Passei. A ideia era interessante, mas eu sempre fiz o contrário - criar poesias a partir de textos. Disse isso a ela; mas sabiamente ela se fez de desentendida e me inscreveu solenemente como participante.
E agora, José? Não querendo desfeitear a querida amiga (e, confesso, já tentado pelo prêmio) fiz das tripas coração, pulmões, miolos, pena e papel e comecei a rabiscar penosamente as primeiras linhas de uma criatura da qual, a princípio, eu não tinha a mais vaga ideia de como seria...
Tomei o poema como mote, fiz uma glosa em versos livres e a partir desse núcleo consegui desenvolver um texto em prosa decente. Eis o poema:
Quando o Camaleão tem Fome
Na alegoria das cores
ouso trocar minha roupa,
dançando sobre
metamorfoses do mimetismo.
No país das árvores
filhas do pau-brasil,
insetos fossilizados
não bastam...
Línguas continuam
vazias....
Barrigas órfãs!
E eis o texto:
- O Lacerdão merece o apelido! Parece um lagarto gordo caçando mariposas... - exclamou Basílio.
- Não entendi a ligação - retrucou a Lourinha.
"Outra que merece o apelido... Lourinha..." - pensou Basílio. Mas explicou com paciência:
- "Lacerda" é o nome científico de lagartos, calangos, lagartixas... e o Lacerdão lembra esses bichos, quando troca de roupa depois do expediente e parte para a azaração na Cinelândia, na Lapa ou no baixo Leblon. Você pode até adivinhar em qual desse três lugares ele vai... pelo blazer que ele veste. Tem até um double-face pra mudar de visual conforme a ocasião.
E o Lacerdão era mesmo um boêmio da pesada. Batido o ponto, ao final do dia, tomava um banho no único chuveiro do banheiro dos funcionários, vestia-se a caráter e ia jantar e prosear com os amigos no boteco do Jabour, remanchando até que o dono baixasse ruidosamente uma das duas portas corrugadas, indicando que era hora de fechar. E lá se ia o nosso herói, em busca das mariposas que abundavam em seus campos de caça.
Tinha saliva, o moço. Conseguia descontos nas tarifas do sexo fácil, e conhecia os porteiros dos hoteizinhos de alta rotatividade onde abatia as "vítimas" capturadas. E no dia seguinte era o primeiro freguês do Jabour, onde a média e o pão com manteiga do desjejum forravam-lhe o estômago, antes da inevitável narrativa de suas conquistas amorosas da noite. Ô língua comprida!
Mas uma certa manhã, o Lacerdão voltou da noite mais cedo. Esperou por meia hora até que o Jabour abrisse o "estabelecimento". Macambúzio, mordiscou seu pão com manteiga, bebericou sua média e permaneceu num silêncio soturno e desalentado, até que o Jabour, preocupado, o interpelou:
- Cumequié, mano véio... e a noite, como foi?
- Ah, Jabá... que vergonha! Eu achava que soubesse de tudo sobre mulheres... até que conheci a Deca! Linda, jovem, papo cabeça... tava tudo indo bem, até chegar a hora H, no quarto... E foi só então que eu fiquei sabendo!
- Sabendo o que, homem?
- Ela não era mariposa coisa nenhuma... era um tremendo bicho-pau!
E concluiu, desgostoso:
- É... essa foi de engasgar...
Semanas depois, não coube em mim de contente ao saber que tinha ganho um dos dois prêmios - um livro de poesias da própria Lu. Este "post" é também um agradecimento e só está saindo agora por conta do envolvimento do "Sete Ramos" na campanha da Márcia pela Mellíss e dos festejos nos "blogs" da Graça (parabéns, Graça! soube que você ganhou o outro prêmio).
Mas o atraso teve um lado bom: deu azo e prazo para que os recantos da Lu chegassem aos meus. Eis o prêmio:
É claro que já comecei a ler e lamber os cantos e recantos da Lu; mas a leitura anda meio devagar, por conta de uma coisa grande que causa uma dificuldade pequena e de uma coisa pequena que causa uma dificuldade grande.
A coisa grande é a profundidade dos pensamentos e das alegorias da autora; e a coisa pequena é o tamanico das fontes usadas na impressão. Ô Lu, maldade! Nas próximas edições deixa de ser mão-fechada nas fontes... o zóio cansado do véio gradece!
Então, estou lendo aos poucos, e degustando cada poema. Já terminei a primeira batelada ("Pérolas de Maresia") e faço meu comentário resumido:
Meus passos traçam linhas paralelas
Na areia molhada, com os teus;
E lá nossos rastros ficarão pela eternidade
Que existe entre duas marés cheias.
Pretendo, se não ficar cego, fazer um poeminha desses a cada capítulo lido. Se eu ficar cego, então escreverei a Odisséia e ficarei famoso.
(Para detalhes - incluindo o texto da Graça - clique no link abaixo:)
http://escritosnamemoria.blogspot.com/2011/06/saiu-o-resultado-da-alquimia-poetica.html
Parceiro,
ResponderExcluirestou aqui no seu canto, para falar dos Re(cantos) da Lu...aquela nobreza toda (daquele grande coração)realizou o Concurso, e fomos os dois premiados!
Pois bem...tou agora dizendo a ela que...
meu prêmio ainda não chegou!!!rs
mas enquanto não chega, vou "lambendo" aqui um pedacinho dele no seu canto, uns farelinhos só...ai que vontade de ter esse livro logo em minha mão!!
Possivelmente, ou certamente, NÃO ESCREVEREI NENHUMA ODISSEIA!rsrs... Mas vou com certeza aprender muito com a nossa poeta LU CAVICHIOLI, com esses poemas do Recantos!
Rodolfo querido,
* Não fique cego, por favor...Re(cantos) de Mim precisam de você e suas re(construções) criativas!!
* 'Lacerdão'...você nem imagina o que pensei quando vi isso no seu texto, pela primeira vez!!! Mas, daí me quietei, né, enfim, Lacerdão é só o nome científico de lagartos...simples assim, dona Maria das Graças 'Lacerda'!rsrs
Beijo grande, amigo!
Saudações textuais!
E parabéns pelo prêmio.
Entre Lagartos, lagartixas e lagartões eis-me aqui, lendo e relendo essa blogada que me deixou manteiga derretida de emoção e com frouxos de risos... Porque você, é hilário, meu amigo.
ResponderExcluirAdoro ler teus coments.
Sabe RR esse concurso foi um exercício, visando interagir com meus amigos e com todos que apreciam a literatura de um modo geral.
Mas como o objetivo era mesmo desafiar, tive a idéia de presentear com meu livro, já que tudo girava em torno da poesia. E sinceramente fiquei surpresa com os textos que recebi, justamente porque transformar poesia em prosa ou vice-versa requer amor e dedicação sempre em prol da literatura e também um bem querer ao desafio proposto. E confesso, foi o que realmente aconteceu contigo e com a Graça.
Recebi dois textos extremamente diferentes, mas que conservaram a idéia central e o mais fantástico é que você conseguiu , de maneira brilhante, traçar linhas bem humoradas com pitadas veladas de sua inteligência de prosador, posto que eu só conhecia até então o poeta.
A blogada ficou sensacional porque você é altamente capaz de nos seduzir com suas palavras.
Quanto ao tamanho das letras, foi tudo culpa da editora kkkkkk. Mas esse é meu primeiro livro e com ele pude aprender o que está por tras das publicações e fatias generosas que as Editoras engolem.
Sem essa de ficar cegueto...
E já que fez um resumo da primeira leva, use uma lupa para ler o resto, pq eu quero um versinho para todos os capítulos pra eu guardar com carinho.
Obrigada pela blogada, pelo carinho e por sua amizade. E que meus poemas possam alcançar teu coração.
Meu afeto
bacio caríssimo
Parabéns meu querido premio merecido!! És especial!
ResponderExcluirR.R.
ResponderExcluirMeus parabéns meu amigo!! Super criativo seu texto. Digno do seu talento.
Me orgulho de fazer parte do seu circulo de amigos.
A Lu foi super carinhosa comigo, fez um poema pra mim que postei, e fez uma postagem no seu blog Escrito na Memória com um poemini..falando do meu trabalho e ainda colocou uma foto de uma ceramica.
Fiquei tão feliz!! Achei lindo o gesto.
A sua turminha.. a qual ja estou por minha conta me incluindo, são todos uns amores..
Bj
Ma
Que legal amigo!
ResponderExcluirUm belo prêmio para um belo escrito!
Dei boas risadas!
Se me autorizares, com os devidos créditos, adoraria publicar lá na minha JANELA.
Sabes como aprecio um bom caldo!kkk
Clap,clap,clap! Parabéns Rodolfo, ficou ótimo, valeu o esforço, que sei nem foi tanto, pois tanlento espalhas por todo canto! Beijos! A.
ResponderExcluirQue lindeza de composição, homem, mago, bruxo, senhor da palavra... Já tinha lido o poema. Já tinha lido a prosa (bem exibidinha euzinha) e também já tinha lido o Re(cantos) de Mim... Sou bem dessas que no sábado se enche de tédio, um tanto de acidez, e fico assim, ainda mais metida. Mas minha doçura ainda permeia... Procure direitinho que encontra.
ResponderExcluirBeijos.
Tenho uma imensidão de admiração por ti, por muito.
Beijos de novo.
Caramba!
ResponderExcluirMe senti como um inseto!
Quer dizer que esse miniconto a lá Dalton Trevisan foi baseado nos versos lá do início? Vai ter imaginação assim lá na Cinelândia!
Mas, amigo velho, eu quase sempre envio minhas mensagens por e-mail com letras em tamanho "grande". Principalmente quando é para alguém com idade equivalente à minha!
Hehehehehe!
Abraços, Mestre!
meu querido vc mexe e remexe com o nosso imaginário...te acho um gênio...quero aprender com vc um pouco mais...
ResponderExcluirBjssssssssssss
Leonel, meu caro, por que esta sensação de inseto? Nada disso, rsrs...
ResponderExcluirNossa, essa sopa de letrinhas está atrapalhando né!
Bota o zoon no 150, fica legal. Eu já fiz isso.
abraços caríssimo Leonel
KKKKKKKKKK Rodolfo vc é um gênio! Navega tanto na poesia como na prosa como marinheiro dos bons não fosse o amigo (que sei...) dos voos altaneiros por esses céus do Brasil! Voar, navegar, tanto faz...pois tanto um como o outro nos fazem tirar os pés do chão....adorei seu texto, me fez lembrar as crônicas do Sérgio Porto o grande Stanislaw!
ResponderExcluirÉ bom nos dois, meu amigo, que tal começar A PENSAR NUM LIVRO DE CRÔNICAS? Dou a maior força! beijão, bom domingo!
Maravilha; estou maravilhado com tudo.
ResponderExcluirParabéns pelo prêmio!
Abração.
Prêmio merecido Barcelos!
ResponderExcluir.....kkkk...tem fonte que nem óculos ajuda...kkk
Parabéns Barcelos!
Beijos e boa semana!
Carla
Vim te trazer este presente:
ResponderExcluir"...quando dou por terminado um conto, uma crônica, um poema, eu não me reconheço mais. A sensação é de que o texto me escreveu, ou pelo menos me revisou. E eu renasço numa edição ampliada e atualizada de mim mesmo."
(com flores).
Saudações textuais!
Querido
ResponderExcluirO mérito que vc me confere é fruto da sua generosidade, que transborda como espuma perfumada.
Minha alma, à luz da sua, é como flor embevecida sob o luar, encantada com o céu cheio de estrelas do seu coração.
Muito obrigada pela ternura contida em suas palavras.
Conte com meu carinho,
Fátima Guerra.
Barcellos,
ResponderExcluirSe eu não fosse teu fã de carteirinha, passaria a ser agora. Você conseguiu tirar de uma ótima poesia, um conto melhor ainda. Vá ser criativo assim na casa do chapéu! Abraços, JAIR.
Congratulations to the lucky....
ResponderExcluirSOU FÃ DOS TRÊS.... de carteirinha
Yéhhh!! nóis têmo bananas...
P.S.- Mr. Barcellos, avisei em OFF a Lu Cavich%@#!%$ioli, que EU não iria me inscrever pra não tirar o prêmio de ocêis... morô?
AVÃOCAGÁ ,,,, Mêus!! Ocês escrevinhum MUIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIITO.... rss
Deussssssssssskiajude
Abraços, Beijos e F.A.P.T´s sem nenhum maliciamento....
Tatto
Sabe Barcelos que eu mesma fico também com a pulga atrás da orelha, como diz vc, sobe estas competições esquisitas do DADO.
ResponderExcluirObrigada por confirmar minhas suspeitas e me alertar.
Beijos e bom dia!
Carla
Ele sempre me convidou para participar dos seus eventos. Teve até um tal BBB. Eu nunca aceitei.
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