quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Para o Santo


     Após ter cumprido uma pena de dez dias no purgatório da ausência de sinal (mas que será que eu fiz de errado?), eis-me de volta ao paraíso que é o convívio com meus amigos do Blog. Ainda vou demorar um tempo para me por em dia, mas a gente chega lá. Enquanto isso, quero contar uma historinha - um causo.
* * * * *
     Os "anos dourados" estavam se despedindo, mas ninguém percebia isso. O "twist", o bambolê e o "hully-gully" disputavam popularidade com os Rolling Stones e The Mamas & The Papas, Tijuana Brass, Rita Pavone, a Jovem Guarda de Roberto, Wanderléia e Erasmo e, é claro, os Beatles.
     Uma turma alegre de amigos reunia-se habitualmente num armazém de secos e molhados,  numa esquina do Campo do Galvão, em Guaratinguetá, para bebericar uma pinga de primeira, contar "causos" e jogar porrinha - ou palitinho, como preferem alguns. Recém-admitido no restrito grupo de marmanjos, o jovem sargento Barcellos enfrentava seus primeiros desafios para conquistar seu lugar na turma. E por obra da sorte ou da conivência dos demais, havia chegado à final do jogo de porrinha, e enfrentava agora o outro finalista - um senhor magro e grisalho, famoso jogador dos palitinhos. Competia a este dar o primeiro lance.
     - Seis! - "cantou" o meu adversário, com voz confiante.
E agora? Meu punho fechado estava vazio, e a pedida lógica seria "três". Mas desconfiei daquela facilidade aparente. O fulano, sabendo que seria o primeiro a apostar, jamais iria pedir "seis" sem segundas intenções - seria o mesmo que declarar "eu tenho três palitinhos na mão"... não, ele queria forçar meu erro, mesmo ao preço de errar também... é, ele queria é minar minha confiança para uma disputa-desempate subsequente.
     Resolvi arriscar tudo.
     - Lona!
     Um murmúrio cresceu ao redor. Mostrei minha mão vazia, e após uma leve hesitação, ele abriu a sua. Também estava vazia.
     Após os cumprimentos e felicitações, o perdedor mandou abrir uma garrafa da pura. 
     Servidas as dez ou quinze doses dos participantes, os copos foram erguidos em minha direção. Percebendo minha hesitação meu pai fez-me um sinal discreto, apontando para o chão do boteco.
     Entendi. Derramei no chão metade do conteúdo do meu copo, exclamando:
     - Para o Santo!
     Os demais responderam "Saúde", ou "Ao Santo", e num só gole esvaziamos nossos copos.
* * * * *
     Sacrificar os primeiros frutos em holocausto a uma entidade superior é prática milenar em quase todas as culturas. Embora pareça estranho à mente moderna e pragmática, este aparente "desperdício" tem suas funções sociais - independentemente de crenças ou descrenças religiosas. A principal, creio, é psicológica: habitua-nos a ser gratos pelo que nos dá a natureza e ensina-nos a aceitar com serenidade o sentimento de perda.
     Podemos ler no Êxodo: “As primícias dos primeiros frutos da tua terra trarás à Casa do Senhor, teu Deus; não cozerás o cabrito no leite de sua mãe”. – Êxodo 34:26
     E nos Provérbios: “Honra ao Senhor com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão fartamente os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares”. – Provérbios 3:9,10 
     Li, não me lembro onde, que após os sacrifícios a carne era distribuída entre os pobres. Mais uma função social...
* * * * *
     Entre os amigos que receberam ou receberão um exemplar autografado da primeira edição de "O Outro Nome da Rosa" haverá os que se julgam na obrigação de remunerar o autor. A esses, peço que escolham uma obra social próxima de cada um e efetuem, em meu nome, uma doação de R$ 30,00 - ou equivalente. Ficam valendo como primícias. As próximas edições - havendo-as - serão comercializadas normalmente. Eu agradeço.
     E quem ainda quiser encomendar o seu, restam poucas primícias. Por favor, enviem os dados necessários para rblivro@hotmail.com - incluindo endereço postal completo, com CEP - e aguardem o retorno. Obrigado.

18 comentários:

  1. Barcellos,
    Bem vindo novamente a bloguesfera que já estava ficando preocupara com sua ausência. Como sempre, um texto muito bom evocando sua juventude e trazendo, de lambuja informações preciosas. Obrigado pelo livro e parabéns pela sua generosidade. Abraços fraternos, JAIR.

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  2. Barcellos, meu véi!!

    Tua ausência é sempre um infortúnio blogsferiâno, por isso têje impedido de ficar sem NET... OK!
    Deveras um retorno a altura, o causo é dos bão meRmo... e da-lhe cangébra pro Santo... rss

    Deussssssssskiajude
    Abraços mago das palavras.
    Tatto

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  3. Prazer em reve-lo, amigo! Só mesmo você para andar "uma volta na frente" do coroa e pedir a conta certa (no jogo)!
    A respeito de bebida pro santo, lá no Recife, nos anos 70, tinha um comercial da cachaça Serra Grande na TV: o cara chegava num boteco e pedia duas doses da SG. "Uma é pro santo!"-Explicava. O bodegueiro servia, o cara tomava sua dose e o outro copo esvaziava sozinho! O bodegueiro arregalava os olhos, e o cara dava um tapinha nas costas dele e saia porta afora. Aí o bodegueiro perguntava: "E a conta?" E o outro gritava: " O santo paga!"
    Abraços, Barcellos!

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  4. Meu querido adorei o conto,vou deixar aqui meu carinho,bjo!

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  5. Salve, Salve RR, caríssimo!
    Super prazer em tê-lo de volta ao nosso convívio, com tuas historietas tão boas quanto comprar sapatos ... rsrs!

    Genial a blogada, e o joguinho entaum... tudibão!

    Li o Outro Nome da Rosa e fiquei no "quero mais". Qdo terminou eu disse: "cadê o resto, eu quero mais"! Ahhhhh acabou, que pena! Será que a Rosa vai virar um roseiral? Ia ser muito legal ler a continuação...

    Parabéns meu amigo, teu livro é um encanto, na prosa e na poesia.
    Obrigada pelo presente, eu amei e já está na estante especial, onde guardo somente o que gosto de verdade!

    Beijo nas mãos
    carinhosamente
    Lu C.

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  6. Até já me esqueci um pouco como joga porrinha...kkk
    Vou enviar meus dados sim Barcellos.
    Nunca fiz compra pela interne nem tenho experiência. Te confesso que tenho até um pouco de medo.
    Boa noite!
    Carla

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  7. POXA EU E VOCE SEMPRE LEMBRANDO UM AO OUTRO DOS PAIS SRSR

    MEU PAI SARGENTO LINS TAMBEM TODA VEZ QUE TOMAVA SUA PINGUINHA DE UM ALAMBIQUE PROXIMO A AGÚDOS ELE DOAVA TAMBEM PARA O SANTO ..SEMPRE O VI FAZENDO ISSO RELIGIOSAMENTE SRSR
    ESPERO O MEU LIVRO MESMO E ANSIOSA ..E OLHA SÓ AS COINCIDÊNCIAS DA VIDA HOJE PELA MANHÃ PEDI A UMA VIZINHA INFORMAÇÃO ONDE PODERIA FAZER UMA DOAÇÃO PARA A IGREJINHA DA VILA ONDE MINHA MAE MORA HA UNS 40 ANOS ..ELA ME DISSE QUE ESTAVAM RECEBENDO DOAÇÕES MESMO PARA O SOPÃO ,PRONTO JA SEI ONDE DOAREI O VALOR DO SEU LIVRO..QUE ABENÇOADO SERA ...CHEGANDO ALEM DE NÓS DAR IMENSA ALEGRIA DE LER, AINDA VEM COM UMA MISSÃO DE AJUDAR AO PRÓXIMO
    PARABENS RODOLFO

    VAI SER UM SUCESSO ..NÃO TENHO A MENOR DÚVIDA ...

    ABRAÇOS

    OTILIA

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  8. Rita Pavone é aquela que cantava "pegue o martelo", né?

    Adoro jogar porrinha e às vezes, só às vezes me esforço pra perder... Mas não espalha isso não.

    Que bom tê-lo de volta, moço. Não deixe a OI castigá-lo (e a nós, por tabela) tanto assim...

    Beijo!

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  9. Então o Mago usava seus poderes não somente para escrever, mas também para ganhar na porrinha, tô vendo tudo, ótimo texto e eu também sempre ofereço ao santo metade do primeiro copo do que eu estiver bebendo, aprendi com meu pai, abração Rodolfo :-)

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  10. Já tava tristinha mesmo com esse tempão de ausência. Careço dizer que essa "pro santo" é atitude diária por essas bandas? E o tal jogo? Faz tempo que não jogo e seria delicioso fazê-lo com minha minina-ternura na roda. Seguirei as instruções que acabou de dar sobre seu livro, ok?! Adorei a ideia.
    Beijuuss n.a.

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  11. Uai caramba! perdi alguma coisa? Não ia ter noite de autógrafos? Não vai ter mais? Porque Rodolfo? Eu quero o meu exemplar, achei que iria vender...vou te mandar meu endereço...espero que suas dores já tenham todas sido derretidas e agora, só restem as alegrias...beijo grande!

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  12. Esqueci de comentar o post tão chocada fiquei por não ter mais noite de autógrafos...snif...gosto de vc pq sempre se aprende alguma coisa quando se vem aqui...beijos,

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  13. Amigo estou carregando a bateria da máquina para postar o vestido sim...kkk.
    Boa noite!
    Carla

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  14. Amigo Rodolfo..

    Estou numa corredia estes dias, e nem estou visitando meus amigos de blog. Mas não poderia deixar aqui o meu carinho a vc.
    Confesso que nunca joguei porrinha ( rs brincadeirinha ), mas meu papy que adora um pinguinha sempre joga um poquinho dela no chão. Um pouquinho só pq ele diz que a atal pinguinha é pra abrir o apetite.
    Belo gesto o seu da doação... pode contar..
    Estou feliz com sua volta.. Vc faz falta..
    bj

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  15. Olá amigo Rodolfo,

    que lindo gesto o teu!
    Fazer um donativo com o teu esforço torna "O Outro Nome da Rosa" um livro único!

    Muito obrigada meu amigo!

    Um beijo e bom fim de semana.

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  16. Então, Barcellos, favoritei seu blog não é de hoje mas, sabe como é, só de raro em raro aqui venho, e mais raramente ainda comento. Até lá no Quiosque é a mesma coisa. Escassez de tempo em primeiro lugar.
    Mais de lá que daqui, conheço seu estilo e francamente gosto de como escreve.
    Pois hoje lá no painel do meu Blogger, justamente contemplando quanto blog eu sigo, entrando num aqui, noutro ali, só pra me eximir daquela sensação de culpa que me dá quando custo tempo demais pra visitar, passei pelo seu (cheiro de alecrim e tudo). O título da última postagem pôs fim ao unidunitê do entro-não-entro. Estou lendo um folclorista da pesada que presumo ser de seu conhecimento: Câmara Cascudo.
    E vem você então contando este episódio autobiográfico. Saboreei até a cachaça. Não a derramada, que de santo eu só tenho o nome. Bebi junto com o resto da turma. Parece até que surtiu efeito. Eta!
    Mas então a conversa séria. O mencionado livro autoral seu está sendo distribuído de uma forma que vale registrar: tem minha admiração.
    Ao tomar da cachaça do seu tempo de sargento, de alguma forma já participei. Fico por aqui, e deixo-lhe um forte abraço, amigo.

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  17. belo alvorecer!
    Ainda bem que meu maracujá de gaveta voltou,para me fazer feliz,com pinga e sem pinga tanto faz,kkkkkkkk.Sabia que já estava figando sem pinga,sentindo sua falta...
    Bjs amado!

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  18. Ei, mano. Só espero que o meu exemplar já esteja reservado. Ainda não tive tempo par ir buscá-lo, mas vou solucionar isso.
    Que bom que a Oi resolveu "fazer as pazes" com vc. Quem sai lucrando somos nós...
    Bjus

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