sábado, 16 de julho de 2011
Pretextos
Mogúncia, 1450. As Guildas Municipais reuniram-se com representantes da nobreza, do clero e do comércio local, para discutir a nova e revolucionária invenção do Sr. Gutemberg: a Imprensa.
O burgomestre abriu a sessão, e convidou o inventor a mostrar um exemplar da Bíblia, produzido pelo novo método. Gutemberg, apresentando um grande volume, argumentou que o processo permitiria a publicação de cópias perfeitas, em grande número e a baixo custo.
Os edis trocaram idéias, buscando determinar como aquele método inovador de fabricação em série de livros iria influenciar a rotina sossegada da província.
De imediato, a Associação de Escribas e Copistas apresentou argumentos contrários à adoção da novidade, mostrando projeções estatísticas que apontavam o grave risco de desemprego massivo da classe se a invenção vingasse. Recebeu prontamente o apoio da Corporação dos Ilustradores e Iluminadores.
Discursou em seguida o Núncio, representante da Igreja, condenando "aquela invenção demoníaca" que, sob as vestes do Livro Sagrado, "subvertia os valores intrínsecos" que o fervor e a humildade dos monges copistas transmitiam a seus escritos, "com a bênção do Senhor".
Os representantes da nobreza, em dúvida, requisitaram assessoria especializada. Queriam determinar o impacto da novidade na arrecadação de tributos e taxas. A "Incubadora de Empresas" da Universidade de Mainz, pela voz do seu Reitor, deu parecer contrário ao projeto, pois a alegada onda de desemprego teria efeitos negativos na tributação. Mais contundente ainda foi o laudo do SEBRAE: o projeto não atingia os níveis mínimos de auto-sustentabilidade, pois em uma população com índice de 95% de analfabetismo, não haveria procura suficiente para viabilizar o consumo mínimo necessário - a margem de lucro seria negativa.
Finalmente, o IBAMA enterrou de vez as esperanças de Gutemberg: a análise do Relatório de Impacto Ambiental evidenciava alto grau de risco para as florestas da região, pela exploração da madeira necessária à fabricação de papel...
Por sorte, esta é uma historinha de ficção. Mas às vezes tenho receio de que a realidade atual esteja ficando muito parecida com ela.
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Barcellos,
ResponderExcluirSua alegoria é perfeita, nossa conjuntura atual sugere que as coisas podem ser piores ou poderiam ser piores. Do jeito que está, d tudo é possível acontecer, inclusive nada. Abraços e bom domingo, JAIR.
Qualquer semelhança com desejos lucrativos atuais não será mera coincidência, meu caro.
ResponderExcluirO Haiti é aqui... e a Mogúncia também.
Beijos, bruxo contador de história e estória.
Esse é o Rodolfo Barcellos que eu conheço!
ResponderExcluirDe Palimpsesto a Re(criador) da História!
Excelente, meu querido!
As justificativas do Sebrae e do Ibama sobre a "invenção demoníaca" do Gútem, veja só, 'colaram' até naquela época...
Sabe o que você me levou a refletir e a concluir, amigo?
- O mundo dos números, das contabilidades e dos lucros são todos iguais...*SÓ MUDAM DE ENDEREÇO!
*leia-se: de época.
Um grande abraço, e desta vez releve se eu disse alguma bobagem, incoerência ou mesmo alguma aberração...rs...é que já se faz tarde e essa sua postagem (apesar de alegórica, como bem disse o Jair) me confundiu os neurônio...rs
Parabéns, a-do-rei!!!!!!!!
Resumindo: com o festival de besteiras que impera atualmente, se o velho Gutemberg tivesse inventado a imprensa agora, não ia dar certo!
ResponderExcluirTambém me lembro quando os "iluminados" disseram que a TV ia acabar com a indústria cinematográfica!
O que causa mesmo desemprego é botar motoristas de ônibus para acumular a função de cobrador!
Boa crítica, Barcellos!
Excelente!
ResponderExcluirPerfeito Barcellos!
Atualmente também e sempre, acredito, a ignorância que astravanca o progresso tenta e o medo que faz, é que ganham até um certo terreno pequeno????
Beijos,
Carla Fernanda
Rodolfo... Vc acha? Infelizmente a ganancia de quem devia cuidar de nossos interesses me assusta.
ResponderExcluirParabéns pela sua postagem tão inteligente!
bj
Ma
Ah.. A Lu ta na minha postagem de hj..que deveria sair amanhã, mas errei na hora de programar..
Lindo o que escreveu lá no meu blog!!
ResponderExcluirObrigada!!!
Se sou bailarina das horas,
És guardiao de todos os tempos
E poeta de todos os espaços
Barcellos!
Beijos,
Carla
3, 4 e 5 pra você também, querido amigo.
ResponderExcluir(botoeseanjosmimos)
Meu querido amigo!
ResponderExcluiras pessoas não se tornam especiais pela maneira de ser ou agir,mais sim,pela profundidade com que atingem nossos sentimentos.
FELIZ DIA DO AMIGO!!!!!!!!!!!!!!
Caro Barcellos,
ResponderExcluirQuero apenas agradecer sua fraternidade neste dia que comemora a amizade. Feliz dia do amigo, JAIR.
Feliz dia do amigo!!!
ResponderExcluirBeijos,
:D
Carla
É durante o inverno que se planta a seara que nos alimentará na próxima safra. Assim a verdadeira amizade se reconhece e se consolida nos tempos difíceis. Pobre Ovídio... e quão abençoado sou eu!
ResponderExcluirAbraços a todos, amigos! Não sei se mereço, mas prometo aguentar... obrigado.
Genial Rodolfo! Cadê o livro? Vc precisa escrever urgente um livro de crônicas e contos!
ResponderExcluirSua inteligência e cultura são coisas raras de se ver...beijo grande, feliz dia do amigo!
Um texto muito bom, realmente a realidade atual está ficando meio descontrolada, o povo parece que está sozinho sem poder contar com quem governa nosso País. Adorei ler um pouco de seu blog, vou estar de volta novamente. Um Abraço, e parabéns pelo blog.
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