domingo, 31 de julho de 2011

Ma 31 de Julho


     Julho tem esse nome em homenagem a Júlio César, reformador do calendário, que desafiou a lei romana, quando general, atravessando com suas legiões o rio Rubicão - ocasião em que pronunciou a célebre frase "Alea jacta est" (a sorte está lançada). E Régulus é a principal estrela da constelação do Leão.



A DATA:
Ao fechar-se o mês de nome do romano
Que impávido cruzou o Rubicão
E à sorte o grande Império italiano
Conquistou e governou com retidão;


O SIGNO:
Quando Régulus hesita em seu brilhar
Por Apolo estar na cova do Leão,
Reunindo Terra, Água, Fogo e Ar
Em obras-primas feitas por tua mão,


A FESTA:
Que hajam festas e sorrisos de alegria
Nesta data luminosa, alvissareira,
Pois que hoje festejamos o teu dia.


A PESSOA:
Ó tu, mãe, mulher, artista por inteira, 
Bela deusa, que do barro a arte cria,
Recebe hoje nosso preito, Ma Ferreira!

     Niterói, 31 de julho de 2011
     Rodolfo Barcellos

Imagem: Josephine Wall (direitos reservados)
Uso não comercial conforme http://www.josephinewall.co.uk/licensing.html

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Saudade

Quatro pequenos ensaios sobre a saudade
I
Se um dia tua saudade me deixar
Meu peito explodirá em dores mil;
Pois certo minha alma irá chorar
Saudades da saudade que partiu.

II
Um poeta, na verdade,
No fundo do peito seu,
Sofre até com a saudade
Da saudade que morreu.

III
Sem saudade, sem tristeza,
Sem dor ou sem agonia,
Poetas não haveria,
Nem poetisas, com certeza.
Sem sonho, sem fantasia,
Sem saudade, sem beleza,
Não haveria poesia,
Só haveria tristeza.
Nem poetisa haveria,
Nem poeta, com certeza.

IV
Todos dizem que a saudade
É alimento do poeta;
Mas se isso for verdade
Eu quero é fazer dieta!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Em Verso e Prosa


DÉYA em Verso

Tu deste ao teu número um
O mesmo destino que ao três;
O treze ao contrário se fez,
E hoje se lê trinta e um;

O dois, pela segunda vez
Dá quatro - veja isso agora:
Quatro são os noves-fora
Dos números um e três!

Se o três e o um deram bolo,
No bolo estão espetados
Entre aplausos e améns;

E lhes sirva de consolo
O poderem ser queimados
Ao cantar dos parabéns.

Rodolfo Barcellos


DÉYA em Prosa


Hoje tem festança pra celebrar o aniversário da moça de sorriso faceiro, lá em Goiás. Aquela que me enche de alegria quando reage a qualquer besteirol de minha parte dizendo: “e eu pensei que não iria conseguir sorrir hoje”, aí me lança um montão de “kkkk”. Aquela de quem me sinto tão próxima, embora a geografia nos distancie. A moleca brincalhona que se perdeu por um tempo da felicidade, mas aos pouquinhos vai tirando os gravetos do caminho e se redescobrindo junto com ele. A mulher corajosa. Grudou em si uma cria alheia, feito as mamães-preguiça fazem com seus filhotes e nunca mais largou, se fazendo a melhor mãe jamais imaginada ao pequeno ser. Moça dos sentimentos vermelhos feito carmim, do amor imensurável, da dor que dói até se gastar por completo, corroendo tudo por dentro, matando a vontade de viver... E de repente se faz outra vez fortaleza. E de novo luta. E de novo ama. E o olhar doce renova o brilho... E a vida fica mais alegre por recebê-la de volta...

Hoje ela está acampando. Riu-me muitos “kkk” porque eu falei que acampar deve ser bacaninha, principalmente se tiver banheiro e uma cama. E como não posso abraçá-la com meus braços fofos, abraço-a em palavras, em bons sentimentos e pensamentos e faço de lindas nuvens minhas mensageiras pra lhe dizerem do prazer imenso que sinto em compartilhar com ela dessa criação maravilhosa chamada amizade.

Há exatos 31 anos, fez-se a Déya... Que dia feliz!


Milene Lima


FELIZ ANIVERSÁRIO, DÉYA


Milene e Rodolfo

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Sebinho e a Bailarina

O Pinheirinho, a Bailarina e o Sebinho (no detalhe, abaixo)

Um voo vertical, do galho mais baixo do Pinheirinho até
a Bailarina, carregando material de construção.
     Já faz alguns anos que o Sebinho - chamado também de Caga-sebo - adotou esta samambaia como residência. Quando chega o inverno, o bichinho trata de reconstruir ou reformar seu ninho; e na primavera, aparecem dois ou três filhotes.
     O simpático bichinho (acho que é um casal), que parece uma miniatura de bem-te-vi, deve ter outros apelidos por esses Brasis afora; é ao mesmo tempo confiado e arisco, e eu tive sorte em poder capturar essas imagens.



Samambaia, a Bailarina,
Que ao beijo da brisa inclina
O saiote, a rodopiar,

Hoje acolhe em seu vestido
Um hóspede que embevecido
Vai construindo seu lar.


Um Caga-sebo atrevido,
Um Bem-te-vi encolhido,
Um Sabiá no cantar.

E quando este inverno frio
Der lugar a novo estio
Os filhotes vão voar.

Dança, doce dançarina!
Dançar é a tua sina,
Não te canses de valsar.

Samambaia Bailarina,
Sou louco por ti, menina,
Contigo aprendi a amar,

Tal qual amas o Sebinho,
Esse ingênuo passarinho,
Que não se cansa de amá-la;

E que hoje tem seu ninho,
Feito com tanto carinho,
No teu vestido de gala.
Preparando-se para a subida

quarta-feira, 20 de julho de 2011

De Piupiu


     É no inverno que se planta a seara que nos alimentará na próxima safra. Assim também, é nos tempos difíceis que se reconhece e se consolida a verdadeira amizade.
     Chamemo-lo Sargento T. Inteligente, alegre, bom amigo e companheiro, benquisto entre os colegas, admirado pelos subordinados, respeitado pelos superiores, tinha uma facilidade incomum para ler e interpretar o inglês técnico dos manuais - "Technical Orders" -, ferramentas indispensáveis ao bom desempenho de nossas atividades.
     Quando surgiu a oportunidade para um curso de aperfeiçoamento nos Estados Unidos, seu nome foi colocado naturalmente no topo da lista. Eu e mais dois colegas fomos também convocados. Mas havia uma questão a ser resolvida: o tal curso exigia fluência não só no ler e escrever, mas também no entender e no falar.
     Nós quatro, otimistas e esperançosos, matriculamo-nos no Yázigi para um intensivão de "conversation". E foi aí que apareceu o calcanhar de Aquiles do Sargento T. Ele simplesmente não conseguia, por mais que se esforçasse, articular com clareza os sons mais comezinhos em inglês. O "t" de "team" saía chiado, como o de "titio" no sotaque de bom carioca que era...
     Bem que a jovem e simpática mestra tentou, mas não teve jeito. E os demais alunos em nada ajudavam, fazendo piadinhas e dando risadas a cada tropeço do nosso amigo.
     Uma tarde, num esforço desesperado para superar o problema, a professora selecionou uma série de frases, e começou a pronunciá-las, uma a uma, fazendo com que T as repetisse e corrigindo-o quando necessário. Parecia que estava funcionando, até que a mestra propôs uma frase um pouco mais elaborada:
     "- The pupil meets the teacher in the church."
E T ecoou, em alto e bom som:
     "- DE PIUPIU MITISDE XIXA ENDE XUXA!"
     Baixemos misericordiosamente o pano sobre o resto da cena.


     Nota: o tal curso no exterior acabou em nada... menos mal.

sábado, 16 de julho de 2011

Pretextos


     Mogúncia, 1450. As Guildas Municipais reuniram-se com representantes da nobreza, do clero e do comércio local, para discutir a nova e revolucionária invenção do Sr. Gutemberg: a Imprensa.
     O burgomestre abriu a sessão, e convidou o inventor a mostrar um exemplar da Bíblia, produzido pelo novo método. Gutemberg, apresentando  um grande volume, argumentou que o processo permitiria a publicação de cópias perfeitas, em grande número e a baixo custo.
     Os edis trocaram idéias, buscando determinar como aquele método inovador de fabricação em série de livros iria influenciar a rotina sossegada da província.
     De imediato, a Associação de Escribas e Copistas apresentou argumentos contrários à adoção da novidade, mostrando projeções estatísticas que apontavam o grave risco de desemprego massivo da classe se a invenção vingasse. Recebeu prontamente o apoio da Corporação dos Ilustradores e Iluminadores.
     Discursou em seguida o Núncio, representante da Igreja, condenando "aquela invenção demoníaca" que, sob as vestes do Livro Sagrado, "subvertia os valores intrínsecos" que o fervor e a  humildade dos monges copistas transmitiam a seus escritos, "com a bênção do Senhor".
     Os representantes da nobreza, em dúvida, requisitaram assessoria especializada. Queriam determinar o impacto da novidade na arrecadação de tributos e taxas. A "Incubadora de Empresas" da Universidade de Mainz, pela voz do seu Reitor, deu parecer contrário ao projeto, pois a alegada onda de desemprego teria efeitos negativos na tributação. Mais contundente ainda foi o laudo do SEBRAE: o projeto não atingia os níveis mínimos de auto-sustentabilidade, pois em uma população com índice de 95% de analfabetismo, não haveria procura suficiente para viabilizar o consumo mínimo necessário - a margem de lucro seria negativa.
     Finalmente, o IBAMA enterrou de vez as esperanças de Gutemberg: a análise do Relatório de Impacto Ambiental evidenciava alto grau de risco para as florestas da região, pela exploração da madeira necessária à fabricação de papel...
     Por sorte, esta é uma historinha de ficção. Mas às vezes tenho receio de que a realidade atual esteja ficando muito parecida com ela.

domingo, 10 de julho de 2011

Poetismos


     Em Arte, e principalmente tratando-se de Poesia, não sou amigo - e pouco entendo - de "ismos". Classicismo, Romantismo, Impressionismo, Expressionismo, Surrealismo, Simbolismo... prefiro falar em "Poesia Clássica" e "Poesia Moderna". Quem quiser se aprofundar no assunto, faça sua pesquisa ou visite o Balaio da Si.
     Houve tempo em que, ao ler um poema dito "de vanguarda", eu ficava cheio de dedos para falar sobre ele... porque ele não me dizia coisa com coisa. Que mania que têm esses poetas vanguardistas de usar hipérboles, jogos intrincados de palavras, alegorias nebulosas, metáforas inescrutáveis, figuras de pensamento exóticas... e eu, quando perguntado, para não passar por ignorante dava uma opinião neutra - ou seja, vazia de conteúdo.
     Bem, com o tempo aprendi que esse tipo de poesia é como um quadro de Picasso: busca transmitir diretamente emoções e não mensagens sobre elas, que devem passar pelo crivo mental da análise e da interpretação. E cada leitor vai reagir de modo diferente, conforme se sentir tocado (ou não) pelo verso do poeta.
     Não se sinta, amigo, frustrado - e muito menos ignorante - quando não entender o sentido de um poema moderno. Eu entendo às vezes e às vezes não entendo. E não esquento a cabeça, pois sei que o que eu entendo ou não entendo hoje é diferente do que entenderei ou deixarei de entender amanhã.


     Uma criança olha o famoso Guernica, de Picasso, e pensa: "Eu desenho melhor que esse cara".
     Volta anos depois, já adolescente, e sente uma angústia profunda e inexplicável ao contemplar a mesma obra.
     Tempos passados, forma-se em História. E ao aprofundar-se sobre a Guerra Civil Espanhola, pensa ter decifrado o enigma do grande painel.
     Já adulto,  lendo ao acaso a biografia de Picasso, inteira-se da famosa resposta do pintor ao oficial nazista que o interrogava. E vê a obra com uma profundidade nova e pungente.
     E cada uma dessas reações é válida... pois é baseada em emoções.
     É assim a poesia moderna. Só que, em vez de traços e cores, usa palavras e expressões para obter um efeito similar.
     Mas... como prometi à amiga Lu, deixo aqui em versos a impressão que me trouxeram os capítulos do seu "Re(cantos) de Mim". Tentei obedecer à ritualística da poesia de vanguarda, mas não garanto nada - amanhã provavelmente os lerei com outros olhos. E afinal meu melhor estilo de versejar ainda é do tipo "Batatinha quando nasce"...


Poema em Oito Recantos


     Recanto I - Pérolas de Maresia
     Emoções e sentimentos vividos pela poetisa são aqui retratados como praias e oceanos, caramujos e conchas marinhas. 
Meus passos traçam linhas paralelas
Na areia molhada, com os teus;
E lá nossos rastros ficarão pela eternidade
Que existe entre duas marés cheias.


     Recanto II - Lágrimas de Prata
     Os sentimentos e emoções transcendem agora os limites do oceano e assumem um caráter mais sensual, abarcando o tempo e o espaço, espalhando-se por todo o universo.
Encho a taça do desejo, a transbordar,
Com a espuma dourada da lua crescente. E brindo.
E tu brincas com Órion, cabra-cega e amarelinha...
Brindo à tua beleza. E rezo a Urânia para que atrase
O cometa em que iremos retornar.
E brindo.


     Recanto III - Vitrais
     É o recanto central da alma da poetisa. Cada poema é um brinquedo, um objeto de decoração, disposto em torno de Cynthia.
Cacos coloridos,
Cristais colados,
Caleidoscópio cintilante,
Cantos cortados,
Coplas quebradas,
Cercam o centro do
Capítulo:
Cynthia.


     Recanto IV - Solstício de Verão
     Pedaços de sonhos, pontes fugidias entre o real e o imaginário, desejos e esperanças...
Lembranças do que nunca foi.
Saudades do que nunca virá.
Vivências do que nunca é.
Assim és tu.
Fadas e duendes.


     Recanto V - Abismos
     Encontros e desencontros, encantos e desencantos entre mulher e homem, paixão, ternura, dor...
Do conúbio raro entre o juízo e a loucura,
Do incesto místico entre o sonho e a fantasia,
Da aliança espúria entre o amor e o sexo,
Nasce, nua e crua,
A realidade.


     Recanto VI - Alquimias
     O pecado da gula é aqui descrito tão realisticamente que este recanto foge ao "modernismo" que tempera toda a obra. Mas afinal, o paladar é um dos cinco sentidos... e pode também desencadear diferentes emoções...
Ela estava em dietas
Ou grávida do poema maior.
Desejos divinos,
Fome fecunda,
Prenhe de versos!


     Recanto VII - Menina dos Olhos
     Prossegue e cresce a saga do Recanto III, agora com ênfase na transformação dos sonhos em realidades e na cristalização das expectativas.
Suspensa nos sonhos,
Ausente do Espaço,
Perdida no Tempo,
Nasce e reluz
Tua verdadeira Luz.


     Recanto VIII - Sinfonias
     A poetisa tece aqui uma colcha de retalhos, como um "pot-pourri" de breves trechos das emoções anteriores. Como se as reminiscências dos acontecimentos do dia desfilassem confusamente ante nossa consciência, quando o sono vai chegando.
Repetem-se as tocatas
Em doce diminuendo
Em notas soltas, livres
Gran finale!


     Se o leitor amigo tiver a oportunidade de ler o "Re(cantos) de Mim", certamente terá reações emotivas diferentes das minhas. É assim mesmo; mas aposto que serão tão ricas como foram as minhas. Quanto ao valor literário da obra, é assunto para os "istas". Eu sou apenas um poeta. Um poeta menor.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

No Afélio


     Conta-nos Júlio Verne, em "Heitor Servadac" (c. 1876), que um cometa (na verdade, um asteroide) havia roçado a Terra, na região do Mediterrâneo, levando com ele pequenos pedaços da Argélia e de ilhas da região. Algumas pessoas foram levadas junto; mas o asteroide tinha uma órbita de exatos dois anos, e após uma excursão forçada pelo Sistema Solar os viajantes tiveram a oportunidade de retornar à Terra.
     Bem, com uma órbita sincrônica de dois anos, não admira que o mesmo corpo celeste tenha tido outros encontros com nosso planeta. O último parece ter sido exatamente há um ano, quando o asteroide, em seu periélio, arranhou de leve o Rio de Janeiro e levou, virtualmente, o nosso amigo Leonel.
     Hoje esse asteroide está alcançando seu afélio, próximo a Júpiter, e em mais um ano estará de volta às proximidades da Terra.
     Segundo Júlio Verne, o asteroide é de ouro. E a Nasa informa que a Atlantis está incumbida de observar a passagem do asteroide do Leonel pelo afélio.
     Pois nos próximos 12 meses, ele se aproximará mais e mais de nós, em velocidade crescente; e daqui a um ano poderemos festejar mais uma efeméride: o periélio e o inevitável encontro com a Terra deste asteroide de sonho. Que, esteja onde estiver, estará sempre em nosso pericárdio.
     Parabéns, amigão!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Acácia

     Amiga recente, mas já muito querida, a Débora veio há algum tempo pedir-me - também em nome da Ana Letícia - um escrito para homenagear a Acácia, do Blog "Acácia Azevedo Studio Pottery", em comemoração ao primeiro aniversário do blog e à iminente conquista da marca dos 200 seguidores.
     Tempos difíceis! Quisera eu ter um botão interno "ON-OFF" para a minha inspiração. Assoberbado por múltiplos compromissos, escapuliu-se-me o prazo por entre os dedos; e quando afinal minha pena desentupiu, o aniversário já era e os seguidores, num crescendo admirável, já haviam também derrubado, por muito, a marca histórica.
     Procurei na folhinha qualquer data que servisse de pretexto para a homenagem. Mas o Dia do Artesão já se fora, o do Ceramista também, e o aniversário da própria Acácia estava longe ainda.
     Troquei com a Débora alguns e-mails sobre o assunto e concordamos que qualquer homenagem à Acácia não carecia de "dias de". E assim programamos postagens simultâneas, na data de hoje. Se o amigo leitor for agora ao "Cotidiano Agridoce" (se é que de lá não veio), poderá apreciar a versão da Débora, ou seu trabalho de marketing, que eu adivinho estar 100% doce - sem nada de "agri". Isso se os chiliques do "Blogger" não deram com os nossos burros n'água. Ah, e com certeza a Ana também estará presente em "Como Eu Sou".
     Portanto, Acácia, receba nossas homenagens nesse dia de nada, porque não estamos celebrando a data: estamos celebrando a mulher e mãe maravilhosa que você é - no nosso Cotidiano e no nosso Jardim das Oliveiras. Como é você. Como somos nós. Como eu sou.
* * * * * * * * * *
     Relata o Êxodo, em seus capítulos 25, 26 e 27, a construção e a destinação da Arca da Aliança, do Altar e de outros objetos de culto, e nos diz que a madeira de Cetim foi escolhida, por ser incorruptível. Essa madeira extraordinária é fornecida pela árvore que conhecemos hoje como Acácia.
Imagem enviada por Ma Ferreira - Arte em Cerâmica
ACÁCIA


Tu és a árvore sagrada, forte e bela,
Que das tábuas do Senhor foi guardiã;
Dentre todas as árvores, és aquela
Cuja folha se abre ao beijo da manhã.

Tua flor, seja ela branca ou amarela
É o perfume da palavra do Senhor;
De Cetim foste nomeada, por singela,
De Acácia hoje és chamada, por amor.

E à mulher que de teu nome se recobre
Tu conferes teus poderes divinais
No abraçar firme de uma causa nobre;

És tu, Acácia, a guarda amorosa
Destas filhas que são para ti iguais
E que cantam o teu nome em verso e prosa!

Débora e Ana Letícia
Ma Ferreira
Rodolfo R. Barcellos - Niterói, julho de 2011

sábado, 2 de julho de 2011

Recantos

     A minha amiga Lu lançou, semanas atrás, um desafio aos escrevinhadores de plantão da nossa turma: desenvolver um texto com base numa curta poesia que ela tinha cometido.
Passei. A ideia era interessante, mas eu sempre fiz o contrário - criar poesias a partir de textos. Disse isso a ela; mas sabiamente ela se fez de desentendida e me inscreveu solenemente como participante.
     E agora, José? Não querendo desfeitear a querida amiga (e, confesso, já tentado pelo prêmio) fiz das tripas coração, pulmões, miolos, pena e papel e comecei a rabiscar penosamente as primeiras linhas de uma criatura da qual, a princípio, eu não tinha a mais vaga ideia de como seria...
     Tomei o poema como mote, fiz uma glosa em versos livres e a partir desse núcleo consegui  desenvolver um texto em prosa decente. Eis o poema:


Quando o Camaleão tem Fome

Na alegoria das cores
ouso trocar minha roupa,
dançando sobre
metamorfoses do mimetismo.

No país das árvores
filhas do pau-brasil,
insetos fossilizados
não bastam...

Línguas continuam
vazias....

Barrigas órfãs!


     E eis o texto:


     - O Lacerdão merece o apelido! Parece um lagarto gordo caçando mariposas... - exclamou Basílio.
     - Não entendi a ligação - retrucou a Lourinha.
     "Outra que merece o apelido... Lourinha..." - pensou Basílio. Mas explicou com paciência:
     - "Lacerda" é o nome científico de lagartos, calangos, lagartixas... e o Lacerdão lembra esses bichos, quando troca de roupa depois do expediente e parte para a azaração na Cinelândia, na Lapa ou no baixo Leblon. Você pode até adivinhar em qual desse três lugares ele vai... pelo blazer que ele veste. Tem até um double-face pra mudar de visual conforme a ocasião.
     E o Lacerdão era mesmo um boêmio da pesada. Batido o ponto, ao final do dia, tomava um banho no único chuveiro do banheiro dos funcionários, vestia-se a caráter e ia jantar e prosear com os amigos no boteco do Jabour, remanchando até que o dono baixasse ruidosamente uma das duas portas corrugadas, indicando que era hora de fechar. E lá se ia o nosso herói, em busca das mariposas que abundavam em seus campos de caça.
     Tinha saliva, o moço. Conseguia descontos nas tarifas do sexo fácil, e conhecia os porteiros dos hoteizinhos de alta rotatividade onde abatia as "vítimas" capturadas. E no dia seguinte era o primeiro freguês do Jabour, onde a média e o pão com manteiga do desjejum forravam-lhe o estômago, antes da inevitável narrativa de suas conquistas amorosas da noite. Ô língua comprida!
     Mas uma certa manhã, o Lacerdão voltou da noite mais cedo. Esperou por meia hora até que o Jabour abrisse o "estabelecimento". Macambúzio, mordiscou seu pão com manteiga, bebericou sua média e permaneceu num silêncio soturno e desalentado, até que o Jabour, preocupado, o interpelou:
     - Cumequié, mano véio... e a noite, como foi?
     - Ah, Jabá... que vergonha! Eu achava que soubesse de tudo sobre mulheres... até que conheci a Deca! Linda, jovem, papo cabeça... tava tudo indo bem, até chegar a hora H, no quarto... E foi só então que eu fiquei sabendo!
     - Sabendo o que, homem?
     - Ela não era mariposa coisa nenhuma... era um tremendo bicho-pau!
     E concluiu, desgostoso:
     - É... essa foi de engasgar...


     Semanas depois, não coube em mim de contente ao saber que tinha ganho um dos dois prêmios - um livro de poesias da própria Lu. Este "post" é também um agradecimento e só está saindo agora por conta do envolvimento do "Sete Ramos" na campanha da Márcia pela Mellíss e dos festejos nos "blogs" da Graça (parabéns, Graça! soube que você ganhou o outro prêmio).
     Mas o atraso teve um lado bom: deu azo e prazo para que os recantos da Lu chegassem aos meus. Eis o prêmio:
     É claro que já comecei a ler e lamber os cantos e recantos da Lu; mas a leitura anda meio devagar, por conta de uma coisa grande que causa uma dificuldade pequena e de uma coisa pequena que causa uma dificuldade grande.
     A coisa grande é a profundidade dos pensamentos e das alegorias da autora; e a coisa pequena é o tamanico das fontes usadas na impressão. Ô Lu, maldade! Nas próximas edições deixa de ser mão-fechada nas fontes... o zóio cansado do véio gradece!
     Então, estou lendo aos poucos, e degustando cada poema. Já terminei a primeira batelada ("Pérolas de Maresia") e faço meu comentário resumido:


Meus passos traçam linhas paralelas
Na areia molhada, com os teus;
E lá nossos rastros ficarão pela eternidade
Que existe entre duas marés cheias.


     Pretendo, se não ficar cego, fazer um poeminha desses a cada capítulo lido. Se eu ficar cego, então escreverei a Odisséia e ficarei famoso.


     (Para detalhes - incluindo o texto da Graça - clique no link abaixo:)
http://escritosnamemoria.blogspot.com/2011/06/saiu-o-resultado-da-alquimia-poetica.html