ele vem perdendo quatro milhões de toneladas por segundo, convertendo hidrogênio em hélio para produzir sua energia. Portanto, ele já está mais leve, hoje.
- Nada de muito preocupante. Nesse ritmo, o Sol ainda tem alguns bilhões de anos de vida produtiva pela frente.
- Segundo Einstein, quatro milhões de toneladas de matéria equivalem a uma energia de... deixa ver... E=mc2... cerca de 25.000.000.000.000.000 de GigaWatts, eu acho. Esse montão de energia é irradiado por todo o sistema solar, e além dele, para os espaços interestelares. Que desperdício!
- Nosso planeta intercepta apenas dois bilionésimos - 50.000.000 GW - dessa enxurrada energética. Gaia - a Natureza - se encarrega de utilizar boa parte dessa parcela em prol da vida... fotossíntese, evaporação, chuvas, etc.
- Bem, eu tive a pachorra de calcular a energia média que o telhado de minha modesta casa intercepta. Gente... é muito, mas muito mais que os kWh que eu pago na minha conta de luz... e é de graça!
- Isso dá a medida exata de nossa presente incompetência tecnológica no trato com a biosfera que nos sustenta. Os cem metros quadrados que eu roubei da Natureza para meu proveito próprio, eram antes uma eficiente fábrica de oxigênio e um jardim do éden para os seres minúsculos que aqui habitavam. Agora, os mesmos 100 m2 não são capazes sequer de aproveitar a dádiva do Sol: em vez disso, exigem cada vez mais tributos da Natureza, em forma de contas de luz, água e outras amenidades, para apenas abrigar uma família escravizada pela tecnologia do Homo Sapiens...
- Bota incompetência nisso!