Estrofes são agrupamentos de versos com unidade de conteúdo e de ritmo. Um poema com uma única estrofe é dito monostrófico; havendo mais, são separadas entre si por linhas em branco e não há denominação específica para o poema (em relação ao número de estrofes).
Cada estrofe tem uma designação que reflete o número de versos que a compõem:
1 verso - Monóstico
2 versos - Dístico
3 versos - Terceto
4 versos - Quarteto ou quadra
5 versos - Quintilha
6 versos - Sextilha
7 versos - Septilha, ou sete-versos
8 versos - Oitava
9 versos - Nona, ou nove-versos
10 versos - Décima
Mais de dez versos: estrofe irregular.
Um verso repetido no início das estrofes chama-se antecanto. No final, é um bordão. Um conjunto de versos repetidos ao longo do poema é um refrão ou estribilho.
Na versificação livre, a divisão do poema em estrofes fica por conta do poeta, que levará em conta as pausas, as mudanças de ritmo ou de assunto, a eufonia no declamar, a musicalidade etc. Já os poemas de forma fixa são caracterizados principalmente pelo número, tipo e distribuição das estrofes. Os mais comuns nas línguas de raízes latinas são:
Soneto: formado por dois quartetos e dois tercetos, nessa ordem, geralmente com versos decassílabos. Popularizou-se através de Petrarca e Camões;
Balada: com três oitavas e uma quadra;
Rondel: duas quadras e uma quintilha;
Rondó: com estrofação uniforme de quadras;
Sextina: formado por seis sextilhas e um terceto;
Indriso: dois tercetos e dois monósticos, os quais podem ser rimados e metrificados ou compostos por versos brancos.
Trova: poema monostrófico de quatro redondilhas maiores, rimadas, sem título e com sentido completo.
Entre os "estrangeiros" encontraram boa acolhida entre nós:
Haicai: poema monostrófico originário do Japão, com três redondilhas: duas menores (pentassílabos, o primeiro e o terceiro versos) e uma maior (heptassílabo, o segundo):
Escorpião no Sol:
Nasce o fio candente
A tecer idéias.
(Um Hai-kai para Denise - versos meus)
Soneto inglês: três quartetos e um dístico, geralmente em decassílabos na forma de pentâmetro iâmbico (sílabas pares tônicas). Apesar da dificuldade da tradução - decorrente da concisão monossilábica do idioma inglês - herdou entre nós a fama de seu principal divulgador: William Shakespeare.
The little Love-god lying once asleep,
Laid by his side his heart-inflaming brand,
Whilst many nymphs that vowed chaste life to keep
Came tripping by; but in her maiden hand
The fairest votary took up that fire
Which many legions of true hearts had warmed;
And so the General of hot desire
Was, sleeping, by a virgin hand disarmed.
This brand she quenched in a cool well by,
Which from Love's fire took heat perpetual,
Growing a bath and healthful remedy,
For men diseased; but I, my mistress' thrall,
Came there for cure and this by that I prove,
Love's fire heats water, water cools not love.
(Shakespeare, soneto 154)
Jerônimo de Aquino, um dos tradutores mais prestigiados de Shakespeare, traduziu assim o dístico que fecha o último soneto do grande dramaturgo:
Fui aí, mas sem fé. Como se há de supor
Que água aquecida com tal facho esfrie o amor?
(Sonetos, Shakespeare - Ed. Martin Claret, p. 180)
Por aí se pode aquilatar a dificuldade de se traduzir poesia, obedecendo à forma original.
Há um tipo de composição poética cuja estrofação depende unicamente do título - ou pelo menos do tema: é o acróstico.
Dia dos Namorados
Duas só almas, gêmeas, se encontram,
Intímidas, amigas, companheiras,
A trocar entre si vidas inteiras.
Duas vozes irmãs em coro cantam
O hino do amor, em tons suaves,
Soltando os versos, como belas aves.
Na espera de mil beijos prometidos
Ao sopro de mil juras mal contidas,
Mil horas num minuto são vividas.
O Sol se esconde entre fulvos ares,
Romântica neblina resplendente,
Ardendo nos vermelhos do poente.
De súbito, centelham os olhares;
Os lábios unem-se em fulgente prece;
Só deles é o milagre que acontece.
(Versos meus)
E não devemos esquecer a composição mais autêntica de nosso povo, aquela que inspira os repentistas e os desafios de violas - a poesia de cordel, geralmente em sextilhas, com um esquema de rimas peculiar e vazada em redondilhas maiores, mas com liberdades de metro e rima que não são bem aceitas nas formas "clássicas". Vejamos um "cordel" de Francisco Diniz:
O que é literatura de cordel?
Literatura de Cordel
É poesia popular,
É história contada em versos
Em estrofes a rimar,
Escrita em papel comum,
Feita pra ler ou cantar.
A capa é em xilogravura,
Trabalho de artesão,
Que esculpe em madeira
Um desenho com ponção
Preparando a matriz
Pra fazer reprodução.
Mas pode ser um desenho,
Uma foto, uma pintura,
Cujo título, bem à mostra,
Resume a escritura.
É uma bela tradição,
Que exprime nossa cultura.
7 sílabas poéticas,
Cada verso deve ter
Pra ficar certo, bonito
E a métrica obedecer,
Pra evitar o pé quebrado
E a tradição manter.
Os folhetos de cordel
Nas feiras eram vendidos
Pendurados num cordão
Falando do acontecido,
De amor, luta e mistério,
De fé e do desassistido.
A minha literatura
De cordel é reflexão
Sobre a questão social
E orienta o cidadão
A valorizar a cultura
E também a educação.
Mas trata de outros temas:
Da luta do bem contra o mal,
Da crença do nosso povo,
Do hilário, coisa e tal
E você acha nas bancas
Por apenas um real.
O cordel é uma expressão
Da autêntica poesia
Do povo da minha terra
Que luta pra que um dia,
Acabem a fome e miséria,
Haja paz e harmonia.
(Francisco Diniz)
Poemas como esse, com métrica, rima e uma estrofação adequada, são mais facilmente musicáveis que aqueles feitos com versos soltos. Muito se poderia falar ainda sobre esse assunto, mas chega por agora. Se algum leitor incauto for contaminado pelo vírus da lírica, já me sentirei recompensado. E permitam-me fechar com um belo soneto de Machado de Assis - e a saudação poética:
A Carolina
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas desta longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que a despeito de toda a humana lida,
Fez nossa existência apetecida,
E n'um recanto pôs o mundo inteiro.
Trago-te flores - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados
Pois se trago nos olhos mal feridos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
(Machado de Assis)
Ave!
Referências: Wikipedia e "Site" da ABL