terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Augúrios de Inocência, 26-30

Júlio César laureado
- moeda romana antiga
(Internet)
     Após o recesso momesco retomo este trabalho de tradução do poema de William Blake. Tive dificuldades com alguns termos do inglês arcaico, principalmente com a palavra "emmet", na estrofe 28. Finalmente achei seu significado no site Babylon: é a forma antiga de "ant" - formiga. O contexto parece indicar a forma alada do inseto, mas preferi não usar "içá" ou "tanajura", a meu ver restritos à saúva brasileira, espécie sem similar na Inglaterra. Descartei também "siriluia", "aleluia" e outros tais. E obrigado à Denise pelos bons palpites na tradução da estrofe 26 - a glória que envenena o vencedor, a couraça que engessa o lutador.

26
The strongest poison ever known
Came from Caesar's laurel crown.
Nought can deform the human race
Like to the armour's iron brace.
O mais forte veneno encontrado
Vem dos louros de César coroado.
Nada deforma tanto a humana raça
Como a armadura de ferro que a abraça.

27
When gold and gems adorn the plow,
To peaceful arts shall envy bow.
A riddle, or the cricket's cry,
Is to doubt a fit reply.
Quando ouro e jóias ornarem o arado na terra
Às artes da paz invejará o arco de guerra.
Ao trilar de um grilo, ou a uma charada,
Nem sempre se encontra resposta adequada.

28
The emmet's inch and eagle's mile
Make lame philosophy to smile.
He who doubts from what he sees
Will ne'er believe, do what you please.
Da águia a milha, da formiga a polegada
Fazem sorrir a filosofia aleijada.
Quem duvida do que seu olho vê
Nunca terá fé, faça o que fizer você.

29
If the sun and moon should doubt,
They'd immediately go out.
To be in a passion you good may do,
But no good if a passion is in you.
Se sol e lua chegarem a duvidar
Eles imediatamente irão se apagar.
Você estar em paixão pode ser belo dom,
Mas se a paixão está em você, não é bom.

30
The whore and gambler, by the state
Licensed, build that nation's fate.
The harlot's cry from street to street
Shall weave old England's winding-sheet.
Meretriz e jogador, com o aval do Estado
Constroem da nação o destino e o fado.
O grito da prostituta, que nas ruas berra,
Tecerá a mortalha da velha Inglaterra.

Niterói, fevereiro de 2013
Rodolfo Barcellos

6 comentários:

  1. Amigo Barcellos, eu que desconheço o idioma de Shakespeare, fico a imaginar as dificuldades que tu enfrentas ao traduzir um texto escrito há tanto tempo. O trabalho está ficando ótimo.
    Um abração. Tenhas um bom dia.

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  2. Com a coroa, o poder. Com o poder, a destruição do próprio ser, em primeiro plano. A estrofe mostra indiscutíveis verdades, merecedoras de reflexão.
    Parabéns, mais uma vez, pelo brilhante trabalho. Admiro sua disposição e persistência. Grande beijo!

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  3. (sempre a ambição ...)

    além de poeta ...um tradutor...

    ´o cara é voce!

    beijo

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  4. Eu que de ti sei quase o bastante, calculo o quanto prazeroso está sendo essa incursão para nos dizer os versos alheios. Eu que de inglês não sei coisa que o valha, aplaudo e sorvo o que vem das tuas palavras, que não são tuas, mas acabam sendo, entendeu?

    Beijos, meu bem.
    Margoh tem razão, o cara é você.

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  5. Até agora, a estrofe que mais me impactou foi a de número 26...
    "Nada deforma tanto a humana raça
    Como a armadura de ferro que a abraça"
    É extremamente forte, não?

    Eu apenas dei um pitaco, imagina agradecer...só vc mesmo, Rodolfo...com tua insuperável mania de acarinhar a gente!!
    Beijos, Mago querido!

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  6. Oi Barcellos,

    Tenho que tirar o chapéu prá você. Por mais prazeroso que possa ser, que trabalheira!
    Isto é que é fome de conhecimento e de amor à arte escrita.

    Beijo.

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