sexta-feira, 23 de abril de 2010

Armagedon

- Dizem que o poder de destruição do arsenal nuclear das grandes potências é suficiente para arrasar o mundo não sei quantas vezes. Não é bem assim: a energia liberada por terremotos, erupções vulcânicas e furacões excede em cada ano, por milhões de vezes, o total de megatons acumulados nos arsenais do mundo. Está aí o Eyj-seiláoquê, que não me deixa mentir.
- Acontece que as forças naturais atacam cegamente e geralmente deixam um saldo positivo na natureza, mesmo quando ceifam vidas humanas. As cinzas dos vulcões enriquecem o solo, os abalos sísmicos formam novos relevos, os fenômenos meteorológicos equilibram as diferenças climáticas.
- Já a arma atômica foi concebida com o único propósito de destruir. As ogivas têm endereço certo: locais de grande concentração humana e tecnológica. Por isso, é melhor dizer que uma eventual guerra atômica destruiria, sim, a civilização, mas não o mundo.
- E Gaia, após sacudir a poeira radioativa (em alguns milhares de anos, simples momentos para ela), voltaria à vida de sempre - e talvez melhor, sem a interferência desse acidente evolutivo que arrogantemente se autodenomina Homo Sapiens.
- Mas talvez tenhamos uma segunda chance. Após a destruição e o morticínio iniciais, o que restar da população humana continuará decrescendo, não só por conta dos efeitos da radiação residual, mas também pela falta absoluta de recursos tecnológicos, principalmente medicinais, dos quais nos tornamos cronicamente dependentes - remédios em geral, vacinas, antibióticos etc.
- E quando a Seleção Natural tiver descartado os menos aptos e talvez favorecido uns poucos mutantes positivos, é possível que surja uma nova humanidade, menos tecnológica e - com sorte - mais ajuizada. Resta saber se nela haverá lugar para gente como eu e você...

8 comentários:

  1. Barcellos,
    Excelente! Bem nessa linha de pensamento já produzi alguns escritos, nenhum tão contunde e claro como o teu, mas na mesma direção. Sem confetes, concordo com cada letra do teu texto. Arrisco dizer que populações isoladas ou semi, como algumas tribos ainda não contactadas da selva amazônica e tribos de aborígines que vivem no "Out Back" australiano serão os herdeiros desse mundo transformado em pré-histórico graças à incúria humana. Arrisco dizer que "eu e você" não seríamos contemplados para darmos seguimento à raça maldita que acabou com a organização social do Homo sapiens, somos menos aptos que gente chamada "selvagem".
    Produzi um texto bem ingênuo, "O Descobrimento", que é um retrato de uma possível ressurreição em outros moldes da civilização pós cataclismo atômico. Se puder encontrá-lo mando por email para você lê-lo, por que não tenho coragem de publicá-lo. Abraços, JAIR.

    ResponderExcluir
  2. Onde se lê "contunde", leia-se "contundente".

    ResponderExcluir
  3. Caro Barcellos, você captou bem as diferenças: a natureza é aleatória, ou seja, desperdiça todas essas descargas de energia de raios, terremotos, erupções vulcânicas, furacões e tsunamis, liberando-as indiscriminadamente pelo mundo afora.
    Já a raça humana, inteligente e objetiva, concentra como alvos prováveis as concentrações de tecnologia e recursos que sustentam a civilização.
    Assim, pode-se exterminar o que mais prejudica o equilíbrio do planeta, a raça humana, com menores danos ao planeta em si. Por isto mesmo, desenvolveram a tal bomba de neutrons, que elimina a vida causando o mínimo de danos materiais.
    No que diz respeito aos sobreviventes, eu prefiro não estar entre eles, pois fatalmente acabaria eliminado pelos meus companheiros de infortúnio, talvez para servir de alimento ou para poupar o alimento que seria dividido comigo...
    De qualquer forma, eu não suportaria viver num mundo sem internet...

    ResponderExcluir
  4. Barcellos,
    Publiquei algo que pode ser chamado de "texto solidário" ao teu. Abraços, JAIR.

    ResponderExcluir
  5. Leonel, com sua fina ironia socrática, você resumuiu todo o meu texto. E Jair, apreciei muito o seu "post" sobre o mesmo tema, apoiando minhas opiniões com a abalizada palavra de um acadêmico conceituado. Aguarde meu comentário lá.

    ResponderExcluir
  6. penso que sobreviver é instinto. acabamos nos apegando a qualquer esperança, ou chance, e resistimos. entretanto, em tais circunstâncias, - 'pós-mundo' - difícil avaliar se nosso instinto sobreviveria à resistência.






    ----@____

    ResponderExcluir
  7. Barcellos,

    a seleção natural não falha!!! É implacável e poderosa.
    seu post é um grande alerta! Estejamos preparados...

    Pergunto ao amigo onde poso colocar meus versos para as mães!

    Agradeço.

    ResponderExcluir
  8. Prazer em tê-la no meu minúsculo mini-micro-projeto, Graça. Por favor, ponha suas rimas em comentário ao "Post" Rimas para Mãe. Acho que o saldo final contribuirá para acordar algumas palavras para o seu grande mega-projeto. E receba meu abraço agradecido.

    ResponderExcluir