quarta-feira, 10 de março de 2010

Mutação

  Recentemente, meu amigo Jair postou em seu blog pensador uma curta matéria tendo como título A Evolução Para Leigos (Como Eu). Curta que seja, sumaria com abrangência e competência a obra de Darwin. E como A Origem das Espécies foi escrita antes do nascimento da genética, eu tomo a liberdade de complementar aquele belo texto com informações sobre o papel da mutação nesse imbróglio. O Jair, generoso que é, vai me perdoar a intromissão.

  Na verdade, o título desta minha postagem deveria ser Mutação Para Diletantes (Como Nós). Mas detesto títulos longos. Também vou tentar simplificar a matéria, não só em consideração ao leitor, mas principalmente para não me embananar. A coisa toda é pra lá de complicada.
  A evolução darwiniana, para funcionar, exige diversidade de características entre os indivíduos da mesma espécie. Mas se a vida se originou de um único microorganismo capaz de autoduplicar-se, como surgiu essa diversidade? A resposta é mutação.
  Existem mutações somáticas, não hereditárias, e as que podem ser transmitidas à descendência. Vamos nos limitar às últimas.
  Imagine todo o texto de Darwin escrito em código Morse. Basta combinar dois símbolos - ponto e traço - em séries preestabelecidas, para representar toda a obra. Podemos mesmo transmitir o texto pelo telégrafo, e quem o receber poderá reconstituir todo o livro.
  É exatamente assim que os seres vivos se multiplicam. Em vez de pontos e traços, as proteínas que formam o organismo são codificadas em séries compostas por pares de bases nitrogenadas: Adenina-Timina, Guanina-Citosina. O conjunto forma a bela hélice dupla do DNA, em forma de escada torcida, que é capaz de duplicar-se, pela separação dos pares conjugados, como um zíper que se abre. Cada base solta absorve então do citoplasma as moléculas necessárias para formar seu par correspondente - incluindo os braços de açúcar e fosfato - e assim um zíper se transforma em dois, ambos com a mesma sequência de código do original.

  A mutação ocorre quando acontece um acidente, geralmente durante a duplicação, que provoca uma alteração definitiva no código genético. É como estática na transmissão do Morse - o texto fica truncado ou modificado.
  A maioria das mutações é neutra. Algumas são prejudiciais e umas poucas são benéficas. É aí que Darwin entra em campo e a Seleção Natural assume o papel de júri, juiz e carrasco. Mas essa história já foi contada pelo Jair.


  Se você achou esta matéria extensa ou indigesta, ponha a culpa no Jair. Ele saboreou a carne e deixou-me um osso duro de roer...


8 comentários:

  1. Barcellos,
    Obrigado por complementar (no sentido de atualizar) o texto que cometi sobre evolução. Tomei o cuidado de nem tentar incluir o "porquê" das variações genéticas, justamente para não correr o risco de me perder, o que seria normal numa matéria de tal complexidade. Como tenho um amigo e mentor bem mais articulado que eu: VOCÊ, fiquei esperando uma reação do porte do texto "Mutação". Mais uma vez agradeço e aproveito para dizer que é um ótimo texto, nada complexo. Gostaria eu de tê-lo escrito. Abraços, JAIR.

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  2. Deixa ver se entendi: a tese é de que as combinações tendem a assumir todas as configurações possíveis e depois as variantes que dão "certo", ou seja, as viáveis, tendem a se reproduzir, se aperfeiçoando com novas mutações "certas"?

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  3. Leonel, o texto que escrevi foi extremamente resumido, por ser um breve adendo à matéria do Jair. Pretendo elaborar uma metéria mais abrangente sobre as mutações, mas para não fugir da sua pergunta: a) a cópia ou duplicação do DNA produz normalmente outro DNA exatamente igual ao original; o DNA que tem o código "olhos negros" gera um DNA-cópia com o mesmo código "olhos negros". b) na combinação do DNA paterno "olhos negros" com o DNA materno "olhos verdes", um dos dois (chamado "dominante") assume o comando.
    Mas o aparecimento de códigos diferentes a partir de um ancestral comum (um único código) é provocado por mutações - que são raras em relação à quantidade de cópias que o organismo fabrica constantemente (algumas genéticas, no sistema reprodutivo, outras somáticas, na formação e regeneração dos demais órgãos). Somente as genéticas são transmitidas à prole.
    Um abraço.

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  4. Obrigado pelo esclarecimento. Supondo-se que um determinado fator (combinação de códigos)influencie a cor de um inseto que vive num ambiente de predominância verde: Se aparecerem aleatoriamente insetos brancos, amarelos e verdes, acredito que os predadores terão mais facilidade de localizar e caçar os brancos e amarelos, já que os verdes serão mais parecidos com a vegetação local. Assim, a descendência dos verdes acabaria por predominar, enquanto a dos outros tenderia a se extinguir, pois o fator genético que determina as cores "erradas" teria cada vez menos indivíduos para transmiti-lo, certo?

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  5. Certíssimo. Tanto é que vou roubar esse argumento para ilustrar minha futura matéria - com ou sem a permissão do amigo. Abraços.

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  6. Barcellos,
    Aproveito para fazer uma observação. A ciência admite que a maioria das mutações são NEUTRAS e não prejudiciais como você disse. Neste exato momento temos (eu e você), dezenas de mutações imperceptíveis em nosso organismo, ou seja, que não nos prejudicam nem trazem qualquer benefício.

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  7. Obrigado, Jair. Se "aliquando bonus dormitat Homerus" nós também temos direito a um cochilo, mesmo porque temos amigos atentos para nos cutucar na soneca. O texto foi corrigido. Valeu.
    Abraços.

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  8. Barcellos,
    Longe de mim querer cutucar o mestre se este dorme o justo sono dos que se exaurem a locubrar para o bem da humanidade. Contudo, como lembrei que tenho apenas três dentes incisivos na arcada inferior, onde deveriam existir quatro, e uma radiografia panorâmica revelou a inexistência de qualquer resquício que sugira uma oclusão, só posso atribuir essa ausência a uma "falha" no encadeamento genético que "esqueceu" de programar outro dente. Na mesma arcada também estão ausentes os últimos molares, coisa bastante comum na nossa espécie, mas, mais uma vez, a ciência sugere outra mutação inócua.

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