sexta-feira, 29 de abril de 2011

Dia do Ócio

     Neste dia primeiro de maio celebra-se em todo o mundo o Dia do Trabalho - dia em que ninguém trabalha, mesmo quando não cai num domingo, como acontece neste ano, para frustração dos adoradores e prosélitos de feriadões. Estes prefeririam que fosse na segunda; ou - melhor ainda - na terça, o que lhes permitiria exercer o sacrossanto e já institucionalizado direito do enforcamento, para melhora de sua auto-estima e piora das estatísticas de acidentes de trânsito.
     Não que isso faça muita diferença no dia-a-dia de várias repartições públicas, onde o expediente começa com um obrigatório "bom dia" ao chefe; e cumprido o ritual de puxar o saco do "alfa" da vez, dá-se início à confortável rotina de coçar o seu próprio, com as indispensáveis pausas para o almoço, os cafezinhos e os bate-papos. As fofocas descontraem o ambiente e os namoricos entre colegas de sexos opostos - mas nem sempre - também contribuem para estimular o agradável clima de trabalho.
     Eventualmente, para desfastio, pega-se um documento qualquer na bandeja "Entrada", lê-se o "De", o "Para" e o "Assunto", confere-se o último despacho (importante para não devolver o mesmo documento ao órgão de origem - há que se ser conivente com a coçação dos colegas, por uma questão de ética profissional) e despacha-se "Encaminho-vos para as providências cabíveis" para qualquer setor cujo chefe esteja de férias ou licença (com certeza vai parar na mão de algum estagiário). Agora é colocá-lo na bandeja "Saída" e retomar a coçação interrompida por tão nobre e relevante motivo.
     Às quartas, a preguiçosa rotina da semana é às vezes quebrada por uma REPONAN (REunião para PO*** Nenhuma de Alto Nível), convocada pelos insensíveis patrulheiros dos escalões superiores; o dia é cuidadosamente escolhido pelos gregos para não interferir nos elásticos programas particulares do fim-de-semana anterior, ou do seguinte. Mesmo assim, há troianos que reclamam que essa prática atrapalha os dois fins-de-semana.
    No final do produtivo expediente, puxa-se de novo o saco-mor, em despedida, e vai-se para casa com o peito repleto de orgulho cívico e a consciência tranquila do dever cumprido.
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     Ah, ia esquecendo. Se você mora do outro lado desta lagoa chamada Atlântico, e se é mãe - essa classe de gente extraterrestre que não conhece ou já esqueceu as doces benesses do ócio -  parabéns pelo Dia das Mães. Por aqui, estaremos esperando por mais uma semana, até que ele chegue - se não naufragar no meio da travessia, tanto mar, tanto mar...
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     E alguém por favor avise a Katinha que eu agradeço o convite mas não vou poder ir ao casamento dela. Sou um motorista responsável e fiquei sabendo que lá todo mundo dirige na contramão.

domingo, 24 de abril de 2011

O bullying

     Uma coisa é o "Jus legis", outra coisa é o "Jus mores". Traduzindo: de nada adianta a Lei Áurea enquanto o Zé, o Mané e a Maria continuarem sofrendo discriminação - ou infligindo-a ao Jão, ao Tonho e à Benedita. De nada vale a anistia "ampla, geral e irrestrita" se pruridos de injustiças sofridas no milênio passado continuam  a ser explorados política e comercialmente - ou pior: transmitidos às novas gerações acompanhados de uma mensagem que, em vez de pregar o "vamos evitar", diga "devemos nos vingar".
     Da mesma forma, a aceitação "legal" de minorias étnicas ou religiosas por uma sociedade não implica no resgate automático de sua dignidade social. O Zé, o Bastião e a Benta continuam malhando o Judas no sábado de aleluia e culpando a Raquel, a Ester e o Zebedeu pela morte de Jesus Cristo e do filho do Faraó. O Mané, o Jão e a Maria continuam pegando no pé do Chico, da Iara e da Iracema, por causa de seus olhinhos puxados e de sua pele avermelhada. E que dizer dos homossexuais, dos ciganos e de tantos outros?
     Esses grupos e povos têm sofrido uma espécie de "bullying" histórico, através dos séculos e dos milênios. Não admira que vários dos seus membros se mostrem hipersensíveis a certas manifestações culturais tidas como simples "tradições populares", ou a colocações de opiniões que, mesmo sendo corretas em sua essência, dêem margem a interpretações dúbias ou tendenciosas. Não é fácil conviver com esse tipo de "bullying", e não sei se há tratamento para isso. Lamento.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Páscoa

      Há quem zombe das Escrituras, há aqueles que lhes são indiferentes, há os que creem na verdade literal delas e há os que acham que elas devem ser interpretadas como uma coleção de mitos, lendas, alegorias ou registros imprecisos.
     Essa é a minha leitura do episódio narrado no Êxodo, relativo à origem da Páscoa. Não pretendo impô-la a ninguém.
    A Páscoa judaica (Pessach) ocorre em 14 de Nissan, 163 dias antes do início do ano judaico. Foi instituída na época de Moisés, em comemoração à libertação do povo de Israel, escravizado no Egito. Pessach quer dizer passagem, e alude à passagem da escravidão à liberdade, depois que a arrogância do Faraó (que se autoproclamava deus do Egito) levou-o a desafiar dez vezes o próprio D'us (adoto aqui esta grafia em respeito aos que a usam).
     Apesar dos avisos que lhe foram seguidamente dados por Moisés e das pragas que sucessivamente se abateram sobre o povo, o Faraó persistiu em sua atitude, o que culminou na morte dos primogênitos egípcios, incluindo o herdeiro do próprio Faraó. Só então este concordou - com relutância - em libertar os hebreus.
     Agradeço à minha amiga Regina Rozenbaum, a quem submeti a versão original desse texto, o ter-me chamado a atenção para o fato de que as "explicações" que ligam o "Pessach" à passagem de um anjo exterminador, embora condizentes com os textos bíblicos, dão margem a uma interpretação equivocada, como se a responsabilidade pelo triste acontecimento devesse ser imputada a um povo escravizado e não à impiedade de seus escravizadores.
     Não admira que o 14 de Nissan marque tão profundamente o povo judeu. A passagem de um povo inteiro da servidão à liberdade marca, verdadeiramente, o nascimento de Israel como nação - não apenas como simples povo. E mesmo tendo sofrido invasões, ocupações, expropriações, perseguições, diásporas e o maior genocídio já perpretado na história, Israel permaneceu coesa desde então, ostentando entre suas bandeiras o louvor à liberdade e o repúdio à escravidão.
     Já a Páscoa cristã marca a ressurreição de Cristo. Segundo os Evangelhos, esta teria ocorrido no domingo logo após a festa do "Pessach", daí a confusão entre as duas festas.
     Como o calendário judaico é lunissolar, ou seja, parcialmente baseado nas fases da lua, essa data varia de ano para ano. É uma festa móvel, que serve como base para outras datas, como a da quarta-feira de cinzas (que leva a reboque o carnaval).
     Em 325, o Concílio de Nicéia estabeleceu normas para a festividade, mas subsistiram dúvidas quanto ao cálculo da data. Naquela época de intolerância religiosa "oficial", muitos queriam evitar que as celebrações cristãs coincidissem com as judaicas.
     Quando Gregório XIII corrigiu o calendário, no século XVI, publicou no Decreto "Inter Gravissimas" normas para o cálculo da data: seria o primeiro domingo depois da lua cheia que ocorre em ou logo após o equinócio de primavera no hemisfério norte (20 ou 21 de março). A data da lua cheia é a definida nas Tabelas Eclesiásticas, que, sem serem matematicamente precisas, fornecem uma aproximação suficiente para esta finalidade.
     De acordo com essas regras, a Páscoa nunca acontece antes de 22 de março nem depois de 25 de abril. A quarta-feira de cinzas ocorre 46 dias antes da Páscoa (período da quaresma).
     Ora, neste ano o equinócio aconteceu em 20 de março, às 23:21 UTC (20:21 em Brasília); e como a lua cheia tinha ocorrido na véspera, foi preciso esperar mais 29 dias pela próxima. E esta veio na última segunda-feira, causando uma espera extra de seis dias...
     A data da Páscoa (até 2022) é:
     2011 Abril  24   -   2012 Abril 8   -   2013 Março 31
     2014 Abril 20   -   2015 Abril 5   -   2016 Março 27
     2017 Abril  16   -   2018 Abril  1   -   2019 Abril 21
     2020 Abril 12   -   2021 Abril 4   -   2022 Abril 17
     As igrejas ortodoxas usam para a data da Páscoa o calendário juliano e não o gregoriano. Em toda a cristandade, as festividades começam na quinta-feira anterior (quinta-feira santa), prosseguem pela sexta-feira da paixão, continuam no sábado de aleluia e culminam no domingo de Páscoa.
     Na quinta-feira santa, dia de endoenças (indulgências), a Igreja celebra a instituição da Eucaristia, relembrando a última ceia de Cristo com seus apóstolos (que foi uma celebração do "sêder de Pessach"). Os bispos consagram o óleo de oliva misturado com perfume (bálsamo) que será usado nas ocasiões de Batismo, Crisma e Unção dos Enfermos. A cerimônia do lava-pés - que rememora o gesto humilde de Cristo purificando os pés de seus seguidores - é muito difundida no Brasil.
     Na sexta-feira santa, ou Sexta-Feira da Paixão, relembra-se a traição do Iscariotes, a prece de Jesus no Jardim de Getsêmani, sua prisão, julgamento, suplício e cruel execução. Fica claro, nos evangelhos, que Jesus foi vítima de um julgamento romano, por magistrados romanos, segundo a lei romana e sofreu execução romana; o Sinédrio judeu poderia tê-lo condenado à morte por lapidação (apedrejamento), mas nunca por crucificação.
     O Sábado de Aleluia é o último dia do tríduo pascal, e é um dia de expectativa e vigília. É também o dia em que uma antiga, curiosa e controvertida manifestação popular acontece: a "malhação do Judas".
     Finalmente, o Domingo da Ressurreição é festejado como a celebração máxima do cristianismo. É a vitória da Vida sobre a Morte, do Bem sobre o Mal.
     Os costumes variam de país para país. Além dos instituídos pela Igreja (dias de guarda, de jejum e de abstinência), incluem tradições locais ou "importadas", quase todas com origem em festividades pagãs relacionadas à comemorações do Equinócio (início da primavera, no hemisfério Norte), principalmente as de origem germânica. O coelho, símbolo de fertilidade, e o ovo, significando a renovação da vida, são os mais conhecidos. O almoço festivo do Domingo também não pode faltar.
     Boa Páscoa, amigos... a todos nós.

domingo, 17 de abril de 2011

Solidão


Quando olho ao meu redor e não te vejo,
Quando busco em minha alma e não te acho,
Isso é solidão.
Se a memória de teu riso em mim fenece,
Se o sabor de tua boca me esquece,
Isso é solidão.
Se não pressinto ao longe teu perfume,
Se não há alvos para o meu ciúme,
Isso é solidão.
Se meu corpo sente falta do teu corpo
Ou tateia no vazio a minha mão
Isso é solidão.

Solidão é quando o verso flui dolente
É quando, mesmo em meio a tanta gente,
Não encontra um carinho o coração.
É quando o tempo passa, indiferente,
É quando um outro eu, louco, demente,
Mergulha em profunda escuridão.
É quando os pesadelos da infância
Retornam distorcidos na distância
E à noite nos assaltam sem perdão.
É quando as orações são gritos roucos
Que vão silenciando bem aos poucos
Cansadas de não terem solução.
É quando a razão faz ouvidos moucos
E a pena do poeta, em versos loucos,
Destila em sangue a dor da paixão.

Faço planos pra um passado que não houve,
Com saudades de um futuro que não vem;
Emudeço ante o amor que não me fala,
Fico surdo ao amor que não me ouve,
E encontro indiferença onde não tem.
Oscilando entre a falsa realidade
E a mentira verdadeira que não há,
Vaga perdida minha mente cega,
Nesta louca racionalidade,
Nesta equilibrada demência,
Nas virtudes do demônio,
Nos pecados da inocência.

Volta! Resgata-me do presente!
Vem do passado e quebra a corrente
Que o Tempo impõe-me, em sua servidão!
Liberta-me da mesma liberdade
Que usei com tal infelicidade
Para algemar-me nesta vã paixão!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Natal triste

     Dezembro de 1961. Faltando uma semana para o Natal, meus irmãos e eu fazíamos planos para arrecadar dinheiro - o suficiente para podermos adquirir ingressos para assistir ao maior espetáculo da época, algo comparável à apresentação de um U2, Rock in Rio ou outro megashow equivalente.
     O Gran Circus Norte-Americano anunciava, entre atrações inéditas, uma nova lona de cobertura, em "nylon", capaz de proporcionar um ambiente fresco, mesmo naquele clima canicular. Nenhum de nós sabia o que era "nylon", mas sabíamos bem o que eram trapezistas, saltimbancos, domadores, e os cartazes - os "reclames" - já naquela época cumpriam sua função de aliciar consumidores aos milhares.
     Tanto assim que os ingressos haviam se esgotado rapidamente para as primeiras apresentações. Os irmãos, frustrados, resignaram-se a adiar sua aventura para a semana seguinte, e saíram para espairecer.
     Naquela tarde de domingo, o Gran Circus pegou fogo. Mais de 300 vítimas (o número subiu depois para cerca de 500), a maioria crianças, pereceram queimadas sob toneladas de lona altamente inflamável ou pisoteadas pela multidão em pânico. E nós, ao chegarmos em casa, fomos recebidos com uma mistura de xingamentos, abraços, lágrimas, puxões de orelhas e beijos, tal como nunca tivéramos antes.
     Niterói não se esquecerá daquela semana. Faltavam leitos nos hospitais. Faltavam médicos e enfermeiros. Faltavam macas, ambulâncias, rabecões. Faltavam mesas e gavetões no IML.
     Faltavam medicamentos para tratar tantos queimados. Algum iluminado lembrou-se das propriedades fitoterapêuticas da bananeira, e meus irmãos e eu passamos aquela semana cortando folhas, cachos e pedúnculos de bananeiras, abundantes na vizinhança, que eram transportadas para os hospitais, onde as folhas eram usadas como compressas ou lençóis e a seiva como medicamento tópico.
     Faltava gelo. Todos os que tinham uma geladeira passaram a semana fabricando gelo para atender à demanda. Mamãe não tinha braços a medir.
     Faltavam soros e bebidas hidratantes para os feridos. Minhas irmãs juntaram-se a um grupo de meninas que, num balcão improvisado nas proximidades do Hospital Antônio Pedro, fazia litros e mais litros de laranjada.
     Faltavam caixões. O estádio Caio Martins foi tranformado em fábrica de caixões, onde os poucos marceneiros disponíveis trabalhavam vinte horas por dia, orientando voluntários no triste mister.
     Faltavam sepulturas. Faltavam coveiros. Faltavam sacerdotes.
     Faltavam cemitérios. Esgotada a capacidade do Maruí, foi finalizado às pressas, no município vizinho de São Gonçalo, um novo campo santo - o Cemitério de São Miguel.
     Não me lembro de ter perdido algum amigo na tragédia; minha irmã mais velha se lembra da Lenira, que sobreviveu mas ficou com horríveis cicatrizes. Só quando as férias findaram, ao retornar ao colégio, foi que me dei conta, nas conversas com colegas, da dimensão do ocorrido.
     O incêndio tinha sido criminoso. O autor agira por vingança, e fora identificado e preso. Era um desequilibrado mental, Adilson Marcelino Alves, que foi misteriosamente assassinado em 1973, logo após fugir da prisão.
     O terreno calcinado onde se erguera o circo ficou abandonado durante algum tempo, até que um indivíduo resolveu aproveitá-lo. Plantou uma pequena horta e vivia fazendo a travessia Niterói-Rio e vice-versa, anunciando-se como profeta. Esse homem ficou conhecido mundialmente após inscrever seus ensinamentos nas pilastras  dos viadutos do centro do Rio. Sua frase mais conhecida: "Gentileza gera gentileza".
     Ainda hoje há quem busque parentes que desapareceram naquele dia. Pelo que sei, alguns restos não identificados jazem ainda no Cemitério do Maruí.
     Confira detalhes da tragédia em:
http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=6385
     E sobre o valor da seiva da bananeira no tratamento de queimaduras:
http://www.syntonia.com/textos/textossaude/textosfitoterapia/queimaduratratadacombanana.htm
     Em dezembro serão passados 50 anos. Como não é ano eleitoral, creio que estaremos razoavelmente a salvo de pronunciamentos hipócritas. Mesmo assim, acho que as autoridades municipais deveriam programar alguma coisa - um memorial ou capela no local da tragédia, uma cerimônia ecumênica e, principalmente, uma tentativa séria de identificar os restos que porventura ainda existam, pelo uso de técnicas mais modernas e com o apoio das pessoas que ainda buscam seus entes queridos, desaparecidos há tanto tempo. Com a palavra, o Sr. Jorge Roberto Silveira.
     Com ou sem tais providências, muitos se lembrarão em silêncio, e em silêncio farão suas orações. E depois?
     Depois, a vida continua...

terça-feira, 12 de abril de 2011

Gentileza


     Muitos dizem que José Datrino, o famoso "Profeta Gentileza", abandonou sua vida de empresário de sucesso e sua família de mulher, cinco filhos e dezoito netos após a tragédia do "Gran Circus Norte-Americano", em 1961, quando tinha apenas 45 anos de idade, para dedicar-se ao messianismo que marcou sua vida. Mas não é bem assim que eu e meus irmãos nos lembramos. Já em 1958, como um mendigo sujo, maltrapilho e mentalmente perturbado, ele assustava as alunas do Colégio S. Vicente de Paulo, em Niterói, ameaçando com o "fogo do inferno" aquelas que usavam uma saia um pouco mais curta, deixando entrever meio joelho, ou um penteado mais moderninho. Minha irmã Dôra foi vítima destes episódios, que nunca passavam dessas ameaças.
     Após o incêndio (criminoso) do Gran Circus, ele se instalou no terreno calcinado, onde ergueu um barraco e plantou uma horta e um jardim. Dedicou-se a consolar os familiares das vítimas.
     Alguns anos depois, começou a perambular. Costumava pegar uma das primeiras barcas para o Rio, mas não desembarcava; ia e voltava diversas vezes, ao preço de uma única passagem, pregando aos passageiros, angariando "donativos" e anunciando o fim do mundo. Foi então que ele cunhou seu famoso bordão - gentileza gera gentileza - e por isso passou a ser conhecido como "Profeta Gentileza"; mas nunca deixou de vociferar contra os trajes femininos mais liberais - calças jeans, vestidos curtos ou muito justos, decotes um pouco mais ousados etc.
     As inscrições nos pilares dos viadutos da área central do Rio, feitas a partir de 1979 ou 1980, aumentaram-lhe a fama, e hoje são patrimônio do município. Durante aquela fase, a barba já longa, costumava vestir-se com uma túnica branca.
     Era, sem dúvida, inteligente e possuía alguma instrução. Perseguia com tenacidade seus objetivos e, antes de mudar sua vida, chegou a possuir alguns caminhões, o que lhe valeu a fama de "empresário".
     Alguns dizem que ele perdera filhos no incêndio; outros que ele afirmava ser pai de cinco filhos, "três femininos e dois masculinos, não perdi ninguém no incêndio do circo".
     Alguns detalhes interessantes podem ser obtidos em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Profeta_Gentileza
     Nasceu em Cafelândia - SP, em 1917, com o nome de José Datrino. Desde pequeno, quando ajudava a família vendendo lenha em carroças, tinha visões do que chamava "sua missão".
     Faleceu em Mirandópolis - SP, em 1996.
     Uma interpretação mais espiritualizada está em:
http://observadorespirita.blogspot.com/2008/03/jos-datrino-o-profeta-gentileza-o.html
     Louco ou iluminado? Empresário ou mendigo? Não sei. Mas talvez estejamos vendo um dos raros casos em que o tempo inverte sua marcha e a realidade se transforma em sonho.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Primeiro mundo

     Dez da manhã. Ligo a TV, meio desanimado... mas extraio a fórceps um resto de otimismo e tento convencer-me de que o noticiário não me trará novidades piores que as veiculadas nos últimos dias.
     Fujo da Ana Maria Braga e do ridículo Louro José, passo de passagem pela Rede TV e pela Band, salto os desenhos do SBT e tropeço estarrecido no noticiário da Record.
     Tiroteio dentro de uma escola, em Realengo. Dez mortos. Ouço agora que já são treze (10:36). Mais de vinte feridos. Crianças, estudantes. Palco, o próprio colégio onde estudavam.
     Desliguei a TV. Mais tarde, quando minha incredulidade se traduzir em indignação, tentarei inteirar-me dos detalhes. Agora só consigo sentir-me como se carregasse nas costas toda a maldade do mundo.
     Será que chegamos ao primeiro mundo? Se for assim, quero mudar-me para a África.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Onze Damas

     Dama da Noite é o nome popular de várias espécies de flores noturnas - na maioria cactáceas. Rainha da Noite, Princesa da Noite e Flor da Lua são outras variantes do mesmo nome.
     No dia 4 de abril de 2010, o Sete Ramos publicava, sob o polêmico título "Rainha ou Piranha?" as curiosas circunstâncias que haviam elevado - ainda em dezembro de 2003 - uma bela flor noturna ao status de rainha, e também, poucos meses depois, a sua deposição do alto cargo e o banimento para um canto esquecido do meu pequeno mundo, sob a injusta acusação de ser vulgar, após uma segunda floração inteiramente fora das normas. Você pode conferir em
Primeira floração. Uma única flor, em noite de lua cheia, conforme o protocolo.
http://seteramos.blogspot.com/2010/04/rainha-ou-piranha.html

Terceira floração, em abril de 2010
     Mas apenas nove dias após, uma nova matéria informava a anistia total e irrestrita da indigitada e sua solene restauração ao antigo status de dama da corte. Esse capítulo da novela está em 


http://seteramos.blogspot.com/2010/04/fechei-meu-post-do-ultimo-dia-4.html

     Um ano se passou. Em fins de Março, a exuberante criatura - que nunca ultrapassara antes o número de duas flores - me deu um susto, ao apresentar-se à corte ornada com quatorze botões!
     Desses, 11 vingaram, florescendo 6 na primeira noite, 4 na segunda e um na terceira.
Quarta floração, abril de 2011. Seis botões se abriram na primeira noite,
e mais alguns podem ser vistos ainda fechados  O Ás de espadas
dá uma idéia do tamanho das flores.


     A minha dama tem pedigree: seu nome de família é Epiphillum Oxypetalum, nativa de nossas plagas. É polinizada por mariposas e outros insetos noturnos, ou mesmo por morcegos. A flor só dura uma noite.
     E tem vários primos e primas:  o mandacaru nordestino, alguns cactos mexicanos, a pitaya (muito parecida com minha Rainha) e mesmo uma solanácea arbustiva muito conhecida no Brasil pela fragrância de suas flores noturnas.

     Nota: Em protesto contra a brincadeira de mau gosto do amigo Xatto, o Sete Ramos de Oliveira estará boicotando seus blogs nos próximos dias. O prazo do boicote se encerrará no próximo dia 8, às 08:38, quando se apagar a vela (acendida com a melhor das intenções) em
http://www.portalangels.com/altar_virtual/altar.php?id=2865#1916088
     "Pode-se brincar com os amigos, mas não se brinca impunemente com o sentimento da amizade."
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     Nota (6 de Abril) - CONSIDERANDO que o boicote já produziu os resultados esperados e atendendo aos apelos de amigos em comum, é com prazer que retorno  ao convívio diuturno com meu amigo Titan Xatto - ou melhor, Xipan Tatto.
- Os dois dias restantes serão estornados como crédito para a próxima brincadeira de mau gosto.
- Abraços, Tatto.